Memórias de um Estrangeirado - Seguidas de Dany le Rouge ou o meu Maio de 68 e o meu 25 de Abril
“(…) Significativamente, quer Memórias, quer as duas referências que se lhe seguem – Dany le Rouge ou o meu Maio 68 e O meu 25 de Abril – estão enredadas em instituições escolares, portuguesas e estrangeiras, em cujo circuito se processa uma boa parte da vida de João Medina e de sua Família. Este professor universitário que, na qualidade de aluno e de docente, pisou o solo de múltiplas escolas, lembra essa experiência, não como um privilegiado espaço de desenvolvimento cultural, mas, quase sempre de cáustico ânimo, como instituição onde a cultura, se algum dia aí penetrou, acabou por se estiolar, perpetuando-se camufladamente em solenes títulos e em reputadas individualidades. O testemunho de João Medina, sobre a instituição escolar, designadamente a de nível superior, alerta, quase sempre de forma indirecta, não só para articulação da crise da escola com a da cultura como também para prioridade desta sobre aquela, sendo por isso legítimo concluir que a reclamada reforma da escola, sentida nos nossos dias, carecerá de consistência, se não for preparada por uma profunda reflexão sobre a cultura, que não existe no interior da escola, uma vez que a esta se tem pedido a transmissão de um dessorado saber, não uma acção cultural vivificante. É tempo de os reformadores das nossas escolas, os quais aliás abundam, produzidos pelas frequentes alternâncias políticas, olharem para os diagnósticos de muitos dos nossos escritores, particularmente dos que apelam à dinâmica cultural.”
[do Prefácio de Joaquim Cerqueira Gonçalves, OFM]
| Editora | Colibri |
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| Editora | Colibri |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | João Medina |
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Judeus e NazisNeste livro reúnem-se três estudos, o primeiro sobre Benito Espinosa (1632-1677), o segundo sobre Eça de Queiroz (1845-1900) e a questão Dreyfus, ocorrida nos derradeiros anos da estadia do romancista em França, e ainda sobre os personagens judeus dos seus romances, assim como das suas crónicas acerca do primeiro-ministro inglês Benjamin Disraeli (1804-1881), filho de um judeu que se baptizara cristão (1817) e que foi primeiro-ministro ligado à edificação de um grande império colonial inglês no mundo, além de romancista de talento, falecido quando o autor d’Os Maias era cônsul na Grã-Bretanha. E o terceiro, o mais extenso, sobre o panfleto Mein Kampf (1925) de Adolf Hitler (1889-1945), obra que é examinada como bíblia do ideário nazi, racista e totalitário, ditado a Rudolf Hess quando este dirigente nascido na Áustria e depois naturalizado alemão, se encontrava preso na prisão de Landsberg, em 1924, após o falhado golpe de Estado da cervejaria bávara, em 8-9 de Novembro de 1923. À análise desta obra fundamental como sincero e assumido ideário e programa genocida, racista e totalitário posto em prática desde 1933 a 1945, acrescenta-se ainda nesta terceira parte um estudo iconológico sobre o significado de dois emblemas, aliás antagónicos, a suástica (ou cruz gamada), tornada símbolo do partido nazi, e incluída depois na bandeira do III Reich, e a estrela judaica de seis pontas ou hexalfa, também chamada escudo de David ou signo de Salomão (ou "sino simão" em português, estudado pelo etnólogo José Leite de Vasconcelos, em 1918). -
O "Presidente-Rei" Sidónio PaisEsta obra sobre o “Presidente-Rei”, como lhe chamaria Fernando Pessoa, associa a investigação completa e rigorosa à escrita fluente que se torna um prazer de leitura. Aqui é apresentada a análise da acção política de Sidónio Pais, que teve indubitável apoio nacional durante a sua vigência que decorreu até que foi morto a tiro à entrada da estação do Rossio por um Republicano exaltado. São aqui também alvo de estudo as intenções e o consulado de Sidónio Pais, bem como a sua pertença à Maçonaria portuguesa. Uma obra de invulgar qualidade literária e científica que faz uma análise cabal também dos paradoxos do percurso político deste chefe de Estado. O autor, João Medina, é Professor catedrático de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; nasceu em Moçambique em 1939; licenciou-se em Filosofia na Universidade de Lisboa; doutorou-se em em Sociologia na Universidade de Estrasburgo, tendo ensinado na Universidade de Aix-en-Provence (França). Em Portugal foi Director-Geral no Ministério da Comunicação Social (1975-1977); desde 1988 é professor catedrático de História na faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ensinou ainda nas universidades de Colónia (Alemanha), Pisa (Itália), São Paulo (Brasil) e nos Estados Unidos. Tendo realizado um vasto percurso como conferencista, colaborador e cronista em vários países em todo o mundo. -
Dois Exilados AlemãesO século XX foi um dos mais bárbaros, homicidas e catastróficos da história da humanidade, uma centúria de exílios e exilados, de apátridas individuais e colectivos, de grupos nacionais, políticos, religiosos ou étnicos perseguidos, expulsos, violentamente forçados à imigração ou encerrados em campos de concentração – pensemos nos judeus, arménios, chechenos, tártaros, ciganos, palestinianos, irlandeses, além de minorias religiosas, políticas ou culturais, sem esquecer, por fim, categorias demonizadas como os homossexuais ou algumas confissões, partidos políticos e seitas religiosas, ou seja, fracções humanas que, por este ou aquele crime “ideológico” ou “rácico” eram desligadas à força das comunidades nacionais a que pertenciam e lançados de modo arbitrário e coercivo nos caminhos da expatriação ou em cárceres. -
Memórias do Gato que RiGato de pêlo cinzento e espírito anarquista, sempre muito sarcástico, grande apreciador de café, cigarrilhas, nêsperas e broas de mel, sem falar da sua paixão por traduzir poesia em espanhol e inglês, o bichano Zé Maria conta ao narrador deste livro, na leitaria Via Láctea, à Lapa, a sua vida – e a do seu dono (que aliás, se mantém sempre teimosamente anónimo) – desde que nasceram ambos em Moçambique, viveram em Lisboa e depois regressaram a Lourenço Marques. Este Zé Maria está sempre ao lado do seu dono, excepto quando este é internado num colégio lisboeta, acompanhando-o depois no exílio francês, primeiro na Alsácia e depois na Provença, tendo regressado ambos a Portugal após o 25 de Abril, fazendo neste livro a sua jovial autobiografia politicamente incorrecta, ao mesmo tempo que nos vai narrando as aventuras dos anos de universidade, de luta contra o salazarismo, das suas leituras e outras gandais: tudo somado dá o retrato irónico, quando não vitriólico, de toda uma geração que fez greve universitária de 1962 e, assistiu, mais tarde, a Maio 68 em França, assim como se desenha ainda o retrato de uma família ligada ao mundo colonial português, sobretudo nas suas incríveis, grotescas e divertidas figuras femininas – a tia Clementina, a prima Palmira… Recordações ficcionadas (ou ficção memorialística?), estas Memória do Gato que Ri evocam de maneira mais irreverente, cómica e, por vezes, melancólica, o trajecto de uma geração nascida no começo da II Guerra Mundial, mais os seus sonhos e delírios, as aventuras e as desventuras de todo um Portugal que, apesar de imaginário, se parece com todos nós, pois é feito com retratos autênticos de muitos de nós. -
Ulisses - O EuropeuULISSES, a quem é dedicada esta obra de louvor, simplificação e actualização, não será guerreiro nem violento, antes continuará as qualidades do “homem fértil em recursos”, cantado por Homero. Nele encontramos ainda as qualidades comuns a Franceses, Ingleses, Espanhóis, Dinamarqueses, Portugueses, Alemães, etc., ou seja, o que de melhor existe no ethos europeu, na cultura europeia, na psyche europeia também: um homem do espírito, da inteligência, da convivência democrática. Actualizar Ulisses, vesti-lo à nossa maneira hodierna, diante dos desafios que o esperam nesta marcha para a construção da Europa de Maastricht é fazer dele um herói democrata, alguém que demanda uma Ítaca de democracia e prosperidade. Cada época o sonhou à sua maneira, e a nossa, cansada de espadeiradas, de tanto sangue vertido e tanto fumo acre saído das chaminés de Auschwitz, farta de dogmas e de absolutos, prefere um herói que brilhe pela palavra e pela argúcia, pela eloquência e pela ousadia calma. Um homem que, em plena guerra de Tróia, um companheiro de armas definia como aquele que sabia pensar superiormente. -
Reler Eça de QueirozEsta obra é constituída por cinco ensaios que estudam, numa perspectiva diferente e inovadora, a obra do grande escritor, desde a "campanha alegre" das Farpas (1871-72) até Os Maias (1888). A abrir, um estudo sobre o "riso que peleja" do alistado escritor e crítico que é o Eça moço, com os seus 25/26 anos. A partir dos textos primitivos das Farpas de Eça, procura-se mostrar, como nunca se tinha feito até agora, o que é que estes textos combativos trazem de novidade como agudíssima crítica de ideias e implacável crítica social para com o país que, mais tarde em romances, Queiroz continuaria a satirizar, de modo a entender-se que é nas páginas das Farpas que realmente começa o romancista. Três destes romances são em seguida examinados: O Primo Basílio (1878), A Relíquia (1887) e Os Maias. Dois ensaios perspectivam o primeiro a partir do confronto dramático e, por fim, fatal, de duas mulheres, a jovem e bela Luísa, burguesa fútil e ociosa, e a feia e azeda criada Juliana. Segue-se um estudo sobre A Relíquia, sátira ao farisaísmo católico lusitano, obra divertida mas cruel que teve um acolhimento furibundo por parte do "establishment" português, impiedosamente retratado. O livro conclui com a comparação entre duas obras fundamentais das literaturas ibéricas, Os Maias e Fortunata y Jacinta de Perz Galdós, duas grandes máquinas romanescas com uma profunda articulação com a História de Portugal e de Espanha, obras publicadas quase ao mesmo tempo, e em muitos aspectos com propósitos críticos semelhantes, embora em quase tudo distintas. Este cotejo ajuda-nos a compreender melhor o significado profundo da nossa obra prima do romance que é Os Maias. Depois de Eça de Queiroz e o Seu Tempo (1972), de Eça Político (19749 e de Eça de Queiroz e a Geração de 70 (1980), João Medina apresenta-nos aqui uma densa e inovadora análise do nosso maior romancista do século XIX, obra que decerto renova os estudos queirozianos em Portugal. -
O Meu Diário Íntimo – 2019-2020A própria Via Láctea onde nos situamos solitários e sem conhecer outras quaisquer civilizações galácticas possíveis e mesmo muito prováveis, para nos mantermos numa escala pequena, deve albergar num do seus recantos outros seres racionais que nos poderiam encontrar e connosco comparar os seus códigos, realizações próprias e diferentes das nossas, as suas bibliotecas, saberes e artes de algum modo semelhantes ou equivalentes aos nossos, mesmo que esses extra-terrestres assumissem uma forma física diferente da nossa (...), fica-se com a angústia de não entendermos porque razão demora tantos séculos o nosso quase certo encontro com esses nossos prováveis vizinhos cósmicos, reduzidos que estamos às nossas efémeras existências singulares de homens terrestres e mortais que nunca tiveram o ensejo de se cruzar com esses outros seres inteligentes também perdidos num qualquer recanto do cosmos, próximo ou mesmo inimaginável pelos nossos tímidos astronautas.
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O Príncipe da Democracia - Uma Biografia de Francisco Lucas PiresNenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.Em O Príncipe da Democracia, Nuno Gonçalo Poças reconstitui o percurso e as ideias deste homem invulgar, cujo legado permanece em grande parte por cumprir, e passa em revista os seus sucessos e fracassos. O resultado é um livro que, graças à absoluta contemporaneidade do pensamento do biografado, nos ajuda a compreender as grandes questões que o país e a Europa continuam a enfrentar, mostrando-nos, ao mesmo tempo, uma elegância política difícil de conceber quando olhamos hoje à nossa volta.Mais do que um retrato elucidativo de Lucas Pires, que partiu precocemente aos 53 anos, este é um documento fundamental para responder aos desafios do futuro, numa altura em que o 25 de Abril completa meio século. -
A DesobedienteA dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem. -
Emílio Rui VilarMemórias do país da ditadura e do alvor da democracia em Portugal. A vida de Emílio Rui Vilar atravessou as principais mudanças da segunda metade do século XX. Contado na primeira pessoa, um percurso fascinante pelo fim do regime de Salazar e Caetano e pela revolução de Abril.Transcrevendo entrevistas realizadas ao longo de vários meses, este livro recolhe o relato na primeira pessoa de uma trajetória que percorreu o início da contestação ao Estado Novo no meio universitário, a Guerra Colonial, a criação da SEDES, o fracasso da “primavera marcelista” e os primeiros anos do novo regime democrático saído do 25 de Abril, onde Emílio Rui Vilar desempenhou funções governativas nos primeiros três Governos Provisórios e no Primeiro Governo Constitucional. No ano em que se celebram cinco décadas de democracia em Portugal, este livro é um importante testemunho sobre dois regimes, sobre o fim de um e o nascimento de outro. -
Oriente PróximoCom a atual guerra em Gaza, este livro, Oriente Próximo ganhou uma premente atualidade. A autora, a maior especialista portuguesa sobre o assunto, aborda o problema não do ponto de vista geral, mas a partir da vida concreta das pessoas judeus, árabes e outras nacionalidades que habitam o território da Palestina. Daí decorre que o livro se torna de leitura fascinante, como quem lê um romance.Nunca se publicou nada em Portugal com tão grande qualidade. -
Savimbi - Um homem no Seu MartírioSavimbi foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e acções encobertas de segurança com o objectivo de o desacreditar e isolar. Se não aceitasse o exílio ou a sujeição, como foi o objectivo falhado dessa campanha, o fim último era matá-lo, como aconteceu: premeditadamente! Para que a sua «morte em combate» não suscitasse empatia, foi como um chefe terrorista da laia de Bin Laden que a sua morte foi apresentada – artifício da propaganda que tirou partido da memória emocional recente dos atentados da Al Qaeda, na América. Julgado com honestidade, Savimbi nunca foi o «bandido» por que o fizeram passar. O manifesto apreço que personalidades de indiscutível clareza moral, como Mandela, tiveram por ele prova-o. O MPLA elegeu-o como adversário temido e quis apagá-lo do seu caminho! Não pelos crimes a que o associaram. O que o MPLA e o seu regime temiam eram as suas qualidades e carisma, a sua representatividade política e o prestígio externo que granjeara. Como outros grandes da História, Savimbi também tinha defeitos e cometia erros. Mas no deve e haver as suas qualidades eram preponderantes." -
Na Cabeça de MontenegroLuís Montenegro, o persistente.O cargo de líder parlamentar, no período da troika, deu-lhe o estatuto de herdeiro do passismo. Mas as relações com Passos Coelho arrefeceram e o legado que agora persegue é outro e mais antigo. Quem o conhece bem diz que Montenegro é um fiel intérprete da velha tradição do PPD, o partido dos baronatos do Norte. Recusou por três vezes ser governante e por duas vezes foi derrotado em autárquicas. Já fez e desfez alianças, esteve politicamente morto e ressuscitou. Depois de algumas falsas partidas chegou à liderança. Mas tudo tem um preço e é o próprio a admitir que se questiona com frequência: será que vale a pena? -
Na Cabeça de VenturaAndré Ventura, o fura-vidas.Esta é a história de uma espécie de Fausto português, que foi trocando aquilo em que acreditava por tudo o que satisfizesse a sua ambição. André Ventura foi um fura-vidas. A persona mediática que criou nasceu na CMTV como comentador de futebol. Na adolescência convertera-se ao catolicismo, a ponto de se tornar um fundamentalista religioso. Depois de ganhar visibilidade televisiva soube pô-la ao serviço da sua ambição de notoriedade. Passou pelo PSD e foi como candidato do PSD que descobriu que havia um mercado eleitoral populista e xenófobo à espera de alguém que viesse representá-lo em voz alta. Assim nasceu o Chega. -
Contra toda a Esperança - MemóriasO livro de memórias de Nadejda Mandelstam começa, ao jeito das narrativas épicas, in media res, com a frase: «Depois de dar uma bofetada a Aleksei Tolstói, O. M. regressou imediatamente a Moscovo.» Os 84 capítulos que se seguem são uma tentativa de responder a uma das perguntas mais pertinentes da história da literatura russa do século XX: por que razão foi preso Ossip Mandelstam na fatídica noite de 1 de Maio de 1934, pouco depois do seu regresso de Moscovo? O presente volume de memórias de Nadejda Mandelstam cobre, assim, um arco temporal que medeia entre a primeira detenção do marido e a sua morte, ou os rumores sobre ela, num campo de trânsito próximo de Vladivostok, algures no Inverno de 1938. Contra toda a Esperançaoferece um roteiro literário e biográfico dos últimos quatro anos de vida de um dos maiores poetas do século XX. Contudo, é mais do que uma narrativa memorialística ou biográfica, e a sua autora é mais do que a viúva mítica, que memorizou a obra proibida do poeta perseguido, conseguindo dessa forma preservar toda uma tradição literária. Na sua acusação devastadora ao sistema político soviético, a obra de Nadejda Mandelstam é apenas igualada por O Arquipélago Gulag. O seu método de composição singular, e a prosa desapaixonada com que a autora sonda o absurdo da existência humana, na esteira de Dostoievski ou de Platónov, fazem de Contra toda a Esperança uma das obras maiores da literatura russa do século XX.