Ponta Gea
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É a primeira e mais persistente lembrança: a água como substância da cidade. Uma água quieta, no mangal como nos capinzais, nos tandos de arroz e nos baldios urbanos cuja noite o monótono som dos grilos trespassava; insidiosa também, na onda paciente que escavava a areia grossa e se espraiava até lamber a raiz torturada das casuarinas, enchendo os corvos de maus presságios e de indignação; e avassaladora, nas chuvadas súbitas e no ar carregado que toldava o horizonte e nos pesava, derrotados, sobre os ombros. Uma água cálida onde nadam todos, aqueles de cujo rasto ainda a espaços me vou apercebendo, e os outros, os que vogam em círculos como peixes aprisionados no aquário do esquecimento.
| Editora | Editorial Caminho |
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| Categorias | |
| Editora | Editorial Caminho |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | João Paulo Borges Coelho |
João Paulo Borges Coelho é escritor e historiador moçambicano. Ensina História Contemporânea de Moçambique e África-Austral na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Tem-se dedicado à investigação das guerras colonial e civil em Moçambique, assim como às questões de segurança regional no sul de África e à política da memória. Recebeu em 2004, com o romance As Visitas do Dr. Valdez, o Prémio José Craveirinha da Literatura, a maior distinção literária em Moçambique. Com O Olho de Hertzog recebeu o Prémio Leya 2009. Em 2022 o seu romance, O Museu da Revolução recebeu o Prémio Oceanos 2022, 2.º lugar. A sua obra literária inclui romances, contos e novelas.
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Água: uma novela ruralRyo e Laama passam metade do tempo a sondar as entranhas da natureza, a outra metade a discutir a interpretação dos resultados. A ciência é uma esforçada leitura paralela, as coisas seguem o seu curso cego, imunes às interpelações. A natureza é um misterioso veículo em movimento deixando sacerdotes e cientistas em terra, ocupados ainda assim na tentativa de determinar o rumo da viagem! Volúvel até mais não, Ryo é a favor da deriva (concluída uma interpretação, apresta-se a abraçar uma outra). Isso exaspera Laama, mais consistente na obsessão de desnudar os fumos primordiais. Não é no princípio que está o segredo!, diz Ryo. Tão-pouco no crescimento ou na viagem!, responde Laama, para quem os dados desde há muito estão lançados. Para ti o homem sábio repete o que dizia quando era criança!, resmunga Ryo. Para ti o homem sábio é uma criança!, retorque Laama. Discutem, hoje, a água. Ou melhor, a falta dela, que aquilo que outrora era um pesado e líquido cordão não passa hoje de um tortuoso arabesco, um ralo e frágil cabelo de velho. No fundo, repetem sempre a mesma discussão. -
Ponta GeaÉ a primeira e mais persistente lembrança: a água como substância da cidade. Uma água quieta, no mangal como nos capinzais, nos tandos de arroz e nos baldios urbanos cuja noite o monótono som dos grilos trespassava; insidiosa também, na onda paciente que escavava a areia grossa e se espraiava até lamber a raiz torturada das casuarinas, enchendo os corvos de maus presságios e de indignação; e avassaladora, nas chuvadas súbitas e no ar carregado que toldava o horizonte e nos pesava, derrotados, sobre os ombros. Uma água cálida onde nadam todos, aqueles de cujo rasto ainda a espaços me vou apercebendo, e os outros, os que vogam em círculos como peixes aprisionados no aquário do esquecimento. -
As Visitas do Dr. ValdezTendo como pano de fundo o final de um império e o nascimento de um país, esta é a história do ocaso de duas velhas senhoras e do crescimento de um rapaz. Fechados numa pequena casa, esforçam-se os três - cada um à sua maneira - por construir uma família fora do tempo e das convenções. Mas são muitos, e fortes, os sinais que entram pelas janelas para dar sabor às suas vidas. Vindos de fora e também de trás, no tempo. Entre um passado denso e um futuro que é uma incógnita, surge um Dr. Valdez tocando à campainha para lhes estruturar os diálogos. -
EbookO Olho de HertzogO que procura Hans Mahrenholz, um oficial alemão que se faz passar por empresário e jornalista inglês, nas ruas da Lourenço Marques de 1919, ainda no rescaldo da Grande Guerra? E por que não assume a sua verdadeira identidade? E por que procura desesperadamente um mulato com nome grego e uma longa cicatriz? E como o pode ajudar um dos mais famosos jornalistas dessa cidade, um mestiço assimilado e carismático? Hans Mahrenholz (ou Henry Miller) chega ao norte de Moçambique num zepelim e é largado de pára-quedas, sozinho, em plena selva, com a missão de se juntar ao contingente do general Lettow. Consegue-o. Mas todo o resto da campanha militar é assombrada pela estação das chuvas, a floresta virgem, a malária e os confrontos com os exércitos inglês e português. Quando chega a Lourenço Marques, Hans já não é o herói ingénuo e corajoso que se juntou a Lettow. É uma personagem misteriosa com uma missão misteriosa... -
