O Ofício de Viver
«Ninguém se mata pelo amor de uma mulher. Matamo-nos porque um amor, não importa qual, nos revela a nós rnesrnos na nossa nudez, na nossa miséria, no nosso estado inerme, no nosso nada.»
Cesare Pavese
«O diário de Pavese é ao mesmo tempo uma técnica poética e um modo de estar no mundo.»
Italo Calvino
«O diário teve uma primeira publicação, póstuma, em 1952, mutilado de algumas partes, constituídas essencialmente por nomes de pessoas e por palavras, frases ou inteiros parágrafos de conteúdo demasiado íntimo e eventualmente chocante, em que o autor exprime em termos muito fortes, grosseiros ou mesmo obscenos, o seu profundo desespero e impotência perante os reveses da sua vida sentimental, perante a sua dificuldade de relacionamento com o sexo oposto. Todas as partes então censuradas estão incluídas na presente edição, constituída pelo texto integral, tal como Pavese o registou no seu diário.
Dado como encerrado pelo autor cerca de uma semana antes da morte, e por ele próprio assinalado pelos limites cronológicos 1935-1950, constitui, assim, a evidência da trágica decisão consciente e antecipadamente tomada (...)»
Da Introdução
| Editora | Relógio d' Água |
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| Categorias | |
| Editora | Relógio d' Água |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Cesare Pavese |
Cesare Pavese nasceu em 1908, na pequena vila italiana de Santo Stefano Belbo. Em 1927 inscreve-se na Faculdade de Letras da Universidade de Turim e inicia pouco depois o seu trabalho de escrita e de tradução de alguns dos mais relevantes autores de língua inglesa do século xx, entre os quais John Steinbeck, William Faulkner e James Joyce. O seu primeiro livro de poesia, Trabalhar Cansa, é revelado em 1936. Combatente antifascista, foi preso e condenado ao degredo, aderindo, depois da guerra, ao Partido Comunista. Em 1947 publica Diálogos com Leucò e em 1949 O Belo Verão, livro que veria distinguido em 1950 com o Prémio Strega. Nesse mesmo ano, e pouco após o lançamento daquele que é considerado o seu romance mais bem-conseguido, A Lua e as Fogueiras, Pavese suicida-se, num quarto de hotel em Turim.
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Diálogos com Leucó“Cesare Pavese, que muitos se obstinam em considerar um teimoso narrador realista, especializado em campos e periferias americano-piemontesas, revela-nos nestes Diálogos um novo aspecto do seu temperamento. Não há escritor autêntico que não tenha as suas luas, o seu capricho, a musa oculta, que de repente o induzem a tornar-se eremita. Pavese lembrou-se de quando andava na escola e do que lia nessa altura: lembrou-se dos livros que lê todos os dias, dos únicos livros que lê. Por um momento deixou de acreditar que o seu totem e tabu, os seus selvagens, os espíritos da vegetação, o assassínio ritual, a esfera mítica e o culto dos mortos, eram esquisitices inúteis, e tentou descobrir neles o segredo de algo que todos recordam, todos admiram de modo um tanto cansado e que encaram bocejando um sorriso. E assim nasceram estes Diálogos.”Cesare Pavese na apresentação editorial da primeira edição deste livro. -
A PraiaDoro casou-se e deixou Turim por Génova. Há muito que não vê o seu melhor amigo, um professor que ficou na sua aldeia natal. Um dia de Verão, de repente, Doro parte para o campo. Tenta convencer-se um dia de que essa visita é mero fruto de saudosismo, mas essa desculpa não engana o seu velho amigo. Juntos visitam os lugares da sua infância e tentam ambos, à sua maneira, escavar os escombros daquela taciturna evasão em busca de um drama íntimo. Intrigado pela inquietude do amigo, o professor volta com ele para junto do mar, investigando continuamente a raiz do que atormenta Doro, sobretudo depois de conhecer a sua mulher, Clelia, uma mulher fascinante. Talvez demasiado fascinante para que o seu casamento tenha sucesso. Um romance intenso e melancólico sobre os sentimentos misteriosos e ambíguos que deixam o ser humano desarmado e só face ao seu destino inevitável. -
A Lua e as FogueirasDepois de vinte anos emigrado na América, um homem regressa à Itália da sua juventude. Percorre os caminhos da aldeia onde viveu ainda rapaz, atravessa os campos e descobre que à sua volta tudo mudou. Tudo menos a paisagem e Nuto, um velho amigo com quem gosta de falar do passado. Ao seu espírito acorrem as imagens de outros tempos, os primeiros amores, as primeiras experiências de vida, mas entretanto outros acontecimentos intervêm, já não recordações, mas a cega loucura do presente, outros fogos que não são já as fogueiras que os camponeses acendiam, mas incêndios provocados pela raiva ou pelo desespero. Romance que precede em poucos meses o suicídio do autor, em 1950, A Lua e as Fogueiras é uma história sobre a passagem do tempo, as cicatrizes que se acumulam no homem e, em contraponto, a impassibilidade da natureza. Um texto que revela em pleno os talentos de Cesare Pavese. -
Virá a Morte e Terá os Teus Olhos«A edição que agora se dá à estampa corresponde à versão integral do último livro de poemas de Cesare Pavese, publicado no ano seguinte à sua morte. Partindo das traduções e introdução que Rui Caeiro fez para O Vício Absurdo, antologia por ele organizada em 1990 nas edições &etc, junta-se, em nova tradução de Rui Miguel Ribeiro, os seis poemas que faltavam para completar as duas sequências poéticas que compõem este livro.» - nota editorial Traduções de Rui Caeiro e Rui Miguel Ribeiro Posfácio de Rui Caeiro -
O Belo VerãoVive-se um verão quente, festivo, leve, e Ginia, de dezasseis anos, anseia por aventura. Conhece então Amelia, jovem sofisticada que se move pelo meio cultural boémio, e com ela descobrirá um mundo novo de liberdade intoxicante, repleto de prazeres reservados apenas àquela estação – andar pelos campos para lá das colinas, abrir as janelas e sentir o perfume da noite, descobrir o que há por detrás de um cortinado vermelho. O Belo Verão é uma história intensa e delicada sobre a perda da inocência e o primeiro amor, narrada por um dos mais talentosos autores italianos do século XX. Escrito na primavera de 1940, mas publicado apenas em 1949, O Belo Verão foi distinguido em 1950 com o Prémio Strega. -
Trabalhar Cansa«A cidade clara assiste aos trabalhos e aos esgares. Nada pode perturbar a manhã.»Rompendo com as correntes dominantes da poesia modernista, Trabalhar Cansa aponta o olhar para os camponeses, os bêbedos, os operários, as prostitutas, os presidiários, conferindo dignidade aos proscritos. Ao ócio aparente destas figuras marginais, opõe-se uma forte atividade interior do poeta que as retrata, alicerçada numa observação minuciosa e desapaixonada do quotidiano, da vivência urbana e da paisagem piemontesa.Publicada em 1936, enquanto Cesare Pavese, antifascista, cumpria pena de degredo em Brancaleone, na Calábria, Trabalhar Cansa é a primeira obra de um dos mais admiráveis escritores italianos do século XX. Alvo de censura por parte do Governo de Mussolini, tornou-se um livro de culto que marcou gerações.Com introdução de Matilde Campilho«Trabalhar Cansa mostra-nos Pavese no início da sua carreira trágica, escrevendo poesia com originalidade corajosa, inteligência e poder.»New York Times «Pavese escreve de maneira densa, mas delicada; o seu estilo é inimitável. E escreve sobre as coisas que importam.»Elizabeth Strout
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O Príncipe da Democracia - Uma Biografia de Francisco Lucas PiresNenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.Em O Príncipe da Democracia, Nuno Gonçalo Poças reconstitui o percurso e as ideias deste homem invulgar, cujo legado permanece em grande parte por cumprir, e passa em revista os seus sucessos e fracassos. O resultado é um livro que, graças à absoluta contemporaneidade do pensamento do biografado, nos ajuda a compreender as grandes questões que o país e a Europa continuam a enfrentar, mostrando-nos, ao mesmo tempo, uma elegância política difícil de conceber quando olhamos hoje à nossa volta.Mais do que um retrato elucidativo de Lucas Pires, que partiu precocemente aos 53 anos, este é um documento fundamental para responder aos desafios do futuro, numa altura em que o 25 de Abril completa meio século. -
A DesobedienteA dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem. -
Emílio Rui VilarMemórias do país da ditadura e do alvor da democracia em Portugal. A vida de Emílio Rui Vilar atravessou as principais mudanças da segunda metade do século XX. Contado na primeira pessoa, um percurso fascinante pelo fim do regime de Salazar e Caetano e pela revolução de Abril.Transcrevendo entrevistas realizadas ao longo de vários meses, este livro recolhe o relato na primeira pessoa de uma trajetória que percorreu o início da contestação ao Estado Novo no meio universitário, a Guerra Colonial, a criação da SEDES, o fracasso da “primavera marcelista” e os primeiros anos do novo regime democrático saído do 25 de Abril, onde Emílio Rui Vilar desempenhou funções governativas nos primeiros três Governos Provisórios e no Primeiro Governo Constitucional. No ano em que se celebram cinco décadas de democracia em Portugal, este livro é um importante testemunho sobre dois regimes, sobre o fim de um e o nascimento de outro. -
Oriente PróximoCom a atual guerra em Gaza, este livro, Oriente Próximo ganhou uma premente atualidade. A autora, a maior especialista portuguesa sobre o assunto, aborda o problema não do ponto de vista geral, mas a partir da vida concreta das pessoas judeus, árabes e outras nacionalidades que habitam o território da Palestina. Daí decorre que o livro se torna de leitura fascinante, como quem lê um romance.Nunca se publicou nada em Portugal com tão grande qualidade. -
Savimbi - Um homem no Seu MartírioSavimbi foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e acções encobertas de segurança com o objectivo de o desacreditar e isolar. Se não aceitasse o exílio ou a sujeição, como foi o objectivo falhado dessa campanha, o fim último era matá-lo, como aconteceu: premeditadamente! Para que a sua «morte em combate» não suscitasse empatia, foi como um chefe terrorista da laia de Bin Laden que a sua morte foi apresentada – artifício da propaganda que tirou partido da memória emocional recente dos atentados da Al Qaeda, na América. Julgado com honestidade, Savimbi nunca foi o «bandido» por que o fizeram passar. O manifesto apreço que personalidades de indiscutível clareza moral, como Mandela, tiveram por ele prova-o. O MPLA elegeu-o como adversário temido e quis apagá-lo do seu caminho! Não pelos crimes a que o associaram. O que o MPLA e o seu regime temiam eram as suas qualidades e carisma, a sua representatividade política e o prestígio externo que granjeara. Como outros grandes da História, Savimbi também tinha defeitos e cometia erros. Mas no deve e haver as suas qualidades eram preponderantes." -
Na Cabeça de MontenegroLuís Montenegro, o persistente.O cargo de líder parlamentar, no período da troika, deu-lhe o estatuto de herdeiro do passismo. Mas as relações com Passos Coelho arrefeceram e o legado que agora persegue é outro e mais antigo. Quem o conhece bem diz que Montenegro é um fiel intérprete da velha tradição do PPD, o partido dos baronatos do Norte. Recusou por três vezes ser governante e por duas vezes foi derrotado em autárquicas. Já fez e desfez alianças, esteve politicamente morto e ressuscitou. Depois de algumas falsas partidas chegou à liderança. Mas tudo tem um preço e é o próprio a admitir que se questiona com frequência: será que vale a pena? -
Na Cabeça de VenturaAndré Ventura, o fura-vidas.Esta é a história de uma espécie de Fausto português, que foi trocando aquilo em que acreditava por tudo o que satisfizesse a sua ambição. André Ventura foi um fura-vidas. A persona mediática que criou nasceu na CMTV como comentador de futebol. Na adolescência convertera-se ao catolicismo, a ponto de se tornar um fundamentalista religioso. Depois de ganhar visibilidade televisiva soube pô-la ao serviço da sua ambição de notoriedade. Passou pelo PSD e foi como candidato do PSD que descobriu que havia um mercado eleitoral populista e xenófobo à espera de alguém que viesse representá-lo em voz alta. Assim nasceu o Chega. -
Contra toda a Esperança - MemóriasO livro de memórias de Nadejda Mandelstam começa, ao jeito das narrativas épicas, in media res, com a frase: «Depois de dar uma bofetada a Aleksei Tolstói, O. M. regressou imediatamente a Moscovo.» Os 84 capítulos que se seguem são uma tentativa de responder a uma das perguntas mais pertinentes da história da literatura russa do século XX: por que razão foi preso Ossip Mandelstam na fatídica noite de 1 de Maio de 1934, pouco depois do seu regresso de Moscovo? O presente volume de memórias de Nadejda Mandelstam cobre, assim, um arco temporal que medeia entre a primeira detenção do marido e a sua morte, ou os rumores sobre ela, num campo de trânsito próximo de Vladivostok, algures no Inverno de 1938. Contra toda a Esperançaoferece um roteiro literário e biográfico dos últimos quatro anos de vida de um dos maiores poetas do século XX. Contudo, é mais do que uma narrativa memorialística ou biográfica, e a sua autora é mais do que a viúva mítica, que memorizou a obra proibida do poeta perseguido, conseguindo dessa forma preservar toda uma tradição literária. Na sua acusação devastadora ao sistema político soviético, a obra de Nadejda Mandelstam é apenas igualada por O Arquipélago Gulag. O seu método de composição singular, e a prosa desapaixonada com que a autora sonda o absurdo da existência humana, na esteira de Dostoievski ou de Platónov, fazem de Contra toda a Esperança uma das obras maiores da literatura russa do século XX.