Camões e a Viagem Iniciática
Os mais atentos leitores e estudiosos de Luís de Camões conhecem bem o arrojo e a ousadia destes ensaios sobre a épica e a lírica do poeta, que tiveram primeira edição em 1980, na Moraes, e desde então constam em qualquer bibliografia sobre o tema… são agora postos à disposição entre nós para que melhor se aperceba o quanto de vanguarda transporta o clássico dos clássicos.
| Editora | Abysmo |
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| Editora | Abysmo |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Helder Macedo |
Autor de uma vasta obra ensaística e cronista, Helder Macedo é também romancista e poeta, com obra traduzida para várias línguas. Foi secretário de Estado da Cultura, no governo de Maria de Lourdes Pintasilgo, e é membro efectivo da Academia das Ciências de Lisboa.
Em Londres, onde reside, foi titular da Cátedra Camões e é professor emérito de Português no King's College. Professor visitante em várias universidades, entre as quais Harvard, Universidade Federal do Rio de Janeiro, École des Hautes Études en Sciences Sociales e Universidade de Santiago de Compostela, o autor é também honorary research fellow na Universidade de Oxford.
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NatáliaO novo romance de Helder Macedo apresenta-se sob a forma de um diário, escrito na primeira pessoa, Natália, durante três períodos críticos da sua vida. Este relato, inicialmente respondendo ao irónico desafio de um autor que ela entrevista na televisão, depressa passa a ser uma forma de reunir pistas que lhe permitam responder à pergunta: «Quem sou eu?». Órfã de pai e mãe, assassinados estes na Argélia pouco antes de 1974 pela polícia secreta portuguesa, Natália construiu as suas memórias em torno do que lhe contou e, obliquamente, sugeriu a figura tutelar do avô materno. Quando este morre, ela encontra numa pasta os documentos relacionados com o seu nascimento e três misteriosas fotografias de uma jovem que pensa ser a mãe. Mais tarde a introdução de uma nova personagem feminina confere outra dinâmica ao questionamento de Natália. Através da intensa relação que as une, Fátima, introduzindo a possibilidade de uma outra leitura dos acontecimentos, vai levar Natália a desconstruir o mito que em grande parte o avô contribuiu para criar. -
Poemas Novos e VelhosHelder Macedo é um dos mais prestigiosos autores da língua portuguesa, como ficcionista, crítico literário, ensaísta e, menos frequentemente, poeta. Publica-se, agora, esta coletânea da sua poesia, até à data dispersa em livros distintos, oferecendo ao leitor a possibilidade de conhecer o essencial da sua produção poética, que ilumina o todo da sua obra. Poemas Novos e Velhos organiza-se segundo ordem inversa da publicação dos sucessivos títulos de poesia que tem vindo a escrever desde 1956 até ao presente, incluindo uma sequência de poemas inéditos, «Colagens» (2010-11), a abrir este esplêndido volume. -
Tão Longo Amor, Tão Curta a VidaNeste novo romance de Helder Macedo, um thriller psicológico, o narrador é um escritor português que vive em Londres. Uma noite recebe uma inesperada visita de um amigo diplomata seu compatriota que tinha ido participar numa conferência sobre o Médio Oriente e que lhe pede abrigo, alegando encontrar-se em perigo porque tinha fugido depois de ter sido sequestrado por uma mulher e um homem mais velho. A sua história é tão inverosímil que o escritor decide, em vez do novo romance que tinha iniciado, criar uma versão ficcional do que poderia ocultar-se por detrás do que o amigou lhe contara. Quando o diplomata volta a Londres, o escritor confronta-o com a sua reconstrução da história. As consequências são dramáticas e imprevisíveis. -
