Pirilampos - Política das Sobrevivências
Um pirilampo e uma mão humana: o gesto luminoso e o ato de criação. Será a carcaça do inseto que se metamorfoseia, ou o corpo do ser que se transhumaniza? Pirilampos é a estreia poética de Ricardo Gil Soeiro na Assírio & Alvim, um livro que almeja responder à questão fundamental: Quem foi que deixou os pirilampos acesos?
| Editora | Assírio & Alvim |
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| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Ricardo Gil Soeiro |
Poeta e ensaísta, Ricardo Gil Soeiro (n. 1981) aproxima-se da escrita como se de um alfabeto luminoso se tratasse, plasmado numa obra em que se entrelaçam, em mútua ressonância, poesia e ensaio. No domínio ensaístico tem vários livros publicados, entre os quais Gramática da Esperança (2009), Poéticas da Incompletude (2017) e Volúpia do Desastre (2019). Organizou o volume As Artes do Sentido (Relógio D’Água, 2017) e co-editou Paul Celan: Da Ética do Silêncio à Poética do Encontro (2014), Das Cinzas do Silêncio à Palavra do Fogo (2018) e O Nada virado do Avesso (2019). No domínio da poesia tem revelado um percurso singular que integra obras como Caligraphia do Espanto (2010), Labor Inquieto (2011) ou Da Vida das Marionetas (2012). Em 2012 veio a lume L’apprendista di enigmi, uma antologia poética traduzida para o italiano. Com Iminência do Encontro foi galardoado com o Prémio PEN Clube Português – Primeira Obra 2010. Com o livro A Sabedoria da Incerteza foi finalista do Prémio PEN de Ensaio 2016. Com A rosa de Paracelso foi finalista do Grande Prémio de Literatura DST 2018.
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A Sabedoria da Incerteza: imaginação literária e poética da incertezaPartindo do conceito de Sabedoria da Incerteza formulado por Milan Kundera no ensaio ?A herança depreciada de Cervantes? (in: A Arte do Romance ), o presente estudo visa reflectir sobre os diversos modos como a imaginação literária encerra uma poética da obrigação. Na óptica de Kundera, o fundador dos tempos modernos não terá sido somente Descartes, mas também Cervantes, na medida em que compreender ?com Cervantes o mundo como ambiguidade, ter de enfrentar, em vez de uma única verdade absoluta, um monte de verdades relativas que se contradizem (verdades incorporadas em ego imaginários chamados personagens), possuir pois como única certeza a sabedoria da incerteza, exige uma força não menos grande (do que a de Descartes).? Para além da incerteza que caracteriza a imaginação literária, é ainda possível nela surpreender aquilo que, na esteira de John Caputo, se poderia designar por Poética da obrigação, isto é, a capacidade exibida pela literatura de, através da sua renúncia a uma perspectiva única e à rigidez de verdades absolutas, se abrir à plural experiência da alteridade. É à luz desta dimensão ética que se procede à leitura das seguintes obras literárias, paradigmáticas dessa sabedoria da incerteza: Der Tod des Vergil (1945), de Hermann Broch; Elizabeth Costello (2003), de J. M. Coetzee; Água Viva (1973), de Clarice Lispector; Lisboaleipzig 1. O Encontro Inesperado do Diverso (1994), de Maria Gabriela Llansol; e Bartleby & Compañía (2000), de Enrique Vila-Matas. -
Espera VigilanteAo longo deste livro encontram-se alguns indícios que perspectivam uma necessidade que se situa para lá dos limites da matéria. Além do amor que permite por momentos iludir a morte, surgem algumas imagens que remetem para uma espera vigilante que vai muito para além do imediato e circunstancial. O "enigma", a "espera" e a "promessa" determinam um outro espaço que não se pode circunscrever às contingências do corpo ou da palavra e para o qual se mantém aberta a possibilidade. -
O Enigma Claro da Matéria: uma aproximação pós-humanista à poesia de Wisława SzymborskaElegendo como objecto de leitura as obras Paisagem com Grão de Areia (1998), Alguns Gostam de Poesia (2004) e Instante (2006), o presente ensaio visa examinar a poesia de Wislawa Szymborska (1923-2012) sob um ponto de vista pós-humanista.Partindo, numa primeira instância, de uma análise global do universo poético em que se ancora esta escrita, a presente reflexão procura demonstrar em que medida é possível vislumbrar na poética szymborskiana um posicionamento pós-humanista, revelando como as suas composições poéticas põem em cena o fim das fronteiras entre o humano e o resto, o não-humano. Haverá vida para além de nós, numa pedra? -
PalimpsestoO retraçar do traço, que nos diz da impossibilidade do pleno apagamento, é uma espécie de luto impossível. O sentido não tem fim. Porque no começo está a ruína, o sentido está sempre por vir. A sobrevivência do texto ulterior consuma-se através do sacrifício incompleto do texto precedente. A escrita, assombrada por um algures insituável, sobrevive por uma experiência aporética que nos magnetiza: essa invisibilidade visível inscrita no próprio traço, um resto espectral cujo frémito ainda estremece. Uma presença que eclode a partir da ausência e um desvelar-se que permanece velado. A hipótese do sentido, a esperança no encontro, emerge da dobra que se configura entre apagamento e reaparição, entre caos opaco e júbilo perplexo, atando e desatando o laço incomensurável que, precariamente, reconcilia vida e morte. -
A Sombra que IluminaEnsaio sobre a obra poética de António Franco AlexandreAbordando temáticas como a oscilação, a metamorfose ou o devir na poesia de António Franco Alexandre, Ricardo Gil Soeiro compulsa um heteróclito conjunto de tópicos: da cinza ao fogo, da sombra ao sonho, do primado da matéria ao direito dos objectos, do abismo da pergunta à memória do enigma. Socorrendo‑se da reflexão teórica de autores como Bachelard, Merleau-Ponty, Deleuze ou Braidotti, o autor enceta ainda diálogo com outros escritores – Kafka, Walser, Calvino ou Ponge –, procurando assim contribuir para a criação de novas chaves de leitura da obra alexandrina.«O sentido desmorona. A tal página incapturável foge por todos os lados. É dessa ruína, da magia de todos os destroços, que se ergue, dilacerada e imperfeita, uma frágil promessa de errância. O abismo da pergunta a que, por falta de palavras, chamamos poesia. António Franco Alexandre di-lo melhor, sussurrando, assim, a mais bela despedida: ‘digam que amei, na terrestre toalha, / o tosco amor do corpo. Digam / uma verdade, que o poema não existe. / Digam que arderam mãos, do poder que possui / o prazer de outro corpo. Digam, como sempre, / terra, água, colina. […] Digam que me conhecem, / assim mudado, a tinta permanente. […] Digam que usava estrelas nos cabelos, / podem crer.’» -
Acariciar a mais Longínqua das EstrelasMúsico da palavra, artesão de sílabas depuradas até ao “sangue dos espelhos”, Eugénio de Andrade fitou o coração do sol e regressou, incólume, para declamar o nosso sobressalto. Estelar e extática, rugosa como as mãos que a fizeram nascer, a leveza do labor de Eugénio sempre se alimentou de uma contínua decantação, cerzindo ávidos versos de uma rara beleza. Como se, de súbito, o mundo nascesse pela primeira vez. É para esse horizonte messiânico, dédalo de perpétuo rejuvenescimento ontológico e renovação do canto, que aponta a magistral Musica mirabilis eugeniana: “Talvez a ternura/crepite no pulso,/talvez o vento/súbito se levante,/talvez a palavra/atinja o seu cume,/talvez um segredo/chegue ainda a tempo//– e desperte o lume.”
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira