Autobiografia
«É certo que os cinco livros da «Autobiografia» ["A Causa" (1975), "A Cave" (1976), "A Respiração" (1978), "O Frio" (1981) e "Uma Criança" (1982)] servem a Bernhard para dar a conhecer o que foi a sua infância e a sua juventude, mas sempre na medida em que esses períodos da sua vida e os acontecimentos por ele narrados foram relevantes para a sua obra literária. O escritor enfatiza os momentos que o marcaram para o resto da existência, faz notar os seus problemas, os seus erros, as fraquezas e os aspectos contraditórios do seu carácter, mas também as suas grandes decisões, a sua independência, a sua força de vontade, a sua natureza insubmissa e inconformada, mesmo na luta pela própria vida. [
] ficção e biografia interpenetram-se em Bernhard de uma forma nem sempre clara, porque ambas participam igualmente da sua escrita enquanto obra de arte e ambas se completam e explicam reciprocamente. [
] Na verdade, esse período da infância e juventudee a ele se limita a Autobiografiainfluencia decisivamente a personalidade do escritor, modela o seu carácter e de certo modo constrói as bases da sua carreira literária. Pode-se mesmo dizer que, sem conhecer as suas origens, as circunstâncias em que se verificou o seu nascimento, o que ele foi em criança e as provações por que passou na adolescência, não será fácil compreender devidamente a sua obra.»José A. Palma Caetano, Introdução.
| Editora | Sistema Solar |
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| Editora | Sistema Solar |
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| Autores | Thomas Bernhard |
Niclaas Thomas Bernhard foi um escritor austríaco e é considerado um dos mais importantes escritores germanófonos da segunda metade do século XX. Deixou uma obra considerável que inclui 19 novelas, 17 peças e outros livros de carácter autobiográfico. Na sua obra, o humor mistura-se com o escárnio e o negativismo, traçando retratos impiedosos de uma sociedade onde há cada vez mais espaço para o pessimismo.
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O Sobrinho de WittgensteinThomas Bernhard, um dos escritores mais controversos e mais originais da moderna literatura austríaca, descreve nesta obra de carácter autobiográfico a sua relação de amizade com Paul Wittgenstein, um sobrinho do notável filósofo Ludwig Wittgenstein. O narrador passa em revista alguns dos episódios mais empolgantes ou impressivos dessa amizade e inicia o seu relato num momento repleto de significado, aquele em que ambos se encontram ocasionalmente internados no mesmo hospital de Viena, o narrador no serviço de doenças pulmonares e Paul na unidade de psiquiatria. Cada um levado, portanto, pela enfermidade que o acompanhou durante toda a vida: Thomas Bernhard sofria de uma doença pulmonar, que se foi agravando até à sua morte em 1989; Paul Wittgenstein, espírito brilhante, profundo conhecedor de música e apaixonado pela ópera, era com frequência atacado por perturbações mentais, que obrigavam ao seu internamento num hospital psiquiátrico. Ambos tinham, porém, em comum os interesses artísticos, o prazer da crítica, resultante da observação do mundo que os rodeava, a paixão das conversas de natureza filosófica. Paul, pertencente a uma das famílias mais ricas da Aústria, morreu na miséria, porque “deitou muitos milhões pela janela fora”. E a essa miséria juntou-se, nos seus últimos tempos, a decadência física, de tal modo que o narrador, como ele próprio confessa, já nem tinha coragem para o visitar, “com medo de ser directamente confrontado com a morte”. “Duzentos amigos irão ao meu enterro e tu tens de proferir um elogio fúnebre”, dissera um dia Paul ao amigo. Mas este, que não estava na Aústria quando ele morreu, nem sequer ainda foi, diz no final, “ver a sua sepultura”. O Sobrinho de Wittgensteiné uma narrativa de grande humanidade, mas ao mesmo tempo plena de ironia, de humor e salpicada de episódios jocosos ou grotescos, aos quais não faltam a crítica acesa e o desassombro provocatório ou sarcástico, no melhor estilo de Thomas Bernhard. -
Antigos Mestres“Bernhard é considerado hoje uma das figuras mais relevantes da literatura de língua alemã na segunda metade do século XX. Ainda há relativamente pouco tempo o famoso crítico alemão Marcel Reich-Ranicki dizia, num livro constituído por entrevistas sobre vários autores, o seguinte: "Se me perguntassem quais foram os três maiores talentos da literatura alemã, no domínio da prosa, depois de 1945 (…) eu indicaria decerto três nomes: Wolfgang Koeppen, Günter Grass, Thomas Bernhard. São as três mais fortes energias épicas na nova prosa alemã. Considero, portanto, Thomas Bernhard um dos verdadeiramente grandes".” José A. Palma Caetano, na introdução deste livro. -
O Fazedor de TeatroO Fazedor de Teatro é uma das peças de Thomas Bernhard que até hoje mais êxito alcançaram e mais representadas tê sido. Pertence já à fase de "maturidade dramática" do autor, pois foi escrita na primeira metade dos anos oitenta, publicada em 1984 e estreada no ano seguinte. Uma das reflexões fundamentais, se não a reflexão fundamental a que esta peça e especialmente a figura de Bruscon - a personagem principal - nos conduzem é o absurdo que em tantos actos humanos se contém, e que, no fundo, caracteriza toda a existência humana. Poderíamos falar mesmo de uma denuncia do absurdo, que, aliás se encontra não apenas nesta peça, mas em toda a obra de Thomas Bernhard. O absurdo não ó da realidade "fingida" que é o teatro, mas também da existência real a que, no fundo, o teatro serve de espelho, ainda que frequentemente distorcido. E as seguintes palavras proferidas por Bruscon podem, sem dúvida, ser tomadas não apenas como teatro ou literatura, mas como expressão da realidade: Efectivamente servimos toda a vida/ o absurdo/ de ter nascido/ Fatal construção do mundo. -
Extinção"Extinção é não só o último romance publicado por Thomas Bernhard — embora não tenha sido provavelmente o último a ser concebido e escrito —, mas também o mais longo e aquele em que se concentram, de uma forma mais depurada e mais límpida, as ideias fundamentais do famoso escritor austríaco e se desenha com maior perfeição a sua estética literária. É assim uma espécie de cúpula do edifício de prosa narrativa por ele construído ao longo dos anos — em grande parte atormentados pela doença — da sua relativamente breve existência (1931-1989) e que constitui a parte fundamental da sua obra.A temática de Extinção gira em torno de um palácio, Wolfsegg, centro de uma grande propriedade agrícola, e de uma família, a do narrador, Franz-Josef Murau, que das suas "origens" se afastou, para ir viver em Roma. Com a morte dos pais e do irmão num acidente de automóvel, cabe-lhe em herança Wolfsegg, de que ele acaba por fazer doação à Comunidade Israelita de Viena, uma alusão à reparação devida aos judeus depois do holocausto do período nazi. O “complexo das origens”, um aspecto fundamental da vida e da obra de Bernhard, situa-se também na base deste romance. Só através da “extinção” da família e da propriedade o narrador se pode verdadeiramente encontrar consigo próprio. Esta ideia aplica-se igualmente ao nosso mundo, que só será possível mudar através da sua destruição total ou quase total, “para depois o reconstruirmos (…) como um mundo completamente novo”.O radicalismo do pensamento de Bernhard, que ele próprio reconhece, classificando-se de “artista do exagero”, exprime-se aqui em toda a originalidade da sua prosa, cuja estrutura musical se revela em Extinção extremamente apurada e a essa prosa transmite, mesmo no que ela às vezes parece ter de monótona, um ritmo insinuante e uma estranha fascinação."José A. Palma Caetano -
Derrubar Árvores - uma irritaçãoO carácter mais ou menos autobiográfico da obra narrativa de Thomas Bernhard já tem sido com frequência posto em relevo e não há dúvida de que os seus principais romances estão de maneira geral intimamente ligados à vida do escritor e revelam muito do seu carácter, das suas ideias, das suas vivências, do que foi, em suma, a sua própria vida, situando-se também a acção — se é que de acção se pode falar — em locais onde Bernhard viveu, com que estava familiarizado e cujos nomes por vezes são apenas ligeiramente alterados ou se mantêm na sua forma original.Isso mesmo se verifica também em Derrubar Árvores (1984), mas com este romance passou-se algo de extraordinário, que atingiu as proporções de um enorme escândalo: o compositor Gerhard Lampersberg reconheceu-se na figura de Auersberger e, sentindo-se ofendido na sua dignidade, apresentou uma queixa que levou a que o livro, quando acabava de ser distribuído pelas livrarias, fosse apreendido por ordem do tribunal e o autor citado a comparecer em juízo. Profundamente indignado e revoltado, Thomas Bernhard proibiu a distribuição dos seus livros na Áustria durante todo o período de duração dos direitos de autor. No entanto, um dia antes do julgamento aprazado, Lampersberg retirou a queixa e o assunto foi encerrado, tendo Bernhard retirado igualmente a proibição da venda dos seus livros no país. Mas, como é sabido, o autor voltou a repetir essa proibição no seu testamento, aliás bastante agravada, pois se tratou nesse caso tanto da publicação de todas as suas obras, como também da representação das suas peças. Essa disposição testamentária foi de certo modo contornada pela criação da Fundação Particular Thomas Bernhard e pela acção do meio-irmão do escritor, Peter Fabjan, de modo que hoje Bernhard é apresentado e representado na Áustria quase sem restrições e geralmente reconhecido como um dos maiores nomes da literatura austríaca na segunda metade do século passado. -
O NáufragoNeste seu livro, Thomas Bernhard fala da morte. A do músico Gould e a de Wertheimer, igualmente músico, que se suicidou. O narrador é o único que abandonou a música, oferecendo o piano à filha de um professor de província, quando compreendeu que nunca poderia igualar Glenn Gould. -
BetãoAo fim de dez anos de investigação, Rudolf, um musicólogo vienense, senta-se para escrever a biografia de Mendelssohn Bartholdy. Perante um bloqueio de escrita, acaba por produzir um relato sombrio e grotescamente caricato do que o rodeia, dos seus pensamentos, temores profundos e distrações. Conhecemos o amor e o ódio que nutre por quem o rodeia, a doença que suspeita ter e, finalmente, a sua fuga, que acaba por se cruzar com a narrativa de terror muito real de outra pessoa. Uma história magnífica sobre a procrastinação, o fracasso e o desespero. Uma obra irónica e densa, na qual o absurdo e o seu sentido se entrelaçam com o quotidiano de um homem dilacerado por sentimentos contraditórios. -
BetãoAo fim de dez anos de investigação, Rudolf, um musicólogo vienense, senta-se para escrever a biografia de Mendelssohn Bartholdy. Perante um bloqueio de escrita, acaba por produzir um relato sombrio e grotescamente caricato do que o rodeia, dos seus pensamentos, temores profundos e distrações. Conhecemos o amor e o ódio que nutre por quem o rodeia, a doença que suspeita ter e, finalmente, a sua fuga, que acaba por se cruzar com a narrativa de terror muito real de outra pessoa. Uma história magnífica sobre a procrastinação, o fracasso e o desespero. Uma obra irónica e densa, na qual o absurdo e o seu sentido se entrelaçam com o quotidiano de um homem dilacerado por sentimentos contraditórios. -
GeadaRelato de surpreendente robustez e de latente lirismo, Geada (1963) representou a revelação de Thomas Bernhard como um dos grandes escritores do século XX. Um perturbante e isolado vale austríaco, camuflado por uma geada permanente, e a ligação de um estudante de medicina a um pintor aí recolhido há vinte anos numa incessante degradação mental, são os bastidores que sustentam as observações e reflexões sobre a morte, a solidão, a velhice, a educação, a arte e a pobreza (da condição humana, de espírito), que vão percorrendo o romance, e que, aparentemente desconexas entre si, formam um sistema coerente que se confronta permanentemente com a nossa incapacidade de submeter o mundo a um processo de racionalização. Em Geada, está ausente uma intenção deliberada de contar uma história. O estudante escuta o pintor, que vai expondo as suas reflexões e observações sobre as suas dores físicas e existenciais em constante diálogo com o que o rodeia. Quanto à história, tem o leitor de a ir concebendo por si, à medida que os pensamentos dos dois personagens nos vão chegando.Este é o romance inaugural de uma voz particular e inconfundível da literatura. Porém, até chegar a ele, durante dez anos, Bernhard escreveu vários romances de centenas de páginas que nunca chegou a mostrar, por considerar o resultado final pouco interessante. No caso de Geada, «tive mesmo a sensação, quando terminei, de que isso era qualquer coisa que realmente ainda ninguém tinha feito, e também que ninguém imitaria». «Eu nunca pensei na forma, ela surgiu espontaneamente, segundo o que eu sou e escrevo. Nós temos, claro, modelos e histórias. Mas creio que, antes do romance Geada, no fundo não havia realmente nada do género. Foi a primeira vez que desse modo se escreveu» (Kurt Hofmann, Em Conversa com Thomas Bernhard, Assírio e Alvim, 2006, pp. 51, 29).
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O Príncipe da Democracia - Uma Biografia de Francisco Lucas PiresNenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.Em O Príncipe da Democracia, Nuno Gonçalo Poças reconstitui o percurso e as ideias deste homem invulgar, cujo legado permanece em grande parte por cumprir, e passa em revista os seus sucessos e fracassos. O resultado é um livro que, graças à absoluta contemporaneidade do pensamento do biografado, nos ajuda a compreender as grandes questões que o país e a Europa continuam a enfrentar, mostrando-nos, ao mesmo tempo, uma elegância política difícil de conceber quando olhamos hoje à nossa volta.Mais do que um retrato elucidativo de Lucas Pires, que partiu precocemente aos 53 anos, este é um documento fundamental para responder aos desafios do futuro, numa altura em que o 25 de Abril completa meio século. -
A DesobedienteA dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem. -
Emílio Rui VilarMemórias do país da ditadura e do alvor da democracia em Portugal. A vida de Emílio Rui Vilar atravessou as principais mudanças da segunda metade do século XX. Contado na primeira pessoa, um percurso fascinante pelo fim do regime de Salazar e Caetano e pela revolução de Abril.Transcrevendo entrevistas realizadas ao longo de vários meses, este livro recolhe o relato na primeira pessoa de uma trajetória que percorreu o início da contestação ao Estado Novo no meio universitário, a Guerra Colonial, a criação da SEDES, o fracasso da “primavera marcelista” e os primeiros anos do novo regime democrático saído do 25 de Abril, onde Emílio Rui Vilar desempenhou funções governativas nos primeiros três Governos Provisórios e no Primeiro Governo Constitucional. No ano em que se celebram cinco décadas de democracia em Portugal, este livro é um importante testemunho sobre dois regimes, sobre o fim de um e o nascimento de outro. -
Oriente PróximoCom a atual guerra em Gaza, este livro, Oriente Próximo ganhou uma premente atualidade. A autora, a maior especialista portuguesa sobre o assunto, aborda o problema não do ponto de vista geral, mas a partir da vida concreta das pessoas judeus, árabes e outras nacionalidades que habitam o território da Palestina. Daí decorre que o livro se torna de leitura fascinante, como quem lê um romance.Nunca se publicou nada em Portugal com tão grande qualidade. -
