A Guerra Santa
«Daumal identifica poema com mantra, fórmula sonora destinada, tal como a oração do Hesicasmo e a música sacra, a trazer de volta incessantemente o nosso olhar para o centro intolerável da nossa solidão.
[…]
Este poeta santo, na sua complexa simplicidade, rejeitava a apologética de um catolicismo modernista e sentimental, mas compunha, com austeridade e delicadeza, comentários cristianíssimos ao Livro de Horas, de Estienne Chevalier; rejeitava a psicanálise e toda a espécie de neo-espiritualismos, mas compunha poemas subterrâneos e espirituais, em combate e ascese (A Guerra Santa é um desses poemas); e disse não aos marxistas porque negam a mística; e disse não aos surrealistas porque crêem na mística sem nela ter fé misticamente.»
António Barahona
| Editora | Assírio & Alvim |
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| Coleção | Gato Maltês |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | René Daumal |
René Daumal (Boulzicourt, 1908 - Paris, 1944) foi escritor, poeta, ensaísta e tradutor. Aos 6 anos é assaltado pela ideia de morte e pela angústia do absolutamente nada. Estas preocupações não lhe oferecem tréguas, e no início da adolescência, vê-se diante de outro dos seus maiores terrores: o desconhecido. Durante esta época leva a cabo um variado número de experiências numa tentativa de compreender a morte, os estados do sono e os diferentes níveis de consciência. Com estas experiências intui um outro mundo onde o pensamento supera os limites da linguagem discursiva. Em 1927 funda com Roger Gilbert-Lecomte, Roger Vaillant e Robert Meyrat, o movimento de investigação literária e filosófica Le Grand Jeu. Deste movimento surge uma revista com o mesmo nome, e na qual Daumal edita os primeiros poemas e ensaios. Logo no primeiro número o grupo manifesta a intenção de colocar todas as coisas em questão e de acreditar em todos os milagres. Daumal afasta-se do movimento Le Grand Jeu por volta de 1931, ao conhecer Alexandre de Salzmann, que lhe apresenta a escola do famoso «taumaturgo» e mestre espiritual Georgi Gurdjieff. O seu pensamento místico e modelo de conhecimento esotérico cativaram-no imediatamente. Grande admirador de Alfred Jarry, dedica-se à «ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as excepções» e «ao que está acima do que está além da física», publicando, entre 1934 e 1935, diferentes escritos patafísicos. Em 1936, é aclamado pela crítica com o livro de poesia O Contra-Céu.
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O Contra-CéuO Contra-Céu, conjunto de poemas reunidos e publicados durante a vida do autor, fala-nos sobre a possibilidade de uma morte programática, para a partir desta entender o que é o sujeito e a Vida. Neste livro, Daumal convida-nos a entrar num processo de regeneração a partir da negação de modo a alcançarmos a Palavra Primordial. Escrito aos 22 anos e editado em 1936, O Contra-Céu foi imediatamente aclamado pela crítica, levando-o a ganhar o Prémio Jacques Doucet, atribuído por André Gide, Paul Valéry e Jean Giraudoux. -
A Grande Bebedeira«A Grande Bebedeira , único romance de René Daumal publicado em vida do autor, começou a ser escrito em Nova Iorque, (...) em 1932-33. (...) A par da reflexão subjectiva e do desejo de transformação interior, está presente ao longo de todo o relato uma visão da sociedade da época, a sua crítica, e o desejo de a ver transformar-se. Deste ponto de vista, é particularmente interessante o panorama que nos é dado do mundo cultural, científico, religioso e político. (...) Trata-se de um romance muito centrado na realidade, mas onde esta é descrita de forma surrealista, num tom humorístico e paródico, com grande imaginação e um domínio total da língua e da linguagem, como é característico no estilo de Daumal.»Lurdes Júdice (2016) in "Apresentação" -
O Monte Análogo[…] é preciso sublinhar que este é um livro inacabado, o que em si não parece extraordinário: outros, nessa condição, puderam aceder ao cânone literário. Contudo, O Monte Análogo é o seu inacabamento. É certo que o desaparecimento de Daumal determina o estado final do manuscrito. Mas poderia uma tal narrativa ver o seu fim? Mais do que o simples facto biográfico, e porque tudo n’O Monte Análogo é questão de movimento, a interrupção do fio textual parece indiciar uma transposição da acção nele proposta; ou, melhor dito, uma renovação dos fios que aí prendem a acção ao discurso. Tudo isso se espelha, aliás, no que o próprio romance diz das origens do Monte e do seu povoamento: quase nada que não seja a continuidade de um impulso imemorial. Daí que, em vez de dar para uma ausência e uma incerteza, a inconclusão do texto pareça transportar consigo muitos dos movimentos que o ritmam, assegurando-lhes essa progressão lenta e segura que se adopta quando se estão a dar os primeiros passos de uma longa ascensão. Até dominarem essa passada, as personagens terão de aprender a «sinonímia da queda física e da queda moral» (Bachelard). As fendas dos glaciares vêm recordar ao alpinista, na terrível simplicidade do sonho de queda, essa angústia que lhe é necessária eque o prepara para uma tal viagem. Como parece inevitável, O Monte Análogo é a manifestação de uma relação ambígua com a grande tradição da viagem ocidental presente na Odisseia ou n’Os Lusíadas, para dar alguns exemplos seminais. Ela perpassa no texto, mas é constantemente objecto de uma translação onde a própria percepção cosmológica muda progressivamente de figura. Evidentemente, Daumal não será o único poeta do século XX a captar a difícil posição daquele que sonha partir.[Jorge Leandro Rosa]
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira
