A Vida na Terra
O que realmente interessa a PVC é aquilo que está nas entrelinhas, o que não se lê ou diz mas é demasiado perceptível.
Interessam-lhe os mecanismos de controlo, as relações de poder, a subjugação permanente, ainda que subversiva, do outro.
O efeito de paralaxe em que frequentemente vivem as suas peças é a pedra-de-toque de um discurso que se constrói sobre uma lógica de intervalo, de lacuna e de antecipação — o pré-conceito como dispositivo. Interessa-lhe, basicamente, a forma de contar, a história e os elementos no seu interior, por esta ordem.
O que parece estar sempre em cena, ou em causa, é o corpo, em rigor o único barómetro mensurável, o único lugar comum e último reduto da individualidade e da diferença — o lugar de todas as formas de dominação. A natureza, a animalidade, a caça, a guerra, são, finalmente, formas de (des)figuração de um medo original, de uma dobra escondida: o outro em nós. Porque, afinal, «o inferno são os outros».
[Nuno Faria]
Encontrarmo-nos perante uma obra de Pedro Valdez Cardoso é permitirmo-nos responder ao desafio do cruzamento e da dissolução, conscientes de que, dos vários processos de justaposição que vai promovendo na dinâmica construtiva própria do seu trabalho podem resultar momentos de maravilhamento que carregam sempre um peso, lembrando-nos que por detrás de uma máscara está sempre um rosto que é ele próprio, simultaneamente, sempre uma máscara.
[Ana Anacleto]
| Editora | Documenta |
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| Categorias | |
| Editora | Documenta |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Pedro Valdez Cardoso |
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Cross-Cultural«[ ] Em determinados momentos históricos mandou-se imprimir um padrão comemorativo desse mesmo acontecimento como forma de celebração. Como o tecido tem esta ligação histórica memorativa e está associado a formas mais ou menos explícitas de exercícios de poder, decidi criar esculturas baseadas numa iconografia também ela associada ao poder. É aqui que surgem as cabeças de animais / troféus exóticos e a heráldica, que depois eu desconstruo pela forma como essa iconografia é reconstruída, através do uso de objectos quotidianos e precários, tais como latas de cerveja, cascas de banana ou meias.» -
História da Vida PrivadaA linguagem destes inumeráveis géneros de coisas assemelha-se ao lixo que as marés lançam à praia ou aos ramos secos das podas que ao longo de um Verão se acumularam e aguardam os dias chuvosos do Outono para que possam arder numa queimada. Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Pedro Valdez Cardoso: História da Vida Privada» que teve lugar na Galeria 111, Lisboa, entre 11 de Novembro e 30 de Dezembro de 2017. Plásticos, sob a forma de alguidares, ossos, vegetais… Madeira, sisal, cartão, linhas, cartolina, tecido, silicone, papel fotográfico, mapas, borracha, papel-manteiga, esferográfica, cordão, fita adesiva, papel químico, cimento, couro, latas de alumínio, cerâmica, cabelo artificial, porção de rocha, vidro, pano turco, esferovite, tela, napa, marcadores… Materiais por onde se desenvolve e amplifica a criatividade na obra de Pedro Valdez Cardoso. E estarei longe de os ter esgotado. Eles são o instrumento por onde a sua arte percorre, interiorizando, em cada objecto que nos propõe, pensamentos sobre a conexão entre os instintos e um psiquismo que não se querem limitados nem pelo tempo nem pelo espaço e que evocam um aparentemente perdido mundo real. [...] O silêncio percorre quase sempre o trabalho de Valdez Cardoso. Um silêncio de mármore. Podemos tocá-lo. Liso. Profundo. Como se fosse a passagem de uns dedos sobre o nosso rosto, discretos. São obras de grande solidão aquelas com que nos deparamos, porque um círculo longínquo protege-as. Fogem da nossa inquietação, à semelhança de aves migratórias, que vivendo na distância dos céus ao modo de todas as aves, partem para um país longínquo na busca de um novo e outro silêncio. [João Miguel Fernandes Jorge] -
No Meio do Caminho Tinha um Osso, Tinha um Osso no Meio do CaminhoVemos sempre, e apenas, uma secção, uma parte do mapa. O que não está mapeado é desconhecido. Este livro foi publicado por ocasião da exposição «No meio do caminho tinha um osso, tinha um osso no meio do caminho», de Pedro Valdez Cardoso, realizada pela Galeria Bessa Pereira e apresentada na Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa, entre 6 e 31 de Março de 2018 A exposição «No meio do caminho tinha um osso, tinha um osso no meio do caminho» de Pedro Valdez Cardoso reúne um conjunto de trabalhos realizados entre 2004 e 2018 que nunca tinham sido mostrados juntos. Podendo ser considerados como uma única série ampla, estas obras têm em comum um fascínio do artista pelo Árctico e pela construção de mapas, bem como uma forte presença de um imaginário arqueológico. Na sua maioria desenhos, viajam ao passado, a um passado mitológico e fictício, para nos proporem uma reflexão sobre o período em que vivemos hoje, no qual a actividade humana interferiu dramaticamente com o planeta e os seus ecossistemas. Serão os mapas de Valdez Cardoso vestígios do passado ou visões do futuro? [...] Valdez Cardoso cria novos mapas, novas narrativas ficcionadas. Sem intenções de os tornar em verdades universais, apropria-se de ferramentas e discursos protocientíficos, mascara-os e infunde-os com elementos de fantasia e de imaginação. Reconhece também o poder simbólico e evocativo destes objectos e a sua capacidade de corporalizar a história e a memória. Aqui, o artista suspende o tempo e a verdade histórica, geográfica e antropológica para explorar o mistério e o desconhecido com inscrições de territórios que nunca existiram. Estes desenhos têm também a característica de serem visões parciais e já bastante deterioradas pelo tempo. Vemos sempre, e apenas, uma secção, uma parte do mapa. O que não está mapeado é desconhecido. Território dos dragões. [Filipa Oliveira] -
Frutos e OssosSem que lhe falte a meditação melancólica sobre a finitude humana, a extinção e as ruínas, a instalação Frutos e Ossos será talvez uma forma indirecta de reflectir sobre a possibilidade de imaginar de novo e de actualizar a esperança e a capacidade de agir no nosso próprio tempo. Este livro foi publicado por ocasião da exposição Frutos e Ossos, realizada na Galeria águas livres 8, em Lisboa, de 11 de Abril a 11 de Maio de 2019. «A presente instalação consiste numa constelação de vários grupos de peças que representam formas orgânicas, naturais e de criação humana — frutos, legumes, vários objectos de uso quotidiano como garrafas, talheres e pratos, e também ossos humanos e de animais. A natureza familiar e muitas vezes botânica dos objectos que compõem a instalação insere-a na tradição pictórica de cenas de mercado e interiores de cozinha, especialmente populares nos Países Baixos durante o século XVII. […] Estas cenas, que geralmente procuravam representar riqueza e abundância ou os meses do ano e o ciclo das estações (e da vida), incorporavam igualmente sugestões eróticas, evocando a fertilidade e certas partes do corpo humano. […] A representação escultural dos frutos feita por Valdez Cardoso não possui a sensualidade voluptuosa das representações do passado. De facto, tanto o processo da corrupção como o potencial regenerativo que pairava por trás da ameaça da putrefacção desapareceram por completo. […] Sem que lhe falte a meditação melancólica sobre a finitude humana, a extinção e as ruínas, a instalação Frutos e Ossos será talvez uma forma indirecta de reflectir sobre a possibilidade de imaginar de novo e de actualizar a esperança e a capacidade de agir no nosso próprio tempo. Logo, pareceria um convite a repensar e alterar activamente as nossas opções globais enquanto colectivo humano. Em vez de cultivarmos uma ética de desprendimento, como habitualmente defende a antiga disciplina ascética do memento mori, somos antes de mais nada encorajados a renovar o nosso olhar e a respirar outra vez a vida, revigorando a vibrante policromia da sensualidade, convivência e voluptuosidade nas nossas existências interligadas. Estamos certamente a lidar aqui com uma espécie de memento vivere.» Katherine Sirois -
Mão no Fogo«O que Pedro Valdez Cardoso nos propõe é a tomada de consciência dos equívocos da imagem, dos equívocos da linguagem, dos equívocos da História, dos equívocos do tempo e do espaço [...].»Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Mão no Fogo», de Pedro Valdez Cardoso, com curadoria de Nuno Sousa Vieira, que teve lugar no Centro de Arte e Imagem – Galeria do IPT, em Tomar, entre 7 de Março e 19 de Maio de 2019.«Mão no Fogo apresenta-se, neste contexto, como uma aparente evocação de um esforço na perpetuação desta condição de elevação, que é construída num diálogo entre um corpo estereotipado e uma chama que corrobora e permite ao Homem a ascensão à condição de Deus. Mas, por descuido ou aviso divino, esse corpo é reconduzido à sua condição de humano, quando ao sentir o aumento da temperatura que a chama lhe provoca, ele consciencializa a dor. Tal como sucedeu a Ícaro, quanto maior é a subida, mais violenta se configura a queda. A luva que protegia a mão enegreceu, perdeu o viço e foi vaticinada à solidão eterna.É este aparente acontecimento mítico que se dilui nas mais insignificantes práticas do quotidiano, que entendo ser uma das questões basilares em toda a prática de Pedro Valdez Cardoso. Na sua obra as grandes epopeias resvalam nos mais singelos acontecimentos. E a chama sagrada, não deixando de o ser, é usada no quotidiano quer para iluminar o espaço, quer para nos aquecer nos tempos de frio, ou ainda para nos proteger dos animais, sejam eles uma águia invertida com uma visão abrangente, ou os pés amarrados da besta, que assim nos permite continuar a manter-nos em segurança. [...]Em Mão no Fogo, tal como acontece em muitas das obras de PVC, a escuridão não é necessariamente o oposto da claridade, do mesmo modo que a alta cultura não se opõe à baixa cultura. A justaposição, seja por alternância ou por fusão, é a palavra de ordem e, por mais rigoroso que seja o cumprimento de um cânone, dificilmente conseguimos referenciar esse facto quando estamos perante o que poderá ser entendido, neste contexto, como o âmago do próprio corpo, ou seja, o seu esqueleto.»Nuno Sousa Vieira
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Arte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teodósio de Bragança, 1578-1601D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora entre 1578 e 1602, foi um grande mecenas das artes sob signo do Concílio de Trento. Fundou o Mosteiro de Scala Coeli da Cartuxa, custeou obras relevantes na Sé e em muitas paroquiais da Arquidiocese, e fez encomendas em Lisboa, Madrid, Roma e Florença para enriquecer esses espaços. Desenvolveu um novo tipo de arquitectura, ser- vindo-se de artistas de formação romana como Nicolau de Frias e Pero Vaz Pereira. Seguiu com inovação um modelo «reformado» de igrejas-auditório de novo tipo com decoração integral de interiores, espécie de ars senza tempo pensada para o caso alentejano, onde pintura a fresco, stucco, azulejo, talha, imaginária, esgrafito e outras artes se irmanam. Seguiu as orientações tridentinas de revitalização das sacrae imagines e enriqueceu-as com novos temas iconográficos. Recuperou lugares de culto matricial paleo-cristão como atestado de antiguidade legitimadora, seguindo os princípios de ‘restauro storico’ de Cesare Baronio; velhos cultos emergem então, caso de São Manços, São Jordão, São Brissos, Santa Comba, São Torpes e outros alegadamente eborenses. A arte que nasce em Évora no fim do século XVI, sob signo da Contra-Maniera, atinge assim um brilho que rivaliza com os anos do reinado de D. João III e do humanista André de Resende. O livro reflecte sobre o sentido profundo da sociedade de Évora do final de Quinhentos, nas suas misérias e grandezas. -
A Antropologia da ArteRobert Layton proporciona-nos uma leitura agradável e autorizada, como introdução à riqueza e diversidade das formas de arte nas sociedades não ocidentais. Equaciona os problemas da avaliação estética através da diversidade de culturas, os variados usos da arte e a questão fundamental que é a arte nas sociedades em evolução, dos reinos tradicionais da África Ocidental (com o seu artesanato específico no uso de metais preciosos) aos caçadores-recolectores australianos (com as suas pinturas de areia e de ornamentação corporal). As formas aqui debatidas incluem as pinturas em casca de árvore, areia ou rocha, as esculturas de marfim, osso e madeira, a fundição de latão, as máscaras bem como a decoração das casas e ornamentações corporais. A compreensão do significado destas diversas produções exige a compreensão dos contextos culturais que as envolvem. Layton relaciona as produções artísticas particulares com os rituais, os mitos e o poder. -
A Invenção da Moda - As Teorias, os Estilistas, a HistóriaEstá disponível em pdf a Introdução. Arte & ComunicaçãoArte e Comunicação representamdois conceitos inseparáveis.Deste modo, reúnem-se na mesma colecçãoobras que abordam a Estética em geral,as diferentes artes em particular,os aspectos sociológicos e políticos da Arte, assim como a Comunicação Social e os meios que ela utiliza.Tirania do presente, para uns, linguagem por direito próprio, para outros, a moda desempenha um papel importante na sociedade, sendo por isso objecto de estudo de diversas disciplinas.Esta obra traça a complexa teia de causas na origem e difusão da moda, Entre elas contam-se o aparecimento de uma sociedade aberta, o cosmopolitismo e uma nova atitude mental que privilegia o gosto pelo que é novo. -