RomanceRomance , título deste longo poema, é a narrativa de uma peregrinação iniciática entre as sombras do sonho nos corpos do desejo, entrecruzando memórias, mitos, despojos de guerra no exílio da vida, ecos bucólicos de Bernardim Ribeiro, autoestradas nos subúrbios das cidades sitiadas e amores tão antigos como o tempo do mundo.Helder Macedo, uma das vozes mais marcantes da literatura de língua portuguesa contemporânea, apresenta-nos no seu novo livro Romance , escrito no ano em que completa oito décadas, uma obra inovadora que não deixará de surpreender, uma vez mais, os leitores. -
Camões e Outros ContemporâneosCamões e Outros Contemporâneos manifesta a abordagem literária de Helder Macedo sob a premissa «contemporâneos são todos aqueles com quem vivemos». Com Luís de Camões em permanente recorrência, este livro propõe uma leitura simultaneamente rigorosa e inovadora de alguns dos nomes maiores da nossa literatura, das Cantigas de Amigo a Mário Cesariny de Vasconcelos, de Bernardim Ribeiro a Herberto Helder, de Francisco de Sá de Miranda a M. Teixeira-Gomes ou José Saramago, Sophia de Mello Breyner, José Cardoso Pires e o «grupo do Café Gelo». Os vinte e quatro ensaios que constituem o corpo do livro são complementados por uma visão crítica global dos oito séculos de literatura portuguesa no seu contexto histórico e cultural, onde o leitor poderá conhecer as fundamentais convergências e divergências entre os autores abordados em cada capítulo. -
Oitocentos Anos de LiteraturaNotável síntese histórica da literatura portuguesa, publicada originalmente no Reino Unido, com os seus nomes fundamentais, temáticas estruturantes e nomes principais, mas com atenção a outras correntes, mais profundas ou fracturantes. De D. Dinis a José Saramago, o percurso faz-se com enorme gozo e subtil erudição, sugerindo detalhes e propondo reflexões, para acabar traçando uma paisagem que nos surge, a um tempo, como nova e confortavelmente próxima. Uma leitura que logo se desmultiplica em outras, para confirmação ou descoberta -
Cada um com o seu Contrário num Só SujeitoMais um belo ensaio, inédito em Portugal, de uma longa linhagem produzida pelo autor, e que o confirma como um dos leitores mais desafiantes do poeta maior. Através de uma escrita sedutora, viajamos ao coração da originalidade das propostas literárias e filosóficas de Camões (nunca esquecendo a personagem). -
Partes de ÁfricaO título Partes de África introduz desde logo uma primeira ambiguidade na leitura desta magnífica ficção, ao remeter-nos ora para a matéria temática que tem a ver com certas partes de África ora para a estrutura do texto que é feita de partes, integradas em duas grandes partes, como dois registos que constantemente se cruzam. Mas é sobretudo através desta dualidade de registos que podemos falar de uma obra singular que começa por perturbar a estabilidade dos códigos de leitura. E essa é também a sua sedução, ao envolver-nos nessa rede de leituras, impelindo-nos numa permanente curiosidade, para a decifração de uma escrita do virtuose, cheia de espelhos e cintilações. Oscilamos assim entre um registo que se propõe como «verdadeiro», quase crónica evenemencial, até com nomes que nos são familiares, e um outro que é o espelho irónico do primeiro, espécie de paráfrase jocosa ou consciência lúdica, assumindo como discurso fictício, artificioso, mas tão consistente como o primeiro registo, fazendo com ele o corpo inteiro da obra. É o estatuto da própria factualidade ou da sua ficção que é posto em crise, para logo ser resolvido numa ficção maior, numa obra literária que fala da nossa contemporaneidade, destas últimas décadas em que as partes de África eram também o nosso quotidiano. Um livro surpreendente, inesperado, no nosso panorama ficcional. -
