Somos Todos Famosos – Pop Hollywood Warhol Stars
Segundo a hipótese que pretendemos formular, o cinema — e em grande medida as imagens, práticas e mitos que Hollywood desencadeou e ainda hoje alimenta — constitui um modelo definidor da especificidade cultural do século XX, através da conjugação entre a singularidade de uma experiência pessoal, que suscita, e a dimensão genérica ou universal, que possui.
[…]
O início do século XX ficou marcado pelo brilho intenso das estrelas de Hollywood, cuja capacidade de atracção — assente numa permanente tensão entre proximidade e distância, único e comum — determinou o modo como pensamos a identidade.
Contudo, as próprias condições que haviam possibilitado o star-system acabariam por ditar a sua transformação e metamorfose, com um tendencial desaparecimento do modelo clássico tradicional. Os retratos de celebridades, as pinturas de objectos quotidianos ou os filmes de Andy Warhol dão conta de um princípio de equivalência generalizada, associado à cultura de massas, o qual implicou uma indiferenciação entre o excepcional e o banal.
Estava aberto o caminho para uma nova forma de vedetariado (o vedetariado de massas onde qualquer um pode ser uma estrela) e para uma outra tipologia da subjectividade (nem específica nem genérica, mas resultante de um processo de design). Em simultâneo, o lugar da antiga estrela de cinema foi sendo ocupado pelo futebolista-star cuja capacidade de atracção planetária vai muito para além das suas capacidades performativas em sentido estrito.
E no entanto, apesar de todas estas transformações — ou, sobretudo, através delas —, continuamos a precisar do brilho das estrelas — e possivelmente continuamos a aspirar a ser uma estrela — porque essa é uma das matérias de que é feito o nosso imaginário e é através deste que moldamos a nossa identidade e as nossas relações com as condições reais de existência.
[Alexandre Melo]
| Editora | Documenta |
|---|---|
| Categorias | |
| Editora | Documenta |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Alexandre Melo |
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Aventuras no Mundo da ArtePese embora possíveis dificuldades na definição de conceitos como “arte”, “autor” ou mesmo “artista” é necessário, para os que desejam aceder às aventuras no mundo da arte, que se conheçam algumas noções. A esta intricada tarefa se propõe Alexandre Melo, logo no início do seu livro, para em seguida discorrer sobre a aventura desse conjunto de pessoas a que “denominamos” artistas e os objectos a que chamamos “arte”. Por Jasper Johns e Cindy Sherman, a “mulher das mil máscaras”, por Amos Pon e Robert Wilson passam as reflexões de Alexandre Melo, tornando Aventuras no Mundo da Arte um livro indispensável para todos os que procuram encontrar os seus artistas. -
Sistema da Arte Contemporânea«Numa apresentação genérica e simplificada podemos distinguir três dimensões de funcionamento do sistema da arte contemporânea: uma dimensão económica, uma dimensão cultural e uma dimensão política. É a manifestação interligada destas diferentes dimensões que precisamente constitui o sistema. [ ] A natureza global deste sistema deve ainda ser situada no contexto mais amplo da dinâmica de um processo de globalização que constitui uma das dinâmicas fundamentais da evolução das sociedades e do mundo contemporâneo.» [ ] «O que é que vai determinar aquilo que é ou não é arte numa determinada sociedade? O que vai determinar se um objecto é ou não é arte e qual é o seu lugar no conjunto dos objectos artísticos é um consenso informal que surge no decurso de um processo em que a aceitação e divulgação de tal ou tal objecto como obra de arte e a correspondente valorização comparativa se vão alargando desde um pequeno círculo localizado ou especializado até abranger virtualmente o conjunto de uma sociedade ou mesmo, actualmente, de todas as sociedades, isto é, o mundo. Se um objecto é consensualmente comentado, transaccionado e exposto como se fosse uma obra de arte, então ele é, na sociedade e na situação dadas, uma obra de arte. Independentemente da sua conformidade em relação a uma qualquer definição do que seja obra de arte ou mesmo da própria existência de qualquer enunciado explícito dessa definição.» A.M. -
Arte e Poder na Era GlobalSistema das artes é a expressão que adoptamos para designar o conjunto de relações entre as práticas e as dimensões económicas e institucionais da sua inserção no âmbito das práticas culturais (em sentido lato) e das práticas sociais em geral. Chamamos práticas criativas ao conjunto das artes consagradas pela tradição da história das artes, sem excluir (mas também sem ignorar as especificidades de) outras actividades criativas que assumiram uma recente tendencial inclusão no - ou candidatura ao - estatuto artístico (é o caso da fotografia, arquitectura ou design, em sentido lato). [ ] Olhando para os sistemas das artes de um modo que nos permita descrever, de forma genérica, as suas configurações, neste início do século XXI, detectamos um conjunto de características que julgamos poder tomar como ponto de partida e para as quais escolhemos as designações que a seguir enunciamos. Globalização, em termos de tendência histórica. Segmentação e hierarquização, em termos de estruturas de produção. Pluralismo e relativismo, em termos de discursos de legitimação. Experimentação, eclecticismo e transdisciplinaridade, em termos de processos de trabalho. Mediação generalizada, em termos de modo de inserção social. Explicaremos o que entendemos por cada uma destas noções, dando também, de modo não exaustivo, alguns exemplos da forma como se manifestam em diferentes áreas da produção artística, designadamente, cinema, música, artes do espectáculo, artes plásticas ou literatura. [Alexandre Melo] -
Triunfo da Crise EconómicaUm espectro assola a Europa e o mundo: o espectro da crise. Há uma espécie de horror à palavra «crise». [ ] A realidade é que só há, sempre e só, crise. A vida é liberdade. A liberdade é luta pela liberdade porque (todos?) os seres humanos querem aquilo que querem e para poderem tentar obter aquilo que querem precisam de liberdade e por isso lutam pela liberdade para poderem lutar por aquilo que querem. A menos que não queiram nada ou nunca tenham pensado no assunto, o que torna a vida (ou seja a luta, a crise) mais fácil para os outros. Mas é difícil encontrar pessoas que pelo menos não queiram respirar, comer, beber, coisas de cariz sexual [ ] e ainda mais algumas coisas. As consequências do facto de a vida social dos seres humanos ser o conjunto das acções das pessoas empenhadas em fazer aquilo que querem são igualmente evidentes. Não é possível todas as pessoas fazerem tudo o que querem porque muitos não sabem o que querem (a cabeça é fraca, ou seja, o sistema nervoso humano é muito complexo) e porque essa imensidade de coisas queridas pelas pessoas contém uma imensidade de desejos incompatíveis. Por isso a vida é liberdade. A liberdade é luta. A luta é crise. O «capital» é a liberdade. A «luta de classes» é liberdade. O problema é a definição de «classe», mas esse é um outro problema. Transferindo estas reflexões singelas para o terreno da economia e do pensamento económico a constatação primordial é igualmente simples. As pessoas tendem a querer mais, embora seja sempre bem vindo, até pela sua raridade, o contributo (cristão?) daqueles que por ventura já estejam satisfeitos, ou queiram menos ou nada. [ ] Todos querem mais. «Everybody wants money. Thats why they call it money». «Não há dinheiro. Qual das palavras desta frase é que não percebem?». Não há nem nunca vai haver dinheiroque chegue. Para designar todas estas coisas óbvias utilizam-se, segundo as diferentes tradições do pensamento económico dos séculos passados, palavras e expressões como «liberdade de escolha», «luta de classes» ou «capital». São sinónimos e designam apenas a evidência do facto de a vida económica ter a forma de crise. Só há crise. [Alexandre Melo]
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As Lições dos MestresO encontro pessoal entre mestre e discípulo é o tema de George Steiner neste livro absolutamente fascinante, uma sólida reflexão sobre a interacção infinitamente complexa e subtil de poder, confiança e paixão que marca as formas mais profundas de pedagogia. Baseado em conferências que o autor proferiu na Universidade de Harvard, As Lições dos Mestres evoca um grande número de figuras exemplares, nomeadamente, Sócrates e Platão, Jesus e os seus discípulos, Virgílio e Dante, Heloísa e Abelardo, Tycho Brahe e Johann Kepler, o Baal Shem Tov, sábios confucionistas e budistas, Edmund Husserl e Martin Heidegger, Nadia Boulanger e Knute Rockne. Escrito com erudição e paixão, o presente livro é em si mesmo uma lição magistral sobre a elevada vocação e os sérios riscos que o verdadeiro professor e o verdadeiro aluno assumem e partilham. -
Novo Iluminismo RadicalNovo Iluminismo Radical propõe um olhar crítico e uma atitude combativa face à credulidade do nosso tempo. Perante os discursos catastrofistas e solucionistas que dominam as narrativas e uniformizam as linguagens, Marina Garcés interpela-nos: «E se nos atrevêssemos a pensar, novamente, na relação entre saber e emancipação?» Ao defender a capacidade de nos auto‑educarmos, relança a confiança na natureza humana para afirmar a sua liberdade e construir, em conjunto, um mundo mais habitável e mais justo. Uma aposta crítica na emancipação, que precisa de ser novamente explorada. -
Um Dedo Borrado de Tinta - Histórias de Quem Não Pôde Aprender a LerCasteleiro, no distrito da Guarda, é uma das freguesias nacionais com maior taxa de analfabetismo. Este livro retrata a vida e o quotidiano de habitantes desta aldeia que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever. É o caso de Horácio: sabe como se chama cada uma das letras do alfabeto, até é capaz de as escrever uma a uma, mas, na sua cabeça, elas estão como que desligadas; quando recebe uma carta tem de «ir à Beatriz», funcionária do posto dos correios e juntadora de letras. Na sua ronda, o carteiro Rui nunca se pode esquecer da almofada de tinta, para os que só conseguem «assinar» com o indicador direito. Em Portugal, onde, em 2021, persistiam 3,1% de analfabetos, estas histórias são quase arqueologia social, testemunhos de um mundo prestes a desaparecer. -
