Cadernos CIAJG - Imagens Coloniais: Revelações da Antropologia e da Arte Contemp
O livro que agora se publica documenta e, mais do que isso, dá corpo, a um conjunto de contributos que ocorreram e se cruzaram no espaço da palavra (o auditório) e do corpo (o museu), mediados pela imagem, num lugar em que convivem obras de arte contemporânea e objectos religiosos, ritualísticos e propiciatórios. [Nuno Faria]
É Investigador Auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Doutorou-se em História pela Universidade de Cambridge (2007), após estudar sociologia e sociologia histórica na Universidade Nova de Lisboa (Lic., Mestr.). Antes de integrar o quadro de investigadores do ICS-ULisboa, foi professor na Universidade dos Açores (1999-2008) e Postdoctoral Research Fellow (2012-13) na Universidade de Sidney, à qual continua afiliado como Honorary Associate no Departamento de História. No ICS, é o atual coordenador do Grupo de Investigação Impérios, Colonialismo e Sociedades Pós-coloniais (http://gi-imperios.org/blog/) e ensina nos programas doutorais em Antropologia e História. Trabalha sobre história e antropologia das ciências humanas, do colonialismo, e das relações interculturais nos espaços de expressão portuguesa, desde 1800 até ao século XX.
Maria do Carmo Piçarra é investigadora contratada no ICNOVA‑FCSH, professora na Universidade Autónoma de Lisboa e programadora de cinema. Doutorada em Ciências da Comunicação, os seus principais temas de investigação são as representações cinematográficas (pós)coloniais, a propaganda filmada e a censura durante a ditadura em Portugal, as mulheres nas descolonizações e os usos militantes da imagem. Publicou, entre outros títulos e artigos em revistas científicas, Olhar de Maldoror. Singularidade de um cinema político (2022), Projectar a Ordem. Cinema do Povo e propaganda salazarista (2020), Azuis Ultramarinos. Propaganda colonial e censura no cinema do Estado Novo (2015). Foi editora principal de (Re)Imagining African Independence. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire (2017) e, com o realizador Jorge António, da trilogia Angola, o Nascimento de Uma Nação (2013, 2014, 2015).
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Azuis Ultramarinos. Propaganda Colonial e Censura no Cinema do Estado NovoQuando emergiu a geração do Cinema Novo, quais foram as evidências da (im)possibilidade de um outro olhar sobre as colónias portuguesas em obras de autor que foram censuradas e proibidas? Como é que a propaganda do Estado Novo filmou o «modo português» de estar no mundo»? Este ensaio é um contributo decisivo para o estudo sobre a forma como Portugal «imaginou», durante a ditadura, o seu colonialismo através da sétima arte. «Em campo», é feita uma análise das representações coloniais impostas pelas actualidades cinematográficas de propaganda, nomeadamente, o Jornal Português (1938-1951) e Imagens de Portugal (1953-1970), publicações financiadas pelo Estado Novo. Em «contracampo», são recuperados três casos de filmes de autor proibidos: Catembe (1965) e Deixem-me ao menos subir às palmeiras... (1972), filmados em Moçambique por Manuel Faria de Almeida e Joaquim Lopes Barbosa, respectivamente, e ainda Esplendor selvagem (1972), rodado em Angola, por António de Sousa. O vislumbre do «homem imaginado» pelo cinema colonial produzido durante o Estado Novo através deste dispositivo «campo/contracampo» faz emergir um imenso «fora de campo», mais amplo do que aqueles que o olhar da câmara permite captar, de acordo com um programa político ou uma sensibilidade de autor. -
Metamorfose e Construção da Identidade na Colectânea de Contos de José Leite deA Literatura Tradicional e Oral, em particular os contos, é um filão ainda, em grande parte, por explorar, sobretudo no que respeita a muitos aspectos da sua significação. Com efeito, nela se cruzam velhos mitos ou mitemas selecionados em função dos interesses da sociedade ou da cultura que os transpõe para os contos, ( ). A autora centrou o seu trabalho nas questões da metamorfose e da sua relação com a evolução maturativa porque, como é há muito sabido, a relação dos contos com a evolução maturativa das crianças e dos jovens é um dos pontos centrais da sua significação quer espelhando-a quer induzindo-a pelos conteúdos e exemplos que põe à disposição das sociedades. Se os contos tradicionais são um repositório vivo das verdades em que a sociedade acredita ou cuja significação amplifica, por vezes ludicamente, e também uma indução da evolução psicológica das crianças e dos jovens (e que são os principais representados nestes contos, como a autora nota), esses contos vão ganhando a qualidade de lugares da identidade dessas sociedades e instrumentos rituais para a eficácia maturativa e identitária (do grupo e das pessoas). Do Prefácio de Helder Godinho -
Cinema Ideal e a Casa da ImprensaHá 110 anos a mostrar filmes, o Ideal tem uma história que se confunde, em Portugal, com a da exibição cinematográfica popular. Quando a Casa da Imprensa - Associação Mutualista se tornou, em 1926, proprietária do prédio onde funciona, o Ideal já não era um cinema de estreia. Antes, fez história com a invenção do «animatógrafo falado» e revelou António Silva. Foi o primeiro sonoro de René Clair a introduzir esta atracção no «Loreto» mas não travou a decadência da sala, gerida, desde a instauração da República, pela Costa & Carvalho e progressivamente preterida em favor dos salões luxuosos ou dos grandes cinemas das avenidas. A Casa da Imprensa assume agora, com a Midas, a aposta na requalificação do espaço e da programação da mais antiga sala de cinema do País. Honra o pioneirismo da associação na organização de festivais e ciclos de cinema, na divulgação do cinema de autor e no apoio ao novo cinema português. E reivindica uma acção que quis contrariar a censura do Estado Novo. É esta história que aqui se conta. É este passado - o do Ideal, sala de cinema popular, e o da associação de jorna¬listas que, desde 1962, assumiu a divulgação cinematográfica como missão - que converge num «acto de Primavera». O Cinema Ideal renasce como um espaço de exibição cinematográfica a pensar no futuro, assumindo-se cinema de bairro, como sempre foi, mas cinema do mundo e com mundo. -
Angola: O Nascimento de Uma NaçãoEste é um contributo para olhar como o cinema fixou o nascimento de uma nação, Angola. Esse olhar, que não podia fechar-se às visões do colonialismo português, faz-se panorâmica integradora de múltiplos pontos de vista: o da propaganda do Estado Novo; o da ficção portuguesa feita em Angola; o dos filmes sobre o progresso económico; o da Diamang; e, finalmente, o dos filmes científicos e etnográficos. No próximo volume desta obra, fixa-se o olhar corte-de-navalha nascido da militância, na luta pela independência, e de afirmação da identidade angolana. -
Angola: O Nascimento de uma NaçãoUm livro que nos mostra como o cinema fixou o nascimento de uma nação, Angola. Segundo volume de uma trilogia, O Cinema da Libertação desvenda o olhar corte-de-navalha surgido da luta pela independência de Angola. Cineclubismo, militância e vontade de cinema em textos que fazem história. -
Olhar de Maldoror - singularidades de um cinema políticoAnaliso a singularidade da obra de Maldoror procurando compreender como a invisibilidade e invisibilização a que foi remetida decorre do desalinhamento e insubmissão da autora sobreposta à intermedialidade dos seus filmes e à circunstância de ser mulher. Ao fazê-lo, procuro contribuir para o estudo da emergência de cinematografias nos países africanos de língua oficial portuguesa. Após a utilização do cinema como arma nas lutas de libertação, este foi usado tanto para forjar e cimentar identidades culturais nacionais como para projectar, interna e externamente, as novas nações. (Da introdução) -
Timor Etnográfico - Etnografias Coloniais Portuguesas no Século XXA antropologia e o colonialismo português têm um passado em comum. Durante o século XX, os chamados «povos indígenas» da Ásia e África foram objeto de observação e estudo por numerosos administradores, missionários, militares e cientistas coloniais portugueses. Os ensaios aqui reunidos investigam estas hipóteses através de um enfoque no abundante arquivo etnográfico colonial sobre Timor-Leste. Os temas tratados incluem o estudo de «usos e costumes»; as descrições das línguas e religião nativas; as recolhas de lendas; os filmes etnográficos; as Missões Antropológicas; e a presença das etnografias coloniais na imaginação de Timor-Leste como nação. -
Para uma Didática da Cultura Literária - Os fios que Madame Bovary teceEste ensaio analisa algumas das mais recentes transformações na área dos Estudos Franceses nos contextos educativos e junto dos públicos contemporâneos, relacionadas com a progressiva relativização das Humanidades e dos Estudos Literários no mercado da oferta educativa e com o reposicionamento do estatuto da língua e da cultura francesas no contexto da globalização. À semelhança de outras disciplinas com uma longa tradição, os Estudos Franceses têm vindo a repensar-se e adaptar-se em função de novos contextos de produção e de receção. Nesta perspetiva, examina-se a evolução do cânone literário nas últimas décadas, sob a pressão de fenómenos que obedecem a dinâmicas culturais globalizadas, a partir dos modos de apropriação de Madame Bovary de Gustave Flaubert. O corpus, constituído de reescritas inter e trans semióticas provenientes de contextos geoculturais diversos, é aqui analisado com vista a avaliar a sua pertinência e alcance didático, nos contextos educativos contemporâneos. Ao terem deixado de ser exclusivamente textuais ou oriundos de uma herança cultural nacional, os objetos de estudo levam necessariamente a repensar as ferramentas de análise, recorrendo a uma diversidade de (in)disciplinas e epistemologias. -
Vento LesteO luso‑orientalismo na filmografia produzida durante o Estado Novo sobre a «Ásia portuguesa» A filmografia sobre a «Ásia portuguesa» realizada em Portugal durante o Estado Novo é limitada. Além disso, quase toda esta filmografia apareceu tardiamente e projectou uma retórica luso‑tropicalista que procurou propagandear a importância — mítica, porque já passada — de um império outrora vasto. Durante a ditadura, as colónias orientais mantinham sobretudo um valor simbólico. Analisando a filmografia existente, Vento Leste propõe que a escassez de filmes sobre o «Oriente português» decorre sobretudo do valor simbólico destas comunidades imaginadas, evocadas com certa indefinição porque há muito que a relação da metrópole com as mesmas estava em desagregação, assentando sobretudo em projecções e ruínas. Com o surgimento de tensões entre Portugal e a Índia quanto à autonomização da «Índia Portuguesa», a filmagem das colónias orientais surgiu sobretudo da necessidade de a ditadura sedimentar um discurso luso‑orientalista que, não obstante, ignorou as especificidades locais e a miríade de diferenças entre a África e a Ásia e entre os territórios colonizados nessas regiões.
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Arte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teodósio de Bragança, 1578-1601D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora entre 1578 e 1602, foi um grande mecenas das artes sob signo do Concílio de Trento. Fundou o Mosteiro de Scala Coeli da Cartuxa, custeou obras relevantes na Sé e em muitas paroquiais da Arquidiocese, e fez encomendas em Lisboa, Madrid, Roma e Florença para enriquecer esses espaços. Desenvolveu um novo tipo de arquitectura, ser- vindo-se de artistas de formação romana como Nicolau de Frias e Pero Vaz Pereira. Seguiu com inovação um modelo «reformado» de igrejas-auditório de novo tipo com decoração integral de interiores, espécie de ars senza tempo pensada para o caso alentejano, onde pintura a fresco, stucco, azulejo, talha, imaginária, esgrafito e outras artes se irmanam. Seguiu as orientações tridentinas de revitalização das sacrae imagines e enriqueceu-as com novos temas iconográficos. Recuperou lugares de culto matricial paleo-cristão como atestado de antiguidade legitimadora, seguindo os princípios de ‘restauro storico’ de Cesare Baronio; velhos cultos emergem então, caso de São Manços, São Jordão, São Brissos, Santa Comba, São Torpes e outros alegadamente eborenses. A arte que nasce em Évora no fim do século XVI, sob signo da Contra-Maniera, atinge assim um brilho que rivaliza com os anos do reinado de D. João III e do humanista André de Resende. O livro reflecte sobre o sentido profundo da sociedade de Évora do final de Quinhentos, nas suas misérias e grandezas. -
Cartoons - 1969-1992O REGRESSO DOS ICÓNICOS CARTOONS DE JOÃO ABEL MANTA Ao fim de 48 anos, esta é a primeira reedição do álbum Cartoons 1969‑1975, publicado em Dezembro de 1975, o que significa que levou quase tanto tempo a que estes desenhos regressassem ao convívio dos leitores portugueses como o que durou o regime derrubado pela Revolução de Abril de 1974.Mantém‑se a fidelidade do original aos cartoons, desenhos mais ou menos humorísticos de carácter essencialmente político, com possíveis derivações socioculturais, feitos para a imprensa generalista. Mas a nova edição, com alguns ajustes, acrescenta «todos os desenhos relevantes posteriores a essa data e todos os que, por razões que se desconhece (mas sobre as quais se poderá especular), foram omitidos dessa primeira edição», como explica o organizador, Pedro Piedade Marques, além de um aparato de notas explicativas e contextualizadoras. -
Constelações - Ensaios sobre Cultura e Técnica na ContemporaneidadeUm livro deve tudo aos que ajudaram a arrancá-lo ao grande exterior, seja ele o nada ou o real. Agora que o devolvo aos meandros de onde proveio, escavados por todos sobre a superfície da Terra, talvez mais um sulco, ou alguma água desviada, quero agradecer àqueles que me ajudaram a fazer este retraçamento do caminho feito nestes anos de crise, pouco propícios para a escrita. […] Dá-me alegria o número daqueles a que precisei de agradecer. Se morremos sozinhos, mesmo que sejam sempre os outros que morrem — é esse o epitáfio escolhido por Duchamp —, só vivemos bem em companhia. Estes ensaios foram escritos sob a imagem da constelação. Controlada pelo conceito, com as novas máquinas como a da fotografia, a imagem libertou-se, separou-se dos objectos que a aprisionavam, eles próprios prisioneiros da lógica da rendibilidade. Uma nova plasticidade é produzida pelas imagens, que na sua leveza e movimento arrastam, com leveza e sem violência, o real. O pensamento do século XX propôs uma outra configuração do pensar pela imagem, desenvolvendo métodos como os de mosaico, de caleidoscópio, de paradigma, de mapa, de atlas, de arquivo, de arquipélago, e até de floresta ou de montanha, como nos ensinou Aldo Leopoldo. Esta nova semântica da imagem, depois de milénios de destituição pelo platonismo, significa estar à escuta da máxima de Giordano Bruno de que «pensar é especular com imagens». Em suma, a constelação em acto neste livro é magnetizada por uma certa ideia da técnica enquanto acontecimento decisivo, e cada ensaio aqui reunido corresponde a uma refracção dessa ideia num problema por ela suscitado, passando pela arte, o corpo, a fotografia e a técnica propriamente dita. Tem como único objectivo que um certo pensar se materialize, que este livro o transporte consigo e, seguindo o seu curso, encontre os seus próximos ou não. [José Bragança de Miranda] -
Esgotar a Dança - A Perfomance e a Política do MovimentoDezassete anos após sua publicação original em inglês, e após sua tradução em treze línguas, fica assim finalmente disponível aos leitores portugueses um livro fundamental para os estudos da dança e seminal no campo de uma teoria política do movimento.Nas palavras introdutórias à edição portuguesa, André Lepecki diz-nos: «espero que leitores desta edição portuguesa de Exhausting Dance possam encontrar neste livro não apenas retratos de algumas performances e obras coreográficas que, na sua singularidade afirmativa, complicaram (e ainda complicam, nas suas diferentes sobrevidas) certas noções pré-estabelecidas, certos mandamentos estéticos, do que a dança deve ser, do que a dança deve parecer, de como bailarines se devem mover e de como o movimento se deve manifestar quando apresentado no contexto do regime da 'arte' — mas espero que encontrem também, e ao mesmo tempo, um impulso crítico-teórico, ou seja, político, que, aliado que está às obras que compõem este livro, contribua para o pensar e o fazer da dança e da performance em Portugal hoje.» -
Siza DesignUma extensa e pormenorizada abordagem à obra de design do arquiteto Álvaro Siza Vieira, desde as peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria ou de ourivesaria, até às luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos, apresentando para cada uma das cerca de 150 peças selecionadas uma detalhada ficha técnica com identificação, descrição, materiais, empresa distribuidora e fotografias, e integrando ainda um conjunto de esquissos originais nunca publicados e uma entrevista exclusiva ao arquiteto.CoediçãoArteBooks DesignCoordenação Científica + EntrevistaJosé Manuel PedreirinhoDesign GráficoJoão Machado, Marta Machado -
A Vida das Formas - Seguido de Elogio da MãoEste continua a ser o livro mais acessível e divulgado de Focillon. Nele o autor expõe em pormenor o seu método e a sua doutrina. Ao definir o carácter essencial da obra de arte como uma forma, Focillon procura sobretudo explicitar o carácter original e independente da representação artística recusando a interferência de condições exteriores ao acto criativo. Afastando-se simultaneamente do determinismo sociológico, do historicismo e da iconologia, procura demonstrar que a arte constitui um mundo coerente, estável e activo, animado por um movimento interno próprio, no fundo do qual a história política ou social apenas serve de quadro de referência. Para Focillon a arte é sempre o ponto de partida ou o ponto de chegada de experiências estéticas ligadas entre si, formando uma espécie de genealogias formais complexas que ele designa por metamorfoses. São estas metamorfoses que dão à obra de arte o seu carácter único e a fazem participar da evolução universal das formas.

