A par da análise teórica em comunicação e media e da investigação nas tecnologias da gravação sonora e nos inquéritos de audiências, o livro examina as áreas de produção radiofónica (Lisboa, Santarém, Guarda), programas como Página 1, folhetim Simplesmente Maria e produtores independentes (Parodiantes de Lisboa e Espaço 3P). Um capítulo enfatiza as biografias profissionais e outro relaciona os prémios anuais da rádio (patrocinados pela Casa da Imprensa) com a evolução política do país nas décadas de 1960 e 1970. O livro reserva ainda espaço a escritores da rádio (José do Nascimento, Álvaro de Andrade e José Matos Maia), radialistas que procuraram pensar a história do meio, e dirigentes da rádio que elaboraram pensamento sobre práticas e estéticas (Fernando Curado Ribeiro e José Manuel Serra Formigal).
ROGÉRIO SANTOS é doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Lecciona na licenciatura e mestrado de Comunicação na Universidade Católica Portuguesa, onde também coordena a área científica de Ciências da Comunicação e pertence ao conselho editorial da revista Comunicação e Cultura e ao Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC). Integra, também, os corpos sociais do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo) e é membro fundador da SOPCOM (Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação). No CIMJ, é membro do conselho editorial da revista Media & Jornalismo e foi investigador em projectos financiados pela Fundação Ciência e Tecnologia. Tem também uma relação muito próxima com o Obercom (Observatório da Comunicação), de que foi vogal no primeiro conselho directivo. Dos livros que publicou, destacam-se A Negociação entre Jornalistas e Fontes (Minerva, Coimbra, 1997), Os Novos Media e o Espaço Público (Gradiva, Lisboa, 1998), Jornalistas e Fontes de Informação a sua Relação na Perspectiva da Sociologia do Jornalismo (Minerva, Coimbra, 2003), As Vozes da Rádio, 1924-1939 (Editorial Caminho, 2005) e A Fonte não Quis Comentar um Estudo sobre a Produção das Notícias (Campo das Letras, Porto, 2006). É co-autor de O Estudo do Jornalismo Português em Análises de Caso (Caminho, Lisboa, 2001) e de Rumo ao Cibermundo? (Celta, Oeiras, 2000). De 2003 a 2005 dirigiu a revista MediaXXI.
As indústrias culturais remetem para o universo de reprodução técnica [registo e difusão) da cultura, casos da televisão, cinema, música e fotografia. Um bem cultural torna-se acessível a qualquer pessoa graças à cópia ou ao envio de ficheiro pela internet. Mais recentemente, ganharam força as indústrias criativas, presentes nas artes do espectáculo e cuja articulação com a publicidade, vídeo, actividades de lazer e indústrias culturais contribui para a formação do PIB de um país ou região.
O livro resulta do cruzamento de vários caminhos teóricos e práticos, como a reflexão a partir do texto fundador de Adorno e Horkheimer sobre indústrias culturais e a análise destas actividades com especialistas e estudantes universitários. Inclui-se também a compreensão dos grupos receptores: audiências de televisão, consumidores de centros comerciais, fãs de bandas musicais ou jogos como o Sudoku.
O ponto de partida do livro é o blogue Indústrias Culturais (http://industrias-culturais.biogspot.com], espaço que o autor alimenta diariamente e onde observa e comenta a realidade dos acontecimentos, faz a leitura de livros e artigos de jornais sobre a área e partilha os mesmos assuntos com outros investigadores ou simples leitores.
A uma curta e inicial fase da rádio, com amadores pioneiros e estações efémeras, sucedeu um período de estabilidade organizativa, cujos profissionais alicerçaram conhecimentos na prática. As estações privadas lisboetas ganharam corpo até final da década de 1930, aguentando as dificuldades da guerra em Espanha e no mundo e as muitas carências em Portugal. A rádio como indústria seguiu os caminhos de sucessos e fracassos da situação nacional. Por isso, relacionam-se picos de atividade da rádio e a sua ação cultural e estética com a realidade social, política e económica. Grande parte do tempo aqui narrado decorreu em ditadura, com a ausência de liberdade de expressão agravada pela guerra colonial (1961-1974). Profissionais foram banidos da rádio ou viram programas suspensos. Com a revolução de abril de 1974, o período desse e do ano seguinte conduziu a profundas mudanças na produção radiofónica, com vicissitudes várias e onde se definiram novas linhas de conduta política e cultural. [Rogério Santos]
O livro apresenta a vida das rádios privadas em Lisboa, da sua origem, na década de 1920, até 1975. As estações incluídas no estudo são Rádio Clube Português e Rádio Renascença, ambas formadas na década de 1930, e Emissores Associados de Lisboa, grupo radiofónico nascido em 1950 mas com existência vinda de trás a partir de pequenas estações familiares (minhocas). Na obra, enfatizam-se programas radiofónicos (variedades, folhetins, desporto, humor e diálogos), publicidade, fusões e grupos multimédia, passagem das emissões em direto para programas gravados, profissionais e produtores independentes, serviços de informação, censura e utilização da rádio pelo poder político. As emissoras pioneiras da segunda metade da década de 1920, em capítulo inicial, apesar de amadoras e terem cessado atividade poucos anos depois, definiram muitas das práticas radiofónicas, caso das transmissões desportivas e do uso da voz do locutor como elemento encantatório da rádio. O livro destaca ainda o período de 1974-1975 e as lutas políticas e culturais que conduziram nomeadamente à ocupação de estúdios e antenas de Rádio Renascença. A Emissora Nacional, estação pública e com sede nacional em Lisboa, não aparece aqui, porque objeto de anterior investigação pelo autor.
A Rádio Colonial em Angola. Festas e Rifas para Comprar o Emissor é um livro sobre a rádio ouvida e feita em Angola durante a época colonial, do arranque de emissões em ondas curtas da Emissora Nacional (1936) à independência do país (1975). Ao longo do tempo, a radiodifusão seguiu vários caminhos: programas enviados de Lisboa, constituição de rádio governamental em Luanda e de rádios clubes, estes compostos por associações sem fins lucrativos nas várias cidades da colónia, e, no conjunto, organizações dirigidas para escolhas ideológicas a quase ignorarem a população de origem africana, vista como grupo a educar ou simplesmente subversiva. Aqui, incluo programas em línguas nacionais, a indicarem resistência política, e escuta de emissões, caso das elaboradas pelos movimentos de libertação.