Escritos Corsários, Cartas Luteranas - Uma antologia
Pasolini é um dos ícones da Itália contemporânea. O seu nome, o seu rosto, o seu pensamento ainda se vêem correr, inconfundíveis, inclassificáveis, nessa espécie de “vitalidade desesperada”, que foi tanto a sua vida, como é a sua herança.No seu solitário modo, ele repete o arquétipo criador do renascimento: o artista intenta a globalidade do saber, transgride delimitações, considera a realidade um infinito laboratório. Anseia pela “expressão total”.Pasolini é poeta? Romancista? Dramaturgo? Cineasta? Polemista? Agitador? Herege? Como ele dizia, “penso em mim como em alguém que 'provém da crítica'” . Talvez seja esta apresentação o nexo que desenha a unidade de um percurso admirável e intenso, como poucos.Ao apresentar uma colectânea dos principais escritos de intervenção de Pasolini, a Assírio & Alvim propõe a compreensão das fases decisivas do seu notável e exigente empenho crítico.
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Testemunhos |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Pier Paolo Pasolini |
Pier Paolo Pasolini nasceu a 5 de março de 1922 em Bolonha. Filho de um militar, seguiu o pai nas várias mudanças de terra, mas frequentou o liceu e a faculdade em Bolonha, onde teve foi aluno de Gianfranco Contini e Roberto Longhi. Passava os Verões em Casarsa, na região do Friuli, cidade de origem da mãe. Aí se refugiou, em 1943, para fugir à incorporação no exército. Compôs os primeiros poemas em dialecto friulano, Poesie a Casarsa (1942), publicados mais tarde, com outros textos friulanos, em La Meglio Gioventù (1958). Em 1945, soube que o irmão mais novo, Guido, tinha sido morto pelos titistas num conflito entre dois grupos de partigiani. Em 1947, inscreveu-se no Partido Comunista. Trabalhou como professor, numa aldeia perto de Casarsa, mas seria despedido e expulso do PCI por um obscuro episódio de alegada corrupção de menores. Esse foi o primeiro de uma enorme lista de processos (mais de 30) que deram a Pasolini a consciência da sua diversidade e marcaram o seu destino de marginalizado e rebelde.
Devido ao escândalo, em 1949, teve de deixar Casarsa, com a mãe (a relação com o pai já estava estragada), e mudou-se para Roma, vivendo primeiro na periferia e ganhando a vida com explicações e ensino em escolas particulares. A descoberta do mundo do sub-proletariado romano inspirou-lhe - para além de poemas em As Cinzas de Gramsci (1957) e A Religião do Meu Tempo (1961) ( escritos depois de O Rouxinol da Igreja Católica (1943 - 1949, ou seja, antes de As Cinzas de Gramsci) - sobretudo os romances Vadios (1955) e Uma Vida Violenta (1959), que provocaram grande escândalo, mas lhe asseguraram o primeiro êxito literário. Com os antigos colegas da faculdade Francesco Leonetti e Roberto Roversi dirigiu, entre 1955 e 1959, a revista Officina, onde colaboraram, entre outros nomes importantes da militância crítica, Franco Fortini e Paolo Volponi.
Começou entretanto a sua atividade no mundo cinematográfico: colaborou em alguns guiões (entre as quais As Noites de Cabiria de Federico Fellini e La Notte Brava ou O Belo António de Bolognini), e a partir de 1961, realizou vários filmes entre os quais Accattone (1961), Mamma Roma (1962), La Ricotta (1962), Comizi d'Amore (1964), O Evangelho Segundo Mateus (1964),Passarinhos e Passarões (1966), Édipo Rei (1967), Teorema (1968), Medeia (1969), Pocilga (1969) Decameron (1971), Os Contos de Cantuária (1972) As 1001 Noites (1974) e Salò ou os 120 Dias de Sodoma (1975).
Nos anos 60. publicou Il Sogno di Una Cosa (escrito em 1949), mais poemas (Poesia in Forma di Rosa, 1964, Trasumanar e Organizzar, 1971), e foi muito ativo como crítico em vários diários e revistas (entre outras, dirigiu com Alberto Moravia e Alberto Carocci a Nuovi Argomenti), atividade que, depois da coletânea Passione e Ideologia, esteve na origem de muitas publicações, parcialmente póstumas: Empirismo Herético (1972), Escritos Corsários (1975), Descrizioni di Descrizioni (1979).
Para além de várias peças inacabadas que escreveu na juventude e da tradução de cássicos (Ésquilo, Plauto), a sua produção teatral é composta por seis tragédias, cinco delas escritas em 1966: Calderón, Afabulação, Pílades, Pocilga, Orgia e Besta de Estilo que começou a escrever em 1966 e prosseguiu até 1973, tendo ficado inacabada.
Pier Paolo Pasolini morreu assassinado, em Ostia, em 1975.
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Empirismo Herege“Empirismo Herege é, em suma, um livro dinâmico e movimentado, um livro em que o seu autor demonstra já em pleno a sua exigência de expressão interventiva a múltiplos níveis: a exigência de um testemunho que, portanto, já não pode ser apenas literário. O eixo da sua investigação, exactamente por isso, desloca-se para novas direcções, embora mantendo constantemente fixa, no fundo, uma confiança inabalável na sua mensagem poética.”Excerto da introdução a este livro. -
Poemas“Foi a minha mãe quem me mostrou que a poesia pode ser materialmente escrita, e não apenas lida na escola (“Vítreo é o ar…”). Misteriosamente, um belo dia, a minha mãe mostrou-me um soneto, escrito por ela, em que confessava o seu amor por mim (soneto que, devido, provavelmente, a certas exigências de rima, terminava com as seguintes palavras: “amor, sabes, tenho tanto e tanto” ). Uns dias depois, escrevi os meus primeiros versos, em que falava de “rouxinol” e de “verdura”. Creio que, por essa altura, não saberia distinguir um rouxinol de um tentilhão, ou um choupo de um ulmeiro: e aliás, como é evidente, na escola (por obra e graça da senhora Ada Costella, toscana, minha professora naquele inesquecível segundo ano), Petrarca não era lido. Por conseguinte, não sei onde aprendi o código clássico da eleição e da selecção linguísticas. O facto é que, sem me preocupar com a “abundantia cordis” da minha mãe, comecei por ser rigidamente “selectivo” e “electivo”.Desde então, escrevi colecções inteiras de livros de versos: aos treze anos, foi o poema épico (da Ilíada a Os Lusíadas). Não me esqueci do drama em verso, nem evitei, com a adolescência, o encontro inevitável com Carducci, Pascoli e D’Annunzio, numa fase que começou em Scandiano — no liceu de Reggio Emilia, para onde tinha de me deslocar todos os dias — e terminou em Bolonha, no Liceu Galvani, em 1937, ano em que um professor substituto — Antonio Rinaldi — leu na aula um poema de Rimbaud.”Pier Paolo Pasolini -
Uma Vida ViolentaPublicado pela primeira vez em 1959, Uma Vida Violenta foi unanimemente considerado pela crítica italiana um dos romances mais importantes do pós-guerra. Juntamente com Ragazzi di Vita (e os filmes Accatone e Mamma Roma), este livro assinala o aparecimento de uma realidade social que não recebera ainda expressão literária: a emergência de um subproletariado da periferia romana, um universo degradado surgido de uma cidade destruída pelos bombardeamentos da segunda guerra mundial e alimentada pelas vagas migratórias do êxodo rural que se seguiu à guerra.Uma Vida Violenta é uma narrativa cruamente realística, onde os personagens, jovens marginais cínicos e amorais, são ao mesmo tempo redimidos pela sua humanidade infantil, primitiva, quase instintiva. Uma tal proposta, que talvez hoje seja vista como o retrato de um passado esbatido dos seus aspectos mais chocantes, não poderia deixar de escandalizar na época. Quando em 1959 lhe foi atribuído o "Prémio Literário Città de Crotone" (por um júri de que faziam parte Carlo Emilio Gadda, Moravia, Ungaretti, Bassani, De Benedetti) gerou-se um verdadeiro terramoto de indignação e críticas, sobretudo das organizações católicas, mas também do Partido Comunista. Tão controverso como o seu autor, este romance é indubitavelmente uma obra fundamental da literatura da nossa época, e indispensável para conhecer a inteira dimensão da obra pasoliniana. Longe de servir efeitos coloridos e pitorescos, o calão foi aqui utilizado por Pasolini para dar uma representação "lúcida e impiedosa das pessoas e dos actos, do ambiente e da fatalidade" dos subúrbios romanos, no dizer de Carlo Emilio Gadda. -
