Aulas de Literatura: Berkeley, 1980
Berkeley, Universidade da Califórnia, Outono de 1980: no período culminante da sua carreira de escritor e depois de tê-lo recusado durante anos, Julio Cortázar aceita finalmente o convite de uma universidade norte-americana para ali leccionar um curso de literatura. Contudo, ao contrário de outras célebres lições de literatura ministradas por grandes autores, como Nabokov, Borges ou Calvino, também posteriormente editadas com enorme sucesso em formato de livro, as aulas de literatura de Cortázar, tal como não podia deixar de ser, nada têm de ortodoxo ou de catedrático. Todas as quintas-feiras, durante dois meses, perante uma plateia de jovens estudantes cada vez mais numerosa e entusiasta (ao ponto de causar problemas logísticos), o autor argentino conduz um vasto diálogo sobre a criação literária e a sua experiência de escritor, dando a conhecer quais os ingredientes que compõem a boa literatura. São muitos os temas tratados: o fantástico, a musicalidade e o humor, o erotismo e o lúdico em literatura; a intrincada relação entre imaginação e realidade, as armadilhas da linguagem; porém, sobra igualmente tempo para abordar outras suas paixões: a política, a música, o cinema. Tudo isto recheado de exemplos retirados de leituras pessoais ou da sua própria escrita, que analisa de forma natural e sincera, revelando o segredo dos seus contos ou qual a interpretação do seu famoso romance, Rayuela .
| Editora | Cavalo de Ferro |
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| Categorias | |
| Editora | Cavalo de Ferro |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Julio Cortázar |
Escritor argentino, Julio Cortazár nasceu a 26 de agosto de 1914, em Bruxelas, na Bélgica, durante uma viagem de negócios empreendida pelos seus pais. Em 1918 a família regressou a Buenos Aires, onde Cortázar veio a estudar, obtendo, em 1935, habilitações como professor do ensino secundário pela Escuela Normal de Professores Mariano Acosta. Ingressou depois na Universidade de Buenos Aires e deu aulas nas escolas secundárias de Bolívar, de Chivilcoy e de Mendonza.
Em 1944 conseguiu uma posição como professor de Literatura Francesa na Universidade de Cuyo, em Mendonza, onde se envolveu numa manifestação contra a política populista e sindicalista de Juan Domingo Peron, pelo que foi encarcerado. Posto em liberdade pouco tempo depois, viu, no entanto, vedada a sua carreira académica. Assumiu então, e em 1946, a direção de uma editora em Buenos Aires, funções que desempenhou até 1948, altura em que completou a sua licenciatura em Direito e Línguas. Cortázar passou então a trabalhar como tradutor.
Em 1949 publicou a sua primeira obra digna de interesse, Los Reyes, um longo poema narrativo em que utilizava arquétipos como o Minotauro e o Labirinto de Creta. Em 1951, época em que o regime de Peron se estabelecia como ditadura, publicou numa revista mantida por Jorge Luis Borges, a Los Anales de Buenos Aires, a sua primeira coletânea de contos, com o título Bestiário (1951).
Nesse mesmo ano, e em resultado das perseguições que lhe foram movidas, o autor optou pelo exílio, mudando para Paris, cidade que não mais abandonaria. A partir de 1952 passou a trabalhar para a UNESCO como tradutor independente.
Continuou a publicar coletâneas de contos, como Final de Juego (1956),Las Armas Secretas (1959), obra que viria a ser adaptada para cinema pelo realizador italiano Michelangelo Antonioni, com o títuloBlow Up, em 1966. Em 1960 consagrou-se também como romancista, com o aparecimento deLos Premios, obra em que contava o rumo de um grupo de pessoas que ganham como prémio de lotaria um cruzeiro-surpresa. O seu romance mais conhecido, Rayuela, seria publicado em 1963. A obra, original e imaginativa, influenciou significativamente a literatura da América Latina.
Em 1973 empreendeu uma longa viagem pela América do Sul, visitando países como o Peru, o Equador, o Chile e a Argentina, como investigador das violações dos direitos humanos no continente, apoiando, com os ganhos resultantes da venda das suas obras, os Sandinistas e as famílias de prisioneiros políticos.
Em 1975 lecionou, como professor convidado, nas Universidades de Oklahoma e do Barnard College de Nova Iorque. Em 1981 tomou a nacionalidade francesa e, dois anos depois, foi-lhe autorizado visitar de novo a Argentina.
Faleceu a 12 de fevereiro de 1984, em Paris. Embora seja geralmente aceite como causa da sua morte uma leucemia, existe também a opinião de que o autor tenha sido vítima de SIDA, nesse tempo ainda não diagnosticável.
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Rayuela - O Jogo do MundoO amor turbulento de Oliveira e da «Maga», os amigos do Clube da Serpente, as caminhadas por Paris em busca do Céu e do Inferno, têm o seu outro lado na aventura simétrica de Oliveira, Talita e Traveler, numa Buenos Aires refém da memória.A publicação de «O jogo do mundo» (Rayuela) em 1963 foi uma verdadeira revolução no romance mundial: pela primeira vez, um escritor levava até às últimas consequências a vontade de transgredir a ordem tradicional de uma história e a linguagem usada para a contar. O resultado é este livro único, cheio de humor, de risco e de uma originalidade sem precedentes.Considerado o romance que melhor retrata as inquietudes e melhor resume o Século XX na visão latino-americana do mundo, desde a sua publicação, gerações de escritores são, de uma maneira ou de outra, devedoras de «O jogo do mundo». -
A Volta ao Dia em 80 MundosPela primeira vez publicado em Portugal, esta obra confirma todo o génio criativo de Julio Cortázar, consubstanciado numa nova forma de fazer Literatura. Cortázar rompe com o modelo clássico da narrativa e apresenta ao leitor, num único volume, uma colectânea de textos literários que abrange o conto, a poesia, o ensaio, o comentário humorístico e autobiográfico, e que tratam temas tão variados como o boxe, a política, técnicas culinárias, sadismo, Paris, entre outros. Tudo alternado com ilustrações e fotografias escolhidas pelo próprio autor. Uma das obras fundamentais da narrativa mundial, e um livro incontornável deste importante autor. -
Papéis InesperadosFestejado como um acontecimento editorial pela crítica e amantes de todo o mundo da obra de Julio Cortázar, «Papéis inesperados - escritos inéditos» é uma deslumbrante colecção de textos inéditos e dispersos escritos pelo autor de Rayuela durante toda a sua vida e recentemente encontrados num móvel da sua casa no XV bairro de Paris. Os protagonistas desta surpreendente história - que recorda o baú de inéditos de Pessoa - são Aurora Bernárdez, a sua viúva e herdeira universal, e o especialista na obra do autor, Carles Álvarez Garriga, responsáveis pela edição do livro.Dividido em 3 partes (prosas, entrevistas perante o espelho, poemas), reúnem-se neste volume contos nunca antes publicados em livro; histórias de cronópios julgadas desaparecidas; um capítulo suprimido de Rayuela; textos sobre literatura, política, viagens, «de emergência», de «palmada-nas-costas»;auto-entrevistas; poemas inéditos, e muitos outros autênticos tesouros que oferecem ao leitor uma visão completa das várias facetas da escrita de Julio Cortázar -
Gostamos tanto da GlendaGostamos tanto da Glenda, originalmente publicado em 1980, e até hoje inédito no nosso país, contém alguns dos mais famosos contos escritos por Julio Cortázar. Histórias onde desfilam os temas que este autor soube, como poucos, converter em literatura: os sonhos, os gatos, o cinema, a música, o tempo; e onde a realidade quotidiana é a primeira a destabilizar a ordem natural das coisas. -
Final do Jogo«Penso que o tema que servirá de base a um bom conto seja sempre excepcional, não querendo com isto afirmar que esse tema deva ser extraordinário, fora do comum, misterioso ou insólito. Pelo contrário, pode tratar-se de uma historieta perfeitamente trivial e quotidiana. A sua excepcionalidade reside numa qualidade comparável àquela do íman: um bom tema atrai todo um sistema de relações interligadas, coagula no autor, e depois no leitor, uma imensidão de conceitos, imagens, sentimentos e até mesmo ideias que flutuavam virtualmente na sua memória ou na sua sensibilidade; um bom tema é como um Sol, um astro em torno ao qual gravita um sistema planetário desconhecido até que o escritor de contos, astrónomo de palavras, revele ao mundo a sua existência.»Julio Cortázar Volume de dezoito contos até hoje inédito no nosso país, Final do Jogo é um dos livros mais celebrados pelos leitores de Julio Cortázar. Contém, entre outras histórias excepcionais, os contos Axolotl, Não se culpe ninguém, Ménades e o autobiográfico, Os Venenos. -
Todos os Fogos o FogoImagine-se uma dessas longas filas de automóveis parados na auto-estrada às portas de uma grande cidade para desespero dos automobilistas; e que os minutos e as horas de espera se transformam em dias, e estes em semanas e depois em meses, convertendo o espaço circundante numa espécie de não-lugar familiar; neste tempo e lugar suspenso, nascem amizades e disputas, os automóveis transformam-se em hospitais de campanha, em alcovas, em bares, organiza-se uma nova sociedade. É este o tema do famoso conto, «A Auto-estrada do Sul», adaptado ao cinema por Jean-Luc Godard, que abre o presente volume. Seguem-se outros não menos famosos, num total de oito, onde Julio Cortázar demonstra, uma vez mais, a sua enorme mestria em (con)fundir passado e presente, sonho e realidade, criando ambientes ficcionais únicos, onde as tensões e os medos da vida quotidiana se sublimam em aparentes novas realidades. -
