Pandemia – 27 Poemas Brasileiros
A tragédia e a grande poesia anunciada, de Álvaro Alves de Faria
Aqui o poema nasce no coração que para.
O poeta e jornalista Álvaro Alves de Faria, assim nos revela na poesia cortante, qual uma adaga que fere e assombra. Neste impactante livro PANDEMIA 27 POEMAS BRASILEIROS, não há espaço para construções linguísticas, diz o poeta, pois os mortos não têm o tempo para morrer e a poesia está a serviço das dores mais fundas, dos horizontes sem lua, das respirações ofegantes e do chiado da asma dos incrédulos.
Já no segundo poema, OS GAFANHOTOS – a oitava praga do Egito – as nuvens dos repugnantes insetos qual a passagem bíblica, representam o vírus ora presente que nos envolve, mata, e nos cala na solidão das casas fechadas. “ Percorrem as cabeças mortas / empilhadas no corredor / onde homens de branco falam palavras mudas / e mulheres carregam seringas para as camas.”
O poeta nos induz ao apocalipse. O fim do mundo brasileiro, que tem por infeliz destino um “rei”, um comandante cínico que joga propositadamente seu país/navio contra os rochedos, e se regozija com a matemática crescente do morticínio. “ Faz um discurso e bebe um copo de leite nazista” E o “rei” diz, a dar de ombros “ e daí?”
Enquanto as mãos vazias acenam para o nunca mais, sem a despedida solene das exéquias, “ as pequenas cruzes azuis” estão “ a marcar um lugar qualquer / no mapa brasileiro da enorme solidão”. Nestes poemas, tudo é desalento e verdade. “ As coisas se partem como se caíssem de uma mesa/ e tudo se derrama como soluços derradeiros/ que escorrem da boca”.
No poema 27, o poeta Álvaro parece nos dizer que está asfixiado pela dor do mundo.
Contudo, nos revela imenso na grandeza de sua humana poesia, que remete àqueles mais desvalidos. Os habitantes do sereno frio da cidade, que tossem sob o concreto dos viadutos. As inúmeras mulheres órfãs, aqui representadas por uma Magaly qualquer, que choram nas portas das igrejas e “ que se nega a continuar sem ti”, o seu marido de triste fim. “ Vitima dos gafanhotos voadores verdes / quando trabalhava na tua oficina/ e não sabias dessa dor mais próxima / apesar de teu medo”.
PANDEMIA, 27 POEMAS BRASILEIROS, é, sem dúvida, a obra que melhor traduz poeticamente o momento dramático no qual nos afundamos e tentamos submergir. Alta e pura poesia. E, apesar do poeta tentar não se deter aos valores estéticos, as melodias mais tristes perpassam seus versos de rara imaginação e de extraordinária e pungente beleza.
Denise Emmer
Poeta e musicista - Rio de Janeiro
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Álvaro Alves de Faria escribe sobre una pandemia que ha generado meses de un dolor inabarcable, sin adentrarnos en las durísimas penurias económicas que muchos vienen padeciendo, especialmente en su Brasil, donde un líder inepto propaga sandeces mientras aumenta el calibre de la sinrazón. Poeta notable y siempre a contracorriente, Faria desata su fraternidad y ofrece su voz a los congéneres que padecen los estragos de la enfermedad o de las carencias sanitarias. Que otros sigan con su silencio en bruto, pero Faria opta por donarnos versos doblemente verdaderos y contundentes, propicios para nutrirnos con ciertas porciones de esperanza.
Alfredo Pérez Alencart
Universidad de Salamanca
| Editora | Palimage |
|---|---|
| Coleção | Coleção Palavra Poema |
| Categorias | |
| Editora | Palimage |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Álvaro Alves de Faria |
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AlmaflitaSeus livros são terríveis documentos de nosso tempo; documentos, não documentários. A vida recriada pelo ficcionista e poeta poderoso que é Álvaro Alves de Faria espelha a realidade cruel, monstruosa de nossos dias infames, de um tempo maldito. Quase posso dizer que voltei a mim, das trevas do medo, da ameaça, do terror, com a leitura de seus poemas. Nesta poesia, encontrei a respiração quando chegava da asfixia e da morte. Jorge Amado -
DesviverNeste livro de poemas Álvaro Alves de Faria constrói e desconstrói o nosso Desviver, com a dor profunda de quem perdeu a antiga doçura. É a afirmação mais significativa de sua trajetória poética. Um apelo sincero a sensibilidade. Sem dúvida, o limiar de um novo ciclo que se abre agora em sonoros significados, que nos remetem também a auto-reflexão. Efeito consciente na construção dos versos, na busca da palavra certa, nos focos de sonoridade ampla, na relação vida e transformações identificadas ao longo do caminho. É como se o poeta estivesse de volta de um longo percurso e, pleno de símbolos, nos indicasse a sobreposição do que foi e do que poderia ser entendido. É de se ver e notar a profundidade de informações com possibilidade histórica, num revezamento representativo dentro da própria obra. Desviver marcará a trajetória do grande poeta que, sem dúvida alguma, entrará na constelação mais ampla da poética universal. Miguel Jorge Escritor Brasileiro -
23 Elegias da Mão Esquerda"A poesia me feriu a vida inteira, mas também me fez viver". Álvaro Alves de Faria
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NovidadeTal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
NovidadeNocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
NovidadeAlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira
