«Outra pessoa apanhava de imediato um avião e estava
em Paris numa hora e meia. Werner Herzog preferiu demorar
três semanas, porque acreditava que quanto mais
tempo demorasse mais tempo a sua amiga Lotte Eisner
tinha para ficar boa. Ele confiava nos sonhos mais tresloucados,
e nada impedia que aquela viagem de Inverno
impedisse a morte de alguém.
Herzog atravessa bosques, aldeias, rios, vinhas, passa
por radares, locais históricos, inscrições religiosas,
vê corvos, cães, veados, extasia-se com as estrelas, avança
pelo vento e o nevoeiro, sofre a chuva e a neve.
Quando chegou a Paris, encontrou a quase octogenária
Lotte doente mas estável. Alguém lhe deve ter dito
por telefone que eu tinha chegado a pé eu não queria
revelá-lo. Sentia-me embaraçado e pousei as pernas doridas
num segundo sofá que ela empurrou para perto de
mim. Em silêncio, ela agradece o esforço, ele está esfusiante
por ter conseguido. Lotte Eisner morreu em 1983,
e só não morreu nove anos antes porque em 1974 Werner
Herzog não a deixou morrer.»
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Werner Herzog
WERNER HERZOG, cujo verdadeiro nome é Werner Stipetić, nasceu em Munique a 5 de Setembro de 1942, filho de pais croatas. É um dos autores de referência do Novo Cinema Alemão, no qual se enquadram também Rainer Werner Fassbinder e Wim Wenders, entre outros.
Werner Herzog estudou história, literatura e música na Universidade de Munique e na Universidade de Duquesne, nos Estados Unidos. Durante esta época viajou por vários países: México, Inglaterra, Grécia e Sudão.
Aos 14 anos, Werner Herzog iniciou-se no cinema, quando leu a entrada de uma enciclopédia sobre realização de filmes e roubou uma câmara de filmar de 35 mm da Munich Film School. Foi quanto bastou para se transformar num dos cineastas mais importantes do século XX. Na década de 1960, trabalhou à noite como soldador, numa fábrica de aço, para financiar os seus primeiros filmes. Em 1968, filmou a sua primeira longa-metragem, «Herakles», galardoada com o Grande Prémio do Júri no Festival de Berlim.
Werner Herzog é autor de 18 longas-metragens e de dezenas de curtas-metragens e documentários. Entre os seus filmes mais conhecidos, contam-se «Nosferatu, o Fantasma da Noite», «Fitzcarraldo», «Woyzeck», «Aguirre, a Ira de Deus» e «Cobra Verde». Ao longo da sua carreira, o cineasta foi galardoado com vários prémios e distinções. Desempenhou também papéis como actor, tendo ainda assinado alguns trabalhos como argumentista. Dirigiu dezenas de óperas e algumas peças de teatro.
Escreveu, para além de «Caminhar no Gelo», dois livros sobre o seu filme «Fitzcarraldo». Com Paul Cronin, escreveu «Herzog on Herzog» e, com Lena Herzog, sua mulher, escreveu «Pilgrims: Becoming the Path Itself».
Actualmente, Werner Herzog vive em Los Angeles, nos Estados Unidos.
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