Savimbi - Um homem no Seu MartírioSavimbi foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e acções encobertas de segurança com o objectivo de o desacreditar e isolar. Se não aceitasse o exílio ou a sujeição, como foi o objectivo falhado dessa campanha, o fim último era matá-lo, como aconteceu: premeditadamente! Para que a sua «morte em combate» não suscitasse empatia, foi como um chefe terrorista da laia de Bin Laden que a sua morte foi apresentada – artifício da propaganda que tirou partido da memória emocional recente dos atentados da Al Qaeda, na América. Julgado com honestidade, Savimbi nunca foi o «bandido» por que o fizeram passar. O manifesto apreço que personalidades de indiscutível clareza moral, como Mandela, tiveram por ele prova-o. O MPLA elegeu-o como adversário temido e quis apagá-lo do seu caminho! Não pelos crimes a que o associaram. O que o MPLA e o seu regime temiam eram as suas qualidades e carisma, a sua representatividade política e o prestígio externo que granjeara. Como outros grandes da História, Savimbi também tinha defeitos e cometia erros. Mas no deve e haver as suas qualidades eram preponderantes." -
Na Cabeça de MontenegroLuís Montenegro, o persistente.O cargo de líder parlamentar, no período da troika, deu-lhe o estatuto de herdeiro do passismo. Mas as relações com Passos Coelho arrefeceram e o legado que agora persegue é outro e mais antigo. Quem o conhece bem diz que Montenegro é um fiel intérprete da velha tradição do PPD, o partido dos baronatos do Norte. Recusou por três vezes ser governante e por duas vezes foi derrotado em autárquicas. Já fez e desfez alianças, esteve politicamente morto e ressuscitou. Depois de algumas falsas partidas chegou à liderança. Mas tudo tem um preço e é o próprio a admitir que se questiona com frequência: será que vale a pena? -
Na Cabeça de VenturaAndré Ventura, o fura-vidas.Esta é a história de uma espécie de Fausto português, que foi trocando aquilo em que acreditava por tudo o que satisfizesse a sua ambição. André Ventura foi um fura-vidas. A persona mediática que criou nasceu na CMTV como comentador de futebol. Na adolescência convertera-se ao catolicismo, a ponto de se tornar um fundamentalista religioso. Depois de ganhar visibilidade televisiva soube pô-la ao serviço da sua ambição de notoriedade. Passou pelo PSD e foi como candidato do PSD que descobriu que havia um mercado eleitoral populista e xenófobo à espera de alguém que viesse representá-lo em voz alta. Assim nasceu o Chega. -
Contra toda a Esperança - MemóriasO livro de memórias de Nadejda Mandelstam começa, ao jeito das narrativas épicas, in media res, com a frase: «Depois de dar uma bofetada a Aleksei Tolstói, O. M. regressou imediatamente a Moscovo.» Os 84 capítulos que se seguem são uma tentativa de responder a uma das perguntas mais pertinentes da história da literatura russa do século XX: por que razão foi preso Ossip Mandelstam na fatídica noite de 1 de Maio de 1934, pouco depois do seu regresso de Moscovo? O presente volume de memórias de Nadejda Mandelstam cobre, assim, um arco temporal que medeia entre a primeira detenção do marido e a sua morte, ou os rumores sobre ela, num campo de trânsito próximo de Vladivostok, algures no Inverno de 1938. Contra toda a Esperançaoferece um roteiro literário e biográfico dos últimos quatro anos de vida de um dos maiores poetas do século XX. Contudo, é mais do que uma narrativa memorialística ou biográfica, e a sua autora é mais do que a viúva mítica, que memorizou a obra proibida do poeta perseguido, conseguindo dessa forma preservar toda uma tradição literária. Na sua acusação devastadora ao sistema político soviético, a obra de Nadejda Mandelstam é apenas igualada por O Arquipélago Gulag. O seu método de composição singular, e a prosa desapaixonada com que a autora sonda o absurdo da existência humana, na esteira de Dostoievski ou de Platónov, fazem de Contra toda a Esperança uma das obras maiores da literatura russa do século XX.