OctaedroNos interstícios da realidade nascem aventuras improváveis: um rosto refletido numa janela, que espoleta o nascer de sentimentos amorosos segundo uma lógica combinatória relacionada com os percursos da rede do metropolitano; mortos que voltam a morrer na viscosidade ilusória dos sonhos; personagens irreais que procuram a sua existência através de dolorosas mentiras — Morte, amor, relações humanas, a presença constante e imperturbável do inexplicável, todas as faces da existência humana e a certeza que fica, no final, de que nenhuma delas pode ser encarada somente através de um único prisma. O octaedro de oito contos publicado originalmente em 1974 e, até hoje, inteiramente inéditos em Portugal, é um dos livros mais representativos e celebrados de Cortázar, em que a audácia estilística se equipara ao desafio constante perante os determinismos e previsibilidade da vida quotidiana. -
Os PrémiosO primeiro romance publicado de Cortázar, até hoje inédito em Portugal, que antecipou O Jogo do Mundo – Rayuela. Um grupo rumoroso e heterogéneo de personagens, espécie de catálogo representativo da sociedade de Buenos Aires da época, premiado na lotaria nacional com um bilhete para uma viagem luxuosa de cruzeiro, embarca no navio Malcolm, cheio de expectativas. Contudo, entre distrações e atrações iniciais, um clima de mistério faz crescer a tensão entre os passageiros e a tripulação: o navio é colocado em quarentena devido a uma inexplicável doença, a rota e o destino final da viagem são desconhecidos, o capitão não se apresenta e nenhum dos membros da tripulação fala espanhol e, sobretudo, o acesso à popa da embarcação está interdito aos passageiros. Todas estas absurdas circunstâncias constituirão um irresistível desafio para os hóspedes deste navio que os levará a um jogo cada vez mais perigoso e com um final surpreendente. O alternar entre narração e reflexão, a vivacidade dos diálogos, o absurdo e a comicidade das personagens, fazem de Os Prémios um romance desconcertante e uma leitura ímpar, inevitável antecâmara de toda a obra subsequente de Cortázar. -
Histórias de Cronópios e de Famas«A capacidade de Cortázar para nos apresentar os objetos de perspetivas estranhas, como se os tivesse acabado de inventar, proporciona ao leitor uma experiência única.» - Time «Uma imaginação literária de elite.» - The New York Times Review of Books «Os famas são os que embalsamam e catalogam as recordações, que bebem à colherada a virtude com o único propósito de se reconhecerem cheios de vícios, aqueles que, se têm tosse, deitam abaixo um eucalipto em vez de comprarem os rebuçados peitorais Dr. Bayard. Os cronópios são aqueles que ao lavar os dentes à janela espremem todo o conteúdo do tubo só para verem esvoaçar grinaldas de pasta dentífrica cor-de-rosa (…) quando se deparam com uma tartaruga, desenham-lhe uma andorinha. (…) A criação mais feliz e absoluta de Cortázar.» - Do prefácio de Italo Calvino «A capacidade criativa do autor atira-nos exactamente para esse território das situações menos comuns, onde o que às vezes importa é a escrita e os sonhos que ela transporta para defronte dos nossos olhos.» - Fernando Sobral, Jornal de Negócios Nova tradução de Isabel Pettermann -
As Armas SecretasUma mulher que aceita ir a um funeral representar o papel de mãe do falecido. Um homem perdido entre a realidade e o que vê através de uma bola de cristal. Um saxofonista brilhante a tentar descobrir se consegue viver sem que a sua própria música o consuma. Julio Cortázar, que encontrava nos contos um dos mais perfeitos veículos para a sua prodigiosa imaginação, juntou em Armas Secretas algumas das suas mais importantes criações narrativas. Volume que inclui, entre outros, os célebres contos As Babas do Diabo, adaptado ao cinema por Michelangelo Antonioni no filme Blow-up – História de um Fotógrafo, e O Perseguidor, sobre os derradeiros dias de vida do músico Charlie Parker, que o próprio autor considerou ser um dos momentos de definição da sua carreira. «Cortázar deriva com tanta naturalidade no absurdo, sem nunca perder o pé na verosimilhança, que nós, leitores, desistimos rapidamente de questionar o sentido ou a possibilidade. Fruímos apenas.» - João Morales, Jornal Sol
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».