Polaroide
Disseram às mãos que a boca
perdeu a fala,
o nome a escolher fora dissolvido em saliva,
uma única flor perdida no campo
já submerso.
E qualquer flor é uma peça de joalharia
esquecida algures.
A paisagem cresce na minha cabeça;
no corpo aberto, quem virá bater à porta?
| Editora | Húmus |
|---|---|
| Coleção | 12catorzebold |
| Categorias | |
| Editora | Húmus |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Miguel Marques |
Miguel Marques escreveu o romance Cada Vez Mais Forte o Sino (BookBuilders 2017).
Nasceu no Porto em 1971, vive em Vila do Conde.
Continua com intensa atividade na associação cultural Cabe Cave.
Prepara o terceiro volume da trilogia do Édipo, dedicado ao derradeiro Édipo em Colono de Sófocles, invertida a ordem cronológica das fábulas (Rei Édipo, Édipo em Colono, Antígona). Conta-se a redenção possível do ser trágico no confronto interior de Isaac Lobo; a falhada passagem ao divino prevista no texto original. Agora o tempo marca-se alternativo num mesmo espaço, repete-se, quando necessário, evitando a libertação última pelo suicídio. Ao contrário de Édipo, Isaac não sai transfigurado na sua aproximação ao fim, nem tenta justificar os seus crimes pela simples razão de não os ter cometido, quando a sua mácula é herdada por contaminação. Nem esse fim está destinado a Isaac Lobo.
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PuniçãoA história clássica de «Antígona» recontada nos dias de hoje a revelar a eternidade da tragédia.Segundo de uma trilogia de romances que recriam, nos dias de hoje, os dramas clássicos: depois de em «Cada Vez Mais Forte o Sino», um recontar do «Rei Édido», agora é a vez de «Antígona».Estamos na Tebas das sete portas, numeradas as sete partes desta «Punição», pois é disso que se trata, não havendo lugar para vencedor e vencido quando todos perdem, por ser assim o trágico. Portas encontradas na Ode ao Homem cantada pelo coro; também aqui o alcance da filosofia (a primeira porta), da música (a terceira porta), da física quântica (a quinta), da poesia (sexta), mas também o hedonismo (a segunda porta), a contaminação pelo canibalismo (quarta porta), e a sociedade distópica (sétima e derradeira porta).É sobejamente conhecida a história de tão comentada e explorada, talvez mais do que qualquer outra. Mas o que fica da famosa fábula neste livro quando o importante não é Antígona ou Creonte, nem os irmãos Polinices e Etéocles? Tudo sendo apenas meios para cumprir o desenrolar da inevitabilidade, na Tebas entre Vila velha de Tão Pouco e a cidade do Porto, repetindo personagens ou versões de uma mesma coisa.E qual o crime praticado por qualquer uma dessas várias Antígonas do livro? Esse horrível crime que só uma mulher praticaria. Mas com isto que não se espere encontrar a versão feminista de Antígona, nem mesmo um helenismo romântico ao gosto de modas, ou a Antígona presente em cada um de nós tal como Kierkegaard o fez, ou, até, o exagero do divino quando Hegel nos leva a colocá-la acima de Jesus Cristo na sua entrega à morte. Não é disto que se trata e, ao mesmo tempo, é tudo isto. -
Canto de TebasCapítulo perdido de uma outra obra, poesia de um personagem de um romance...Capítulo não publicado na íntegra no romance Punição (BookBuilders, 2019), o segundo volume da trilogia de Édipo, onde apenas surge o primeiro poema, alinhando os possíveis versos escritos por Isaac Lobo, personagem tornada central na fabulação edipiana escrita por Miguel Marques e iniciada com o romance Cada Vez Mais Forte o Sino (BookBuilders 2017).Com a sua estrutura triádica, com um Primeiro mover seguido de um Segundo mover (movimentos em palco e com sentidos opostos, executados pelo coro dividido enquanto entoava as antigas odes) e encerrando com o Epodo onde o coro canta a uma só voz e estático ao centro, Isaac faz uso dos hinos compostos pelo pai juntando-lhes a palavra.Se na abertura do Primeiro mover é a figura da mulher-mãe a base do canto, ao longo da obra e já seguro que no Segundo mover é a mulher-esposa que toma posse das obsessões quotidianas de Isaac, que o tornam refém, com a sua poesia imaginada ou imaginário poético de um possível heterónimo do seu autor. Isaac Lobo, o homem da ciência, o professor de física, mas também da cultura clássica e da religiosidade crescente, cumprindo a transfiguração contada por Sófocles no seu Édipo em Colono, levando a apontar a verdade oculta que neste livro quase é revelada, a da conclusão da trilogia com o romance O Elefante passou aqui a noite.O que é isto? O que é? Consigo senti-lo de novo.O que poderá ser isto? É o sangue que páraquando deve correr, será isso? Arrefece-me o corpo nu.Puseram-me um lençol, até a cabeça me taparam.E na cabeça tantas mordidelas de células a quererem dizer basta.O que é isto? Que exaltação éesta que no entanto me apazigua?Para onde me leva?Tudo cessa. Tudo foi. -
Ilhas a VaporCom o calor, a mãe abre o poema sobre o mar para que adormeça de uma só vez. Será um corpo de mármore aquecido mais o seu bafo raiado de branco, hausto morno de cicatrizes e irrequietos minerais, arquipélago de versos. -
Cabeça, Pescoço, PenínsulaDiz o que escondes nas cavernas do pensamento, o que gravas com olhar iluminado em osso escuro. A trave mestra das frases que sustentam a minha passagem quando engulo palavras para que não as diga, palavras que tento dominar e escrevo esplêndida, ainda deitado na caverna húmida. Diz o que escreves devagar, erguendo as mãos às suas paredes de fumo espesso, onde desenhas labirintos na memória fazendo com que muita coisa se perca de vez, mas não sabendo bem o quê.
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira