Sol a Sol
DE SOL A SOL
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O sol nasceu agora
E a matéria
Da noite
Foi deixada aos deuses do sono
E aos seus auxiliares
No pesadelo.
Lavo o rosto do sol,
Beijo-lhe as crinas, os seus olhos
De animal incendiado.
Levanto-me com o destino marcado
Pelo seu relógio ardente
E atravesso o caos da manhã
Como um atleta
Que vai inaugurar a limpidez do mundo
Com um verso ainda nebuloso
E trôpego.
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Poesia Inédita Portuguesa |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Armando Silva Carvalho |
Armando Silva Carvalho nasceu em Olho Marinho, Óbidos, em 1938. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, exerceu advocacia por pouco tempo, optando pelo jornalismo, pelo ensino, pela publicidade e pela tradução.A sua obra tem vindo a ser reconhecida pela crítica e distinguida com diversos prémios, como o Grande Prémio de Poesia APE, o Prémio PEN Clube, o Prémio Fernando Namora, o Grande Prémio DST Literatura e o Prémio Casino da Póvoa / Correntes d’Escritas, para citar apenas alguns.
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De AmoreDepois do brilhante Anthero, Areia & Água, distinguido com o Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes em 2010, surge agora De Amore. Sobre o autor escreveu António Carlos Cortez, no JL: «Armando Silva Carvalho é uma das vