Como Pode Isto Ser Arte? Breve Ensaio Sobre Crítica de Arte e Juízo de Gosto
«Como pode isto ser arte?». A questão é-me recorrentemente endereçada, sobretudo da parte — legítima — dos meus alunos de história da arte contemporânea, a quem agradeço a pergunta e dedico este breve ensaio. De facto, e principalmente desde meados do século XX, e no contexto do movimento geral da neovanguarda internacional — que encontrou a sua origem no modernismo, iniciado, ainda no século XIX, com a pintura de Édouard Manet e dos impressionistas —, que o debate em torno da abstracção seria substituído pela complexa discussão em torno do próprio conceito, extensão e função do objecto artístico. Esta concepção de arte culminaria, entre outros posteriores experimentalismos, no nouveau réalisme, na pop art, ou na arte conceptual, que se afastaram definitivamente do processo estético dito convencional.
| Editora | Humus |
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| Editora | Humus |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Isabel Nogueira |
Isabel Nogueira é Doutorada em Belas-Artes, área de especialização em Ciências e Teorias da Arte (Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa) e pós-doutorada em História e Teoria da Arte Contemporânea e Teoria da Imagem (Universidade de Coimbra e Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne). É historiadora de arte contemporânea, professora universitária, ensaísta e curadora independente. É investigadora integrada do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX/Universidade de Coimbra, onde coordena a linha de investigação: “Artes Visuais e Imagem em Campo Expandido”. Colabora regularmente nas publicações Estudos do Século XX e Recherches en Esthétique. No domínio do ensaio, publicou as seguintes monografias: Do pós-modernismo à exposição Alternativa Zero, Nova Vega, 2007; Alternativa Zero (1977): o reafirmar da possibilidade de criação, CEIS20/Universidade de Coimbra, 2008; A crítica nas artes: fundamentos, conceitos e funções (coord.), CEIS20/Universidade de Coimbra, 2011; Teoria da arte no século XX: modernismo, vanguarda, neovanguarda, pós-modernismo. Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012, segunda edição em 2014; Théorie de l’art au XXe siècle: modernisme, avant-garde, néo-avant-garde, postmodernisme, Éditions L’Harmattan, 2013; Modernidade avulso: escritos sobre arte, Edições A Ronda da Noite, 2014.
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Teoria da Arte no Século XX: Modernismo, Vanguarda, Neovanguarda, Pós-ModernismoEste livro pretende operar uma proposta de compreensão da arte do século XX, a qual, naturalmente, tem os seus antecedentes imediatos ainda em Oitocentos. Mas esta perspectiva de análise e de reflexão organiza-se em torno dos conceitos que acreditamos serem determinantes para o seu entendimento: modernismo, vanguarda, neovanguarda e pós-modernismo. Trata-se de uma aceitação prévia de que os conceitos em questão são a base de compreensão da arte do período em análise – o século XX – e que se instituem como propósito conceptual que, por conseguinte, determina o modo de operar dos diversos movimentos artísticos ou tendências estéticas de fundo. Estabelece-se, pois, um entrosar da abstracção do conceito com a prática artística concreta, historicista e orgânica. -
Teorias da Arte - Do Modernismo à ActualidadeUm pequeno guia que traça a história e essência de cada movimento artístico da modernidade à pós-modernidade.Absolutamente fundamental para o investigador mas também para quem quer que queira perceber o mundo da arte contemporânea.Uma história das teorias da Arte do Modernismo até hoje. Um pequeno guia essencial para perceber as expressões artísticas.Com o advento do modernismo, e do movimento da arte moderna em geral, a arte conheceu uma transformação consideravelmente rápida e efectivamente avassaladora, que encontrou as suas origens em meados do século XIX, com o profundo questionar do racionalismo e da ordem social burguesa, na encruzilhada de um conjunto impressionante de inovações tecnológicas que se juntava à designada crise da representação - fortemente desencadeada pelo desenvolvimento da fotografia, nos anos 40 e, a partir de 1895, com a invenção do cinematógrafo -, assim como a um desejo profundo de descoberta e experimentação de novos códigos visuais, estéticos e artísticos. Ou seja, questionou-se o objecto a partir de dentro, portanto, a partir da componente conceptual que estaria na origem da sua forma.O objectivo deste livro é o de operar uma proposta de compreensão da arte desde o modernismo à actualidade, mediante uma perspectiva que cruza a história com a teoria e a crítica de arte, movimentando-se também, e sempre que oportuno, pelos territórios da filosofia e da estética.Inclui um extratexto de 24 páginas a cores. -
A Imagem no Enquadramento do Desejo: transitividade em pintura, fotografia e cinema«A visão seria um meio de sair do eu.»Maurice Merleau-Ponty Este ensaio debruça-se sobre a imagem artística, concretamente, sobre a imagem em pintura, fotografia e cinema. Por um lado, a imagem é pensada tanto na sua componente plástica e visual como na sua vertente comunicativa, eventualmente emotiva; por outro, a imagem é também contextualizada e analisada do ponto de vista dos domínios da estética e da história da arte, reportando-se ao contexto mais amplo da cultura visual. Pesamos sobretudo as relações entre os pressupostos estéticos e operantes dos suportes e linguagens em causa, mas sempre na problemática do desejo, do fascínio, da inquietação e, sobretudo, da transitividade. Trata-se de compreender a imagem na sua possibilidade de se expandir face à confinação formal do suporte a que pertence, evocando outros, apelando, ao mesmo tempo, ao entrosamento dos olhares de quem a produz e de quem a vê.Esta obra contém diversas ilustrações a cores e a preto e branco. -