EbookRainhas da NoiteUm caderno achado num mercado de rua em Maputo transporta-nos para a pequena vila de Moatize, no centro de Moçambique, e para o tempo recuado em que uma empresa belga ali explorava uma mina de carvão. Sob o olhar atento de um polícia, Annemarie estende a sua rede de espiões, Agnès necessita desesperadamente de um piano, Suzanne deixa-se enlouquecer aos poucos e Maria Eugénia não sabe o que fazer. Tudo isso num tempo em que, embora brilhando no alto, o sol não ilumina. Entretanto, nos dias enevoados de Maputo, num futuro distante, um velho faz o que pode para se libertar da carga que esse passado lhe depositou nos ombros magros. Conta para tal com uma inesperada ajuda.Ver por dentro: -
EbookÁgua ? Uma Novela RuralRyo e Laama passam metade do tempo a sondar as entranhas da natureza, a outra metade a discutir a interpretação dos resultados. A ciência é uma esforçada leitura paralela, as coisas seguem o seu curso cego, imunes às interpelações. A natureza é um misterioso veículo em movimento deixando sacerdotes e cientistas em terra, ocupados ainda assim na tentativa de determinar o rumo da viagem!Volúvel até mais não, Ryo é a favor da deriva (concluída uma interpretação, apresta-se a abraçar uma outra). Isso exaspera Laama, mais consistente na obsessão de desnudar os fumos primordiais. ?Não é no princípio que está o segredo!?, diz Ryo. ?Tão-pouco no crescimento ou na viagem!?, responde Laama, para quem os dados desde há muito estão lançados. ?Para ti o homem sábio repete o que dizia quando era criança!?, resmunga Ryo. ?Para ti o homem sábio é uma criança!?, retorque Laama.Discutem, hoje, a água. Ou melhor, a falta dela, que aquilo que outrora era um pesado e líquido cordão não passa hoje de um tortuoso arabesco, um ralo e frágil cabelo de velho. No fundo, repetem sempre a mesma discussão.Ver por dentro: -
HinyambaanPara as famílias Odendaal e du Plessis aproxima-se a costumada e conjunta viagem de férias. Mas, este ano, à última da hora, os du Plessis, sabe-se lá por que motivo, decidiram não viajar. Nada que impeça o casal Odendaal e os seus dois filhos de partir para «Hinyambaan», com toda a bagagem necessária, no seu velho Corolla. A viagem da África do Sul para Moçambique, na companhia de Djika-Djika, um jovem da comunidade local, expedito e arguto, a quem dão boleia a meio do percurso, promete ser atribulada e emocionante. Será que chegam a Inhambane para as tão desejadas e repousantes férias?... João Paulo Borges Coelho é escritor e historiador moçambicano. Professor de História Contemporânea na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Recebeu em 2004, com o romance "As Visitas do Dr. Valdez", o Prémio José Craveirinha da Literatura, a maior distinção literária em Moçambique. Com o romance "O Olho de Hertzog" recebeu o Prémio Leya 2009. -
Campo De TrânsitoJ. Mungau é detido e levado para o Campo de Trânsito, onde fica a aguardar transferência para um lugar definitivo. Será que a escolha desse lugar depende de algo que Mungau possa fazer? Ou, pelo contrário, o seu destino está marcado de antemão? João Paulo Borges Coelho é escritor e historiador moçambicano. Professor de História Contemporânea na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Recebeu em 2004, com o romance "As Visitas do Dr. Valdez", o Prémio José Craveirinha da Literatura, a maior distinção literária em Moçambique. Com o romance "O Olho de Hertzog" recebeu o Prémio Leya 2009. -
Crónica Da Rua 513.2"Umas vezes deserto inóspito, outras um mar revolto, a Rua 513.2 oscila de um extremo ao outro sem encontrar serenidade. Todavia, se fosse tirada uma média a esses dois estados ela não passaria de uma rua normalíssima Na Rua 513.2, o Inspector Monteiro, o Doutor Pestana e dona Aurora, o mecânico Marques, a velha prostituta Arminda de Sousa e alguns outros, emergem do passado para interferir nos dias dos vivos. Por outro lado, sob o olhar atento de Filimone Tembe, o Secretário do Partido, esses mesmos vivos fazem o que podem para que as suas vidas avancem. Vendem enquanto há o que vender, como o louco Valgy ou a incansável Judite; apelam ao conselhos de retratos pendurados na parede, como o empresário Pedrosa, pescam peixes forjados, como Teles Nhantumbo; lêem cadernos que escondem histórias de outros tempos enquanto reparam automóveis quase inexistentes, como Zeca Ferraz; combatem no mato, como o Comandante Santiago; ou distribuem pelos vizinhos aquilo que lhes chega às mãos, como Josefate Mbeve, que no fundo segue à risca as directivas do Presidente Samora Machel e tenta fazer do socialismo uma realidade. Até que um dia chegam novos fantasmas para ocupar o lugar dos antigos, e as coisas começam a mudar." João Paulo Borges Coelho é escritor e historiador moçambicano. Professor de História Contemporânea na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Recebeu em 2004, com o romance "As Visitas do Dr. Valdez", o Prémio José Craveirinha da Literatura, a maior distinção literária em Moçambique. Com o romance "O Olho de Hertzog" recebeu o Prémio Leya 2009. -
Índicos Indícios II - MeridiãoEste segundo volume dos Índicos Indícios abre com uma aventura passada no extremo sul, onde se acaba a terra conhecida. Alguns náufragos desesperados e exangues defrontam os da terra, chefiados pelo férulo Guijana, o homem dos três dentes. Felizmente que há um chá misterioso para serenar os ânimos. João Paulo Borges Coelho é escritor e historiador moçambicano. Professor de História Contemporânea na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. Recebeu em 2004, com o romance "As Visitas do Dr. Valdez", o Prémio José Craveirinha da Literatura, a maior distinção literária em Moçambique. Com o romance "O Olho de Hertzog" recebeu o Prémio Leya 2009.