Laocoonte - Ou Sobre as Fronteiras da Pintura e PoesiaLaocoonte ou sobre as Fronteiras da Pintura e Poesia (1766), obra fundadora da estética moderna, moldou desde a sua publicação debates em torno da crítica e da teoria da percepção, influenciando áreas como a teoria da literatura e a história de arte. Estudo sobre o famoso grupo escultórico, provavelmente do século II a.C. - que retrata o suplício do sacerdote troiano e dos seus filhos, episódio narrado por Vergílio na Eneida -, Laocoonte foi um dos primeiros ensaios a abordar a natureza da poesia, como arte do tempo, e da pintura, como arte do espaço, traçando os seus limites, diferenças e domínios específicos, ao mesmo tempo que operou uma verdadeira libertação do ut pictura poesis horaciano.Laocoonte, numa prosa eloquente e de finíssima ironia, continua a suscitar vivas reflexões sobre o sentido da experiência artística. -
Desenhos de Mestres Europeus em Coleções Portuguesas II - Itália e PortugalOs tesouros escondidos e pouco apreciados dos desenhos antigos de mestres, em coleções públicas e privadas portuguesas, foram apresentados ao público europeu em 2000-2001 com a exposição Desenhos dos Mestres Europeus em Coleções Portuguesas, organizada pelo Centro Cultural de Belém (CCB), Lisboa, e realizada no Museu Fitzwilliam, Cambridge; no CCB; no Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto (com versão reduzida exposta no Prado, em Madrid, em 2002). Passadas duas décadas, é tempo de dar a conhecer a uma nova geração a vitalidade da tradição de colecionar desenhos de antigos mestres em Portugal, prática que remonta ao início do século XVI, e que hoje é ainda mais vibrante do que em muitos outros países europeus. (...) a seleção inclui aquisições recentes feitas pelo Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, incluindo obras de Carlo Maratti e Giovanni Battista Merano, além de um terceiro desenho de Polidoro da Caravaggio. Não existe melhor testemunho da vitalidade da tradição de colecionar e do contínuo interesse pelos desenhos dos Antigos Mestres em Portugal. -
Siza DesignUma extensa e pormenorizada abordagem à obra de design do arquiteto Álvaro Siza Vieira, desde as peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria ou de ourivesaria, até às luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos, apresentando para cada uma das cerca de 150 peças selecionadas uma detalhada ficha técnica com identificação, descrição, materiais, empresa distribuidora e fotografias, e integrando ainda um conjunto de esquissos originais nunca publicados e uma entrevista exclusiva ao arquiteto.CoediçãoArteBooks DesignCoordenação Científica + EntrevistaJosé Manuel PedreirinhoDesign GráficoJoão Machado, Marta Machado -
Bonecos de Barcelos - Identidade, Tradição e Criação ArtísticaA cerâmica figurativa de Barcelos constitui uma das mais belas e intrigantes manifestações da cultura e da identidade portuguesas. Delirante, quase alucinada, parece confirmar a cada boneco, a cada esgar dos seus desorbitados olhos, a ideia segundo a qual as mãos dos artesãos das freguesias de Galegos São Martinho e Galegos Santa Maria possuem um misterioso poder demiúrgico, singular ao ponto de combinar as mais arreigadas manifestações de religiosidade com figuras de feição pagã, quase demoníacas.Se o galo de Barcelos se transformou há muito num dos mais incontestáveis ícones do nosso país, o gene criativo surgido com a figura tutelar de Rosa Ramalho tem sido contraído e mantido por sucessivas gerações das famílias Ramalho, Côta e Mistério, apenas para referir os expoentes máximos desta manifestação artística.Seja pelo seu exotismo excêntrico — ao mesmo tempo infantil, expressionista e monstruoso —, ou pela sua pura condição de arte, os bonecos de Barcelos têm atraído o interesse de inúmeros colecionadores ou de simples devotos daqueles mistérios. Foi também esse o caso dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez, docentes da nossa Faculdade de Arquitetura e obreiros da coleção de 600 peças que em 2022 doaram ao Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.A exposição que acolhemos no edifício-sede da reitoria e a produção deste catálogo, que doravante documentará o rigor e a riqueza daquela coleção, constituem, pois, um gesto de reconhecimento e de gratidão, mas também a manifestação de um compromisso: ao zelo, à dedicação, à confiança e à generosidade dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez, retribuirá a Universidade do Porto com a firme determinação de tudo fazer para preservar e continuar a divulgar o extraordinário acervo que nos legaram.António de Sousa Pereira, Reitor da Universidade do PortoVários