Zona de RebentaçãoUma novela invulgar onde texto e imagem se aliam para narrar a cristalização do momento de mudança.Narrativa em torno de quatro personagens centrais, representantes de duas gerações, cujas vidas se vão cruzando numa história que traça um arco temporal entre 1968 e 2009, em lugares como Biarritz, Paris, Lisboa ou o Douro. A seu modo, todas as personagens se encontram em momentos de vida complexos, em algumas situações, até extremos. E, ao longo da narrativa, vão sendo desvendados ao leitor os diversos passados das personagens, as suas inquietações, os seus desejos, convocando-o para uma zona de rebentação, da qual todos anseiam, na verdade, poder sair. A obra junta vários capítulos cada qual acompanhado de uma fotografia, também da autora, que introduz cada capítulo e, em simultâneo, cria uma outra camada – visual – de leitura. -
Artes Plásticas e Crítica de Arte em Portugal nos Anos 70 e 80Este texto apresenta uma proposta de compreensão das artes plásticas e da crítica em Portugal nos anos setenta e oitenta, na sua relação com os conceitos de vanguarda e de pós-modernismo. Trata-se, num primeiro momento, de traçar uma perspetiva de caráter mais historicista e panorâmico, pautada pela fixação e cruzamento de informação, até à data apresentada de modo disperso ou monograficamente focado. E é precisamente a análise desta informação que nos leva a aceitar a hipótese de que estes conceitos nos permitem o entendimento deste panorama, conduzindo-nos, num segundo momento, a um exercício teórico e epistemológico de definição dos conceitos de vanguarda e de pós-modernismo, os quais, servem, portanto, de fios condutores deste estudo. Este trabalho culmina na análise da prática artística em Portugal no período em questão, concretamente nos eventos coletivos de artes plásticas que se propuseram, conceptual e objectualmente, interrogar e apropriar os conceitos de vanguarda e de pós-modernismo, procurando perceber se, não obstante os tempos e a intensidade da arte portuguesa maioritariamente não terem sido os mesmos dos centros artísticos mais eminentes, estas exposições - Alternativa Zero: Tendências Polémicas na Arte Portuguesa Contemporânea (1977), Depois do Modernismo (1983), Os Novos Primitivos: os Grandes Plásticos (1984), Atitudes Litorais (1984), Arquipélago (1985) e Continentes: V Exposição Homeostética (1986) - conseguem, a seu modo, enriquecer e transformar os conceitos em causa, permitindo uma redefinição da própria história da arte portuguesa deste período. -
Teorias da Arte - Do Modernismo à ActualidadeUm pequeno guia que traça a história e essência de cada movimento artístico da moderninade à pós-modernidade. Absolutamente fundamental para o investigador mas também para quem quer que queira perceber o mundo da arte contemporânea. Uma história das teorias da Arte do Modernismo até hoje. Um pequeno guia essencial para perceber as expressões artísticas. Com o advento do modernismo, e do movimento da arte moderna em geral, a arte conheceu uma transformação consideravelmente rápida e efectivamente avassaladora, que encontrou as suas origens em meados do século xix, com o profundo questionar do racionalismo e da ordem social burguesa, na encruzilhada de um conjunto impressionante de inovações tecnológicas que se juntava à designada crise da representação fortemente desencadeada pelo desenvolvimento da fotografia, nos anos 40 e, a partir de 1895, com a invenção do cinematógrafo , assim como a um desejo profundo de descoberta e experimentação de novos códigos visuais, estéticos e artísticos. Ou seja, questionou-se o objecto a partir de dentro, portanto, a partir da componente conceptual que estaria na origem da sua forma. O objectivo deste livro é o de operar uma proposta de compreensão da arte desde o modernismo à actualidade, mediante uma perspectiva que cruza a história com a teoria e a crítica de arte, movimentando-se também, e sempre que oportuno, pelos territórios da filosofia e da estética. Inclui um extratexto de 24 páginas a cores. *** Isabel Nogueira (n. 1974) é historiadora de arte contemporânea, professora universitária, ensaísta e crítica de arte. Doutorada em Belas-Artes, área de especialização em Ciências e Teorias da Arte (Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa) e pós-doutorada em História e Teoria da Arte Contemporânea e Teoria da Imagem (Universidade de Coimbra e Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne). É investigadora integrada do Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes/Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e colaboradora do Institut Æsthetica: Art et Philosophie / Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. É membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Portugal). É autora correspondente da revista Recherches en Esthétique. No domínio do ensaio, publicou as seguintes monografias: Do pós-modernismo à exposição Alternativa Zero (Nova Vega, 2007); Alternativa Zero (1977): o reafirmar da possibilidade de criação (CEIS20 / Universidade de Coimbra, 2008); Teoria da arte no século xx: modernismo, vanguarda, neovanguarda, pós-modernismo (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012; 2.ª ed. 2014); Théorie de lart au xxe siècle: modernisme, avant-garde, néo-avant-garde, postmodernisme (Éditions LHarmattan, 2013); Artes plásticas e crítica em Portugal nos anos 70 e 80: vanguarda e pós-modenismo (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013; 2.ª ed. 2015); Modernidade avulso: escritos sobre arte (Edições A Ronda da Noite, 2014); A imagem no enquadramento do desejo: transitividade em pintura, fotografia e cinema (Book Builders, 2016); Limage dans le cadre du désir: transitivité dans la peinture, la photographie et le cinema (Éditions LHarmattan, 2018). -
História da Arte em Portugal: do Marcelismo ao Final do Século XXAs artes plásticas e o pensamento crítico em Portugal, entre o início do Marcelismo (1968) e o final do século XX (2000), constituem um território profícuo de estudo, que tem vindo a despertar um interesse crescente. Passado algum tempo, e com um certo distanciamento, já se crê ser possível concretizar uma proposta de compreensão deste panorama, por vezes complexo e até contraditório, inclusivamente pelas mutações políticas, sociais e culturais que nesta época se operaram na vida portuguesa, nomeadamente com a Revolução de Abril de 1974 e a consequente queda do regime ditatorial, com todas as suas implicações e desenvolvimentos, mas também com o próprio caminho da estabilização na democracia e da adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1986, designada União Europeia (UE) a partir de 1992. O objecto de estudo desta obra centra-se em acontecimentos – nomeadamente, algumas exposições colectivas implicativas, artistas, obras, políticas culturais de fundo, instituições, ensino artístico, publicações periódicas da especialidade, problematização teórica e crítica, bem como uma ligação ao pano de fundo internacional. É na análise crítica da encruzilhada destes elementos que esta história da arte em Portugal se posiciona. Não obstante os tempos e a intensidade da arte portuguesa não terem sido, muitas vezes, os mesmos da arte ocidental – especificamente dos centros artísticos mais eminentes, como os Estados Unidos da América, a França, a Alemanha, a Itália ou o Reino Unido –, as exposições em causa e certos percursos individuais conseguem ir além da crença, mais ou menos comum, numa certa roupagem de importação – nomeadamente quando se faz alusão aos anos 70 portugueses –, pondo a hipótese da necessária reavaliação da própria história da arte em Portugal do período em análise, tornando-a parte efectivamente constitutiva do movimento mais vasto da história da arte ocidental. -
Crítica de Arte ou o Espaço entre a Obra e o MundoPodemos entender a crítica de arte como uma disciplina que tem por objectivo a análise, comparação, interpretação e avaliação das obras de arte, em relação directa com o juízo de gosto. A actividade crítica tem ainda a função de informar e de promover e, no contexto das sociedades contemporâneas, face à complexidade e rapidez de movimentos, estéticas e discursos, procura inclusivamente discutir o que é ou não arte e o modo como esta se insere e se relaciona no sistema geral da cultura e da sociedade. Por outras palavras, procura-se a compreensão da obra de arte e do seu contexto de produção e de recepção. Na verdade, a crítica de arte estabelece uma relação única e complexa entre a Obra e o Mundo. -
A Encantatória Visualidade - Textos sobre CinemaNeste livro estão reunidos alguns textos escritos ao longo de quase duas décadas, que têm em comum a reflexão sobre o cinema. Esta reflexão, sobretudo centrada em problemáticas da imagem, adquire diversas formas, nomeadamente, a relação do cinema com a história da arte e com alguns movimentos pictóricos relevantes, assim como com a arquitectura, com a política ou ainda com alguns movimentos sociais. Os textos, alguns um pouco encurtados relativamente aos originais, estão organizados por assunto, procurando-se, sempre que possível, estabelecer um encadeamento que confira fluidez à sua leitura.
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Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha). -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
Terra QueimadaEnsaio profético e demolidor, TERRA QUEIMADA (2022) expõe a forma como o complexo internético se tornou «motor implacável de vício, solidão, falsas esperanças, crueldade, psicose, endividamento, vida desbaratada, corrosão da memória e desintegração social». Nele, Jonathan Crary faz uma crítica radical da digitalização do mundo e denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica, a atomização provocada pelas redes sociais, a era digital como fase terminal do capitalismo planetário. «Se é possível um futuro habitável e comum no nosso planeta», conclui, «esse futuro será offline, dissociado dos sistemas e da actividade do capitalismo 24/7, que destroem o mundo». -
Mário Cesariny e Antonio Tabucchi - Cartas e outros TextosFernando Cabral Martins: «O surrealismo português já tinha atingido no final dos anos sessenta uma definição que tornava possível, de um ponto de vista exterior, descomprometido, fazer uma avaliação de conjunto.» Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta, Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970). Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura. Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos. [Maria José de Lancastre] Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em 1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a óbvia inteligência de Antonio Tabucchi. Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice- -versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar. [Fernando Cabral Martins]
