Albertine, o Continente Celeste
Gonçalo Waddington (Lisboa, 1977) é ator, encenador, realizador, dramaturgo e argumentista. Frequentou o Curso da Escola Profissional de Teatro de Cascais, tendo iniciado a sua carreira no teatro, em 1995, no Teatro Experimental de Cascais. Como ator, tem trabalhado com inúmeros encenadores como, Luís Miguel Cintra, Tonan Quito, Cristina Carvalhal, Tiago Rodrigues, Jorge Silva Melo, entre outos. Colaborou com companhias como o Mundo Perfeito, os Primeiros Sintomas, o Teatro Meridional, Teatro da Cornucópia ou Artistas Unidos. No teatro escreveu e encenou Albertine, o Continente Celeste e a tetralogia O Nosso Desporto Preferido. Colaborou com a companhia holandesa Dood Paard nas peças Answer Me de Gerardjan Rijnders e TheJew de Christopher Marlowe.
No cinema, escreveu e realizou o filme PATRICK, a estrear em 2020, e escreveu, produziu e realizou as curtas-metragens NUNHUM NOME, que teve a sua estreia internacional no Festival de Cine Las Palmas de Gran Canaria e IMACULADO, que teve estreia na competição internacional no Indie´13.
Para televisão co-criou, co-escreveu e co-protagonizou da série ODISSEIA, para a RTP e protagonizou a série Até Amanhã Camaradas de Joaquim Leitão, e, mais recentemente, Teorias da Conspiração, de Manuel Pureza.
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O Nosso Desporto Preferido: presenteO Nosso Desporto Preferido é uma tetralogia escrita e encenada por Gonçalo Waddington em que o autor propõe uma reflexão sobre a nossa evolução como espécie universal. A primeira parte da obra, com o título Presente , tem um elenco de cinco actores, encabeçado por um cientista misantropo que sonha com a criação de uma espécie humana livre das necessidades básicas como a alimentação, a digestão e, talvez a característica mais importante para a peça, a reprodução - tornando-se assim uma espécie exclusivamente dedicada ao hedonismo e à abstracção, seguindo, de acordo com a sua visão, o caminho da evolução natural da nossa civilização tipo 0 para tipo 1, em que seremos finalmente uma sociedade global, multicultural, multiétnica e científica. O espectáculo estreou no Teatro Nacional Dona Maria II a 09 de Junho de 2016, no âmbito do Festival Alkantara. -
O Nosso Desporto Preferido - Futuro DistanteÀ semelhança de Shakespeare, Molière ou Brecht, que encenavam o que escreviam, tendo os dois primeiros também interpretado, Gonçalo Waddington tem à disposição os mecanismos para manipular os seus postulados temático-teatrais, atenuando ou agravando a tendência actual de uma "escrita periférica" para uma "cena-eixo". Este segundo tempo de O Nosso Desporto Preferido - Futuro Distante, que sucede ao Presente do mesmo título e ainda à sua primeira e impressionante peça Albertine, O Continente Celeste, centrada em Recherche... de Marcel Proust, continua o desenvolvimento de um vocabulário imagético, formal, técnico, pouco habitual na escrita para palco dos últimos anos, entre nós. Desviando-se do caminho mais flagrante das Humanidades, de pendor mais romantizado ou mais ensaístico, Waddington ancora a sua ficção naquele campo que nos habituámos a chamar "divulgação científica", ou seja, o que ressalta do conhecimento compreensível (e passível de ser divulgado) dos códigos e cifras do processo científico e de alguns ex-libris da sua já respeitável história como género. (…) A trama de onde surge esta escrita, e por consequência este teatro, vem de um outro local, de uma outra atenção, de uma outra escuta do mundo, mas que inevitavelmente se cruza com os reflexos da sua tradição, a saber: a mitologia, a tragédia, a epopeia dramatizada, a consciência brechtiana da mecânica teatral, também o vernáculo de Aristófanes, o "coninho" de Bocage, os simpósios dos Lusíadas, o mundo-como-sexo-e-representação de Michel Houellebecq e a metafísica cómica de Woody Allen. Neste cruzamento sui generis é-nos oferecido um teatro que espanta pela sua fluidez, pelo prazer de o ver jogado de um modo tão líquido, que - centrado aparentemente num coeficiente formal de habilidade indiscutível - se afirma na sua dramatização do humano pelas tangentes que faz ao entendimento do que é esse humano. -
O Nosso Desporto Preferido - Futuro próximoGonçalo Waddington mergulha uma vez mais no tema do porvir, refletindo sobre a nossa evolução como espécie universal em O Futuro Próximo. Esta terceira parte da tetralogia O Nosso Desporto Preferido traz de novo as personagens que começaram a saga, mas agora bastante mais velhas e vivendo rodeadas das comodidades necessárias para fintar a morte. Mas é precisamente a morte o que elas desejam. O seu único objetivo é perceber como e onde falharam. Se conseguirem, poderão preparar-se para o suicídio coletivo medicamente assistido - o derradeiro passo para a eternidade.