A NebulosaA Nebulosa (1959) impôs a Pasolini «vinte dias atrozes fechado num hotelzito a trabalhar como um cão». Guião literário escrito em 1959, irreconhecível no filme Milano nera (1961), e que se lê como um romance negro, apenas em 1995 foi resgatado ao esquecimento. Texto febril e colérico, A Nebulosa mergulha na periferia de uma Milão envolta em névoa, com «fieiras de luzes e de prédios envidraçados», onde um grupo de teddy boys , numa estonteante noite de fim de ano, afoga na mais extremada violência as suas frustrações . Nesta ronda frenética com contornos de Laranja Mecânica , em que só néons de bares pontuam a longa noite sem estrelas da juventude tentada pelo abismo, estão na mira de Pasolini a perversão moral engendrada pela sociedade afluente e o seu desprezo por tudo. A mesma perversão moral que, suspeita-se, terá selado o destino trágico de Pasolini. -
O Odor da ÍndiaA cada momento há um cheiro, uma cor, um sentido que é a Índia Em 1961, Pasolini visitou a Índia pela primeira vez. As emoções e sensações vividas são tão intensas que o levam a escrever este diário de viagem. Pasolini vagueia atentamente pela caótica realidade que encontra, uma Índia que é terna e bárbara, mágica e miserável, oprimida por tradições em declínio e, ainda assim, vibrante de cor e vida. Os templos de Benares, as noites de Bombaim, todo o encanto de uma terra fascinante e, ao mesmo tempo, o horror da existência que aí nos conduz são transmitidos com a originalidade de um dos maiores escritores italianos. -
Entrevistas Corsárias - Sobre a Política e sobre a Vida«"Tenho a vida de um gato", dizia Pasolini. E então ria, oferecendo-se ao risco de viver com uma espécie de alegria que talvez fosse a sua única alegria. Temia a protecção dos objectos, temia a protecção da ideologia, até mesmo a protecção dos pensamento sábios, do bom senso. De quando em vez, rompia o invólucro para sentir na cara a solidão e o risco das coisas que ele estimava profundamente. Tudo, dito ou não dito, parecia nele exprimir a ideia fixa: não há nada a fazer, não há como escapar. Então para quê se proteger, para quê se adaptar aos adarves das coisas meio feitas, meio ditas, meio aceites? Brincava com o privilégio (do cinema, do sucesso) como o ilusionista Houdini, com correntes cada vez mais robustas, baús mais profundos e risco cada vez mais "inevitáveis". Neste jogo horrendo tornava-se profeta. Um estranho profeta, ágil, de atalaia, precisamente porque se desarmara e afastara de todas as formas de protecção e de alianças.»Tradução de João Coles. -
A Longa Estrada de AreiaEste é um relato surpreendente. Partindo de uma encomenda que lhe é feita pela revista Successo, e publicada entre Junho e Setembro, Pier Paolo Pasolini faz-se à estrada ao longo de toda a costa italiana entre Junho e Agosto de 1959. Um Pasolini alegre parte da fronteira com a França, descendo em direcção à Sicília — até à «mais pobre e distante praia de Itália» —, e subindo depois pela costa oriental, até Trieste, onde «termina a Itália, termina o Verão».A Longa Estrada deAareia é, de certa forma, um preâmbulo para as repérages dos filmes que realizará – Accatone estreia em 1961 —; e da travessia pelas praias de Itália no Verão de 1963, que dará origem ao filme-inquérito Comícios de amor, onde interroga a sociedade italiana a propósito da sexualidade.Este tour singular, veloz e solitário, revela a Itália dividida entre o arcaico e o moderno, os lidi e as estâncias balneares para os ricos - de San Remo a Viareggio, de Forte dei Marmi a Capri - e as praias mais populares, tanto para a burguesia (já inoculada pelas aspirações do boom consumista), como para o povo comum - de Maratea a Taranto, de Brindisi a Riccione.Com breves paragens, sem se deter por mais do que algumas horas em cada lugar, Pasolini descreve o que vê e lhe acontece, ansioso pelos encontros que o ambiente estival lhe trará e que lhe permitem traçar o retrato de uma Itália despida junto ao mar e da transformação por que passam os lugares e as suas gentes.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».