Sobre a Ganância, o Amor e Outros Materiais de ConstruçãoTextos de Francisco Keil do Amaral sobre o problema da habitação 1945-1973. Francisco Keil do Amaral (1910-1975), arquitecto português, com obra construída em Portugal e no estrangeiro, destacou-se com os grandes projectos para a cidade de Lisboa de parques e equipamentos públicos, dos quais se destacam o Parque de Monsanto e o Parque Eduardo VII. Foi também autor de diversos artigos que escreveu para a imprensa, obras de divulgação sobre a Arquitectura e o Urbanismo - "A arquitectura e a vida" (1942), "A moderna arquitectura holandesa" (1943) ou "Lisboa, uma cidade em transformação" (1969) - e livros de opinião e memórias - "Histórias à margem de um século de história" (1970) e "Quero entender o mundo" (1974). Apesar da obra pública projectada e construída durante o Estado Novo, Keil do Amaral foi um crítico do regime. Alguns dos textos mais críticos que escreveu e proferiu em público foram dedicados ao Problema da Habitação, título do opúsculo publicado em 1945 que reproduz o texto de uma palestra dada em 1943, e que surge novamente no título da comunicação que faz no 3º Congresso da Oposição Democrática em 1973. São dois dos textos reproduzidos nesta pequena publicação que reúne textos (e uma entrevista) de diferentes períodos da vida de Keil do Amaral. Apesar da distância que medeia os vários textos e aquela que os separa do presente, o problema da habitação de que fala Keil do Amaral parece ser constante, e visível não apenas em Lisboa, seu principal objecto de estudo, como noutras zonas do país e globalmente. -
Problemas de GéneroVinte e sete anos após a sua publicação original, Gender Trouble está finalmente disponível em Portugal. Trata-se de um dos textos mais importantes da teoria feminista, dos estudos de género e da teoria queer. Ao definir o conceito de género como performatividade – isto é, como algo que se constrói e que é, em última análise uma performance – Problemas de Género repensou conceitos do feminismo e lançou os alicerces para a teoria queer, revolucionando a linguagem dos activismos. -
Amor LíquidoA misteriosa fragilidade dos laços humanos, os sentimentos que esta fragilidade inspira e a contraditória necessidade de criar laços e, ao mesmo tempo, de os manter flexíveis são os principais temas deste livro. Bauman analisa assim o modo como a nossa era, que ele designa por modernidade líquida, ameaça a capacidade de amar e os crescentes níveis de insegurança, tanto nas relações amorosas como nas familiares, e até no convívio social com estranhos. Zygmunt Bauman é considerado um dos mais atentos observadores das contradições do mundo actual. -
Redes Sociais - Ilusão, Obsessão e ManipulaçãoAs redes sociais tornaram-se salas de convívio global. A amizade subjugou-se a relações algorítmicas e a vida em sociedade passou a ser mediada pela tecnologia. O corpo mercantilizou-se. O Instagram é uma montra de corpos perfeitos e esculpidos, sem espaço para rugas ou estrias. Os influencers tornaram-se arautos da propagação do consumo e da felicidade. Nas redes sociais, não há espaço para a tristeza. Os bancos do jardim, outrora espaços privilegiados para as relações amorosas, foram substituídos pelo Tinder. Os sites de encontros são o expoente de uma banalização e superficialidade de valores essenciais às relações humanas. As nudes são um sinal da promoção do corpo e da vulgarização do espaço privado. Este livro convida o leitor para uma viagem pelas transformações nas relações de sociabilidade provocadas pela penetração das redes sociais nas nossas vidas. O autor analisa e foca-se nos novos padrões de comportamento que daí emergem: a ilusão da felicidade, a obsessão por estar ligado e a ligeireza como somos manipulados pelos gigantes tecnológicos. Nas páginas do livro que tem nas mãos é-lhe apresentada uma visão crítica sobre a ilusão, obsessão e manipulação que ocorre no mundo das redes sociais. -
Temas de Ética - Reflexões e DesafiosPassado o tempo das revoluções, em que a brutalidade do sangue derramado era o próprio sustento das mudanças […] estamos a viver uma verdadeira revolução cultural, que é insidiosa, mas persistente e com não menor profundidade. Muitas decisões, com fortíssimas implicações sociais, pessoais e até civilizacionais, são tomadas sem uma reflexão consistente que mobilize a inteligência e a cultura nos limites do possível. Vivemos uma inundação de um relativismo frequentemente imediatista, aceite tantas vezes por inércia ou incapacidade de produzir pensamento. Surgem novas ideologias que rapidamente se tornam moda como que preenchendo um vácuo em tantos que, na correria barulhenta, deixam atrás de si e dentro de si um rasto de quase nada. […]A ética, mais ainda que o direito que ela própria devia inspirar, tem de continuar a ser o alicerce fundador da cidade. A ética, tantas vezes arredada das decisões, tem de ser convocada sempre. Precisamos de parar. Precisamos de silêncio que permita ouvir a voz do pensamento. Este livro é um apelo e um apego à lucidez. […]António Bagão FélixVários