Vícios e VirtudesDurante uma visita a Lisboa, o escritor, fingindo-se de si próprio, encontra-se com um amigo também escritor, que lhe fala sobre o bizarro caso que tem vindo a manter com uma aparentemente promíscua e abastada mulher. Nas entrelinhas do que o amigo lhe conta, o narrador apercebe-se do jogo perverso que ela faz com Francisco e, reconhecendo na sua suposta autobiografia reminiscências do milenário culto sebastianista, o narrador começa a escrever um romance, inicialmente em torno da figura histórica da mãe de D. Sebastião - jogo exploratório que persegue possibilidades, ensaia verosimilhanças, pressupõe realidades, mundos oníricos, fundas latências, perigosas ambiguidades. Porque inevitavelmente os caminhos se cruzam, e a outra Joana se furta ao papel de personagem histórica bem-comportada, ela acaba por perder-se na fluidez de um subtilíssimo movimento determinado pelo obscuro objecto do desejo. Quem é Joana O que vê nela cada um dos escritores Talvez vícios e virtudes...«Vícios e Virtudes» é um livro atravessado por múltiplas ambiguidades, que pela sua complexidade e riqueza represen-tam um verdadeiro desafio e um risco para o leitor.Este novo romance de Helder Macedo, o autor de «Partes de África» e «Pedro e Paula», pode ser lido como uma belíssima e pungente história de amor ou entendido como metáfora de uma das temáticas recorrentes na obra do autor, a projecção no devir histórico daquilo a que se costuma chamar “identidade nacional” e o questionamento de que coisa será, no Portugal de hoje. -
Sem NomeHelder Macedo encontrou sempre modos subtis de nos surpreender. Ele que nunca resistiu a estar presente nos seus romances também como personagem, excluiu-se agora do seu mundo ficcional. Uma narrativa em voz off apresenta-nos, a abrir, José Viana, advogado de sucessos vários, que vive em Londres desde o início dos anos 70. Só que o seu modo de viver vai ser desarrumado por uma jovem jornalista. Mas também ela, na insegura expectativa da mulher que ainda não aprendeu a ser, vai sofrer metamorfoses inesperadas. As suas vidas, ao cruzarem-se, vão deixá-los suspensos um do outro como quem se olha num espelho, como quem se visse sem se reconhecer, quase como num sonho. Sentimos o fio condutor que o liga aos romances anteriores, Partes de África, Pedro e Paula, Vícios e Virtudes, num dos temas caros ao autor e que tem que ver com o modo português de viver a sua própria história. É aí que talvez ele mais nos surpreenda, na coincidência entre o contexto histórico deste livro e a realidade que vivemos no momento em que o livro é lançado. Como o próprio autor sugeriu num artigo recente: «Comecei a escrevê-lo há mais de um ano, mas de repente percebi que estava a acontecer em Julho de 2004. É a coisa mais zangadamente política que alguma vez escrevi. [...] Oxalá que entretanto se torne num romance histórico.»
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Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha). -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
Terra QueimadaEnsaio profético e demolidor, TERRA QUEIMADA (2022) expõe a forma como o complexo internético se tornou «motor implacável de vício, solidão, falsas esperanças, crueldade, psicose, endividamento, vida desbaratada, corrosão da memória e desintegração social». Nele, Jonathan Crary faz uma crítica radical da digitalização do mundo e denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica, a atomização provocada pelas redes sociais, a era digital como fase terminal do capitalismo planetário. «Se é possível um futuro habitável e comum no nosso planeta», conclui, «esse futuro será offline, dissociado dos sistemas e da actividade do capitalismo 24/7, que destroem o mundo». -
Mário Cesariny e Antonio Tabucchi - Cartas e outros TextosFernando Cabral Martins: «O surrealismo português já tinha atingido no final dos anos sessenta uma definição que tornava possível, de um ponto de vista exterior, descomprometido, fazer uma avaliação de conjunto.» Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta, Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970). Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura. Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos. [Maria José de Lancastre] Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em 1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a óbvia inteligência de Antonio Tabucchi. Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice- -versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar. [Fernando Cabral Martins]