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Os CavaleirosOs Cavaleiros foram apresentados nas Leneias de 424 por um Aristófanes ainda jovem. A peça foi aceite com entusiasmo e galardoada com o primeiro lugar. A comédia surgiu no prolongamento de uma divergência entre o autor e o político mais popular da época, Cléon, em quem Aristófanes encarna o símbolo da classe indesejável dos demagogos. Denunciar a corrupção que se instaurou na política ateniense, os seus segredos e o seu êxito, eis o que preocupava, acima de tudo, o autor. Discursos, mentiras, falsas promessas, corrupção e condenáveis ambições são apenas algumas das 'virtudes' denunciadas, numa peça vibrante de ritmo que cativou o público ateniense da época e que cativa o público do nosso tempo, talvez porque afinal não tenha havido grandes mudanças na vida da sociedade humana. -
Atriz e Ator Artistas - Vol. I - Representação e Consciência da ExpressãoNas origens do Teatro está a capacidade de inventar personagens materiais e imateriais, de arquitetar narrativas que lancem às personagens o desafio de se confrontarem com situações e dificuldades que terão de ultrapassar. As religiões roubaram ao Teatro as personagens imateriais. Reforçaram os arquétipos em que tinham de se basear para conseguirem inventariar normas de conduta partilháveis que apaziguassem as ansiedades das pessoas perante o mundo desconhecido e o medo da morte.O Teatro ficou com as personagens materiais, representantes não dos deuses na terra, mas de seres humanos pulsionais, contraditórios, vulneráveis, que, apesar de perdidos nos seus percursos existenciais, procuram dar sentido às suas escolhas.Aos artesãos pensadores do Teatro cabe o desígnio de ir compreendendo a sua função ao longo dos tempos, inventando as ferramentas, esclarecendo as noções que permitam executar a especificidade da sua Arte. Não se podem demitir da responsabilidade de serem capazes de transmitir as ideias, as experiências adquiridas, às gerações vindouras, dando continuidade à ancestralidade de uma profissão que perdura. -
As Mulheres que Celebram as TesmofóriasEsta comédia foi apresentada por Aristófanes em 411 a. C., no festival das Grandes Dionísias, em Atenas. É, antes de mais, de Eurípides e da sua tragédia que se trata em As Mulheres que celebram as Tesmofórias. Aristófanes, ao construir uma comédia em tudo semelhante ao estilo de Eurípides, procura caricaturá-lo. Aristófanes dedica, pela primeira vez, toda uma peça ao tema da crítica literária. Dois aspectos sobressaem na presente caricatura: o gosto obsessivo de Eurípides pela criação de personagens femininas, e a produção de intrigas complexas, guiadas por percalços imprevisíveis da sorte. A somar-se ao tema literário, um outro se perfila como igualmente relevante, e responsável por uma diversidade de tons cómicos que poderão constituir um dos argumentos em favor do muito provável sucesso desta produção. Trata-se do confronto de sexos e da própria ambiguidade nesta matéria. -
A Comédia da MarmitaO pobre Euclião encontra uma marmita cheia de ouro, esconde-a e aferra-se a ela; passa a desconfiar de tudo e de todos. Entretanto, não se apercebe que Fedra, a sua filha, está grávida de Licónides. Megadoro, vizinho rico, apaixonado, pede a mão de Fedra em casamento, e prontifica-se a pagar a boda, já que a moça não tem dote. Euclião aceita e prepara-se o casamento. Ora acontece que Megadouro é tio de Licónides. É assim que começa esta popular peça de Plauto, cheia de peripécias e de mal-entendidos, onde se destaca a personagem de Euclião com a sua desconfiança, e que prende o leitor até ao fim. «O dinheiro não dá felicidade mas uma marmita de ouro, ao canto da lareira, ajuda muito à festa» - poderá ser a espécie de moralidade desta comédia a Aulularia cujo modelo influenciou escritores famosos (Shakespeare e Molière, por exemplo) e que, a seguir ao Anfitrião, se situa entre as peças mais divulgadas de Plauto. -
O Teatro e o Seu Duplo«O Teatro e o Seu Duplo, publicado em 1938 e reunindo textos escritos entre 1931 e 1936, é um ataque indignado em relação ao teatro. Paisagem de combate, como a obra toda, e reafirmação, na esteira de Novalis, de que o homem existe poeticamente na terra.Uma noção angular é aí desenvolvida: a noção de atletismo afectivo.Quer dizer: a extensão da noção de atletismo físico e muscular à força e ao poder da alma. Poderá falar-se doravante de uma ginástica moral, de uma musculatura do inconsciente, repousando sobre o conhecimento das respirações e uma estrita aplicação dos princípios da acupunctura chinesa ao teatro.»Vasco Santos, Posfácio -
Menina JúliaJúlia é uma jovem aristocrata que, por detrás de uma inocência aparente esconde um lado provocador. Numa noite de S. João, Júlia seduz e é seduzida por João, criado do senhor Conde e noivo de Cristina, a cozinheira da casa. Desejo, conflitos de poder, o choque violento das classes sociais e dos sexos que povoam aquela que será uma noite trágica. -
Os HeraclidasHéracles é o nome do deus grego que passou para a mitologia romana com o nome de Hércules; e Heraclidas é o nome que designa todos os seus descendentes.Este drama relata uma parte da história dos Heraclidas, que é também um episódio da Mitologia Clássica: com a morte de Héracles, perseguido pelo ódio de Euristeu, os Heraclidas refugiam-se junto de Teseu, rei de Atenas, o que representa para eles uma ajuda eficaz. Teseu aceita entrar em guerra contra Euristeu, que perece na guerra, junto com os seus filhos. -
A Comédia dos BurrosA “Asinaria” é, no conjunto, uma comédia de enganos equilibrada e com cenas particularmente divertidas, bem ao estilo de Plauto. A intriga - na qual encontramos alguns dos tipos e situações características do teatro plautino (o jovem apaixonado desprovido de dinheiro; o pai rival do filho nos seus amores; a esposa colérica odiada pelo marido; a cínica, esperta e calculadora alcoviteira; e os escravos astutos, hábeis e mentirosos) - desenrola-se em dois tons - emoção e farsa - que, ao combinarem-se, comandam a intriga através de uma paródia crescente até ao triunfo decisivo do tom cómico.