O Verão Selvagem dos Teus Olhos
«E pergunto a mim mesma se a eternidade será isto, recordar uma e outra vez, um vestido, um beijo, um dia de Outono, a primeira neve, os meus cães. As coisas essenciais. O nome das rosas e as frases dos livros, o tempo em que alguém nos amou, o jardim que fizemos com as nossas mãos.
Estão a preparar o baile. Já passou um ano e estão a preparar o baile de máscaras, como se nada tivesse acontecido. Como se a dona da casa não tivesse morrido.
É Danny que organiza tudo, e parece fazê-lo com uma alegria quase selvagem. A princípio achei estranho, porque ela sente a minha falta mais do que ninguém.
Eu estava na galeria quando ela levou a rapariga a ver o retrato de Caroline. E então percebi que tinha um plano.»
Ana Teresa Pereira retoma neste romance a personagem Rebecca, de Daphne du Maurier, inserindo-a no seu universo ficcional.
| Editora | Relógio d' Água |
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| Categorias | |
| Editora | Relógio d' Água |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Ana Teresa Pereira |
Ana Teresa Pereira nasceu em 1958 no Funchal, onde vive. Ainda estudante e guia intérprete, viu publicado em 1989 o seu primeiro livro, Matar a Imagem, com o qual ganhou o Prémio Caminho Policial. Em 1990 na coleção Campo da Palavra publicou o romance As Personagens. Estreou-se na literatura infantil com A Casa da Areia e A Casa dos Penhascos, dando assim início a uma nova coleção para jovens. Desde o seu primeiro livro tem vindo a publicar regularmente. A singularidade da sua temática e a concisão da sua escrita dão a Ana Teresa Pereira um lugar próprio na literatura portuguesa atual.
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Fugue StatesAna Teresa Pereira reviu alguns dos seus contos e escreveu outros para uma edição em Inglaterra, país que é o cenário de muitas das suas histórias. -
A Linguagem dos Pássaros«Começara a chover, e os dois no alpendre pareciam estar longe do mundo, de todo o mundo. Ele primeiro apertou o gatinho contra o peito, como ela fizera, para dar-lhe calor, depois aproximou-o da boca e Marisa teve a impressão de que soprava, o seu rosto estava estranho, concentrado, os olhos muito escuros, entreabrira a boca do animal e soprava para dentro, devagar, como se lhe passasse vida, ela fechou os olhos porque sentia medo, percebeu que estava a rezar, não entendia as palavras mas estava a rezar, dizia algo de incompreensível, não sabia o quê, talvez uma oração primitiva, a primeira que aprendera, talvez quando ainda era demasiado pequena para apreender o sentido das palavras ou mesmo para articulá-las bem...» -
Histórias Policiais«No seu ensaio The Art of Fiction, Henry James fala do que é mais importante numa novela: as imagens, a vida. (The Other House, um dos seus livros menos conhecidos, é quase um policial.) Não é fácil compreender porque é que algumas imagens vivem connosco para sempre. Podem ser imagens muito simples: Mandy, com as suas velhas calças azuis e blusa aos quadrados, deitada na relva, contando a Terry como a sua doce madrasta tinha tentado envenená-lo com um copo de chocolate; Krassy sentada na muralha, com as pernas dobradas, o queixo apoiado nos joelhos, a olhar fixamente para a água; Edward Stevens sentado numa carruagem de comboio, a folhear o manuscrito de Gaudan Cross e a encontrar a fotografia da sua mulher, presa a uma página: Marie d'Aubray, guilhotinada por assassínio em 1861; Patrícia a olhar o mundo da janela do seu quarto, ao começo do dia, com um sentimento de paz e segurança, sem saber que tudo está prestes a terminar. Alberta a despedir-se mentalmente de um homem que não tinha uma razão para viver e a quem ela dera uma razão para morrer.» Da Introdução -
As Duas Casas« Foram eles que te apanharam na biblioteca, David? Sim. Saíram da abertura atrás da tela e ficaram tão surpreendidos ao ver-me como eu ao vê-los. Não tive tempo de fugir. Agarraram-me e trouxeram-me para este quarto. Tu deixaste cair a pedrinha vermelha... Sim. Para vos dar uma pista. Ainda bem que a encontraram. Não gostaria nada de ficar aqui para sempre. A Mónica estremeceu. A ideia era horrível. E se eles voltam?» -
Inverness«De repente, começou a rir. De alegria pura. Só por estar com ele. Quando a chuva diminuiu continuaram a andar. Nasceste numa das ilhas? Nasci em Inverness. Inverness repetiu ele. A palavra sempre me fascinou. Fica na foz do Rio Ness. Eu sei. Quando tinha quatro anos, a minha mãe morreu. E o meu pai começou a dar aulas nas ilhas, e levou-me com ele.» -
A Pantera«Entre mim e o pesadelo. Entre mim e o pesadelo. Ou o que quer que venha ao meu encontro. Era uma viagem estranha, quase tão estranha como os seus pensamentos. Estava a atravessar o rio, estava a atravessar o lago, para um lugar que não conhecia, para um lugar que ninguém conhecia, mas as pessoas diziam que ficava sempre a noroeste. O homem que remava com firmeza conservava- -se em silêncio e ela também não sabia o que dizer. Deviam ter sido só uns cinco ou sete minutos, mas pareceu-lhe uma viagem muito longa. Avistou uma luz a brilhar no nevoeiro. Aproximaram-se de um pequeno cais, e ela viu a forma da casa, a luz acesa no alpendre, a torre desenhando-se ao fundo.» -
O Lago"«Ela falou rapidamente. Estava ansiosa por ver o mundo lá fora. Estava ansiosa por ver o lago. Sim. Posso ir contigo? Ela tentou sorrir. Importas te que eu vá sozinha? Ele sorriu também. Tens a certeza de que não vais perder te? Se isso acontecer tu encontras me. Sim. Então não tenho medo. O homem foi buscar um casaco azul escuro, comprido, e ajudou a a vesti lo. Fechou o no pescoço. Não vás para muito longe. Creio que vai nevar outra vez. Está bem. A rapariga saiu para o jardim; a neve estava intacta, e as suas pegadas deixaram um rasto fundo. O ar tinha uma cor azulada: a cor do frio. Ela atravessou o portão que alguém deixara aberto, espreitou pela janela de um barracão de madeira e viu um jipe com os pneus sujos de lama. Os ramos nus das árvores pareciam entrelaçar se uns nos outros. A água corria nos riachos, entre as pedras cobertas de neve. Apercebeu se de que estava num vale cercado de montanhas altíssimas.» " -
A Porta Secreta« Gostava imenso de visitar a Quinta observou a Sara. Não está aberta ao público disse a mãe. Nem sequer aos turistas. Não percebo porquê. Mas não vive ninguém na velha casa? Não, pertence a uma família inglesa que raramente vem cá. Creio que tem muitos móveis antigos, objetos de arte e quadros. Como um museu comentou a Sara. Se fosse um museu poderíamos visitá-la disse o Miguel, com uma certa irritação na voz. Talvez se decidam a abri-la aos visitantes. Talvez disse o Miguel, como se não quisesse falar mais no assunto.» -
A Estalagem do Nevoeiro« Era uma vez um rapaz e uma árvore Ele passou a vida inteira a desenhá-la disse a Daniela.O Hugo levantou os olhos do bloco e sorriu. Quando encontramos uma coisa perfeita, devemos fazer tudo para não a perder. Alguém dizia isso no filme que vimos a noite passada. E a mãe acrescentou que pode ser uma pessoa, um animal, um quadro, a fachada de uma igreja Uma árvore A Daniela acariciou as orelhas do cachorro que estava deitado na relva, encostado às suas pernas. Talvez seja verdade, não achas, Lucky?» -
A Casa das Sombras e outras HistóriasSão cinco histórias de Ana Teresa Pereira, escritas em 1991 e 1992, A Casa dos Penhascos, A Casa da Areia, A Casa dos Pássaros, A Casa das Sombras e A Casa do Nevoeiro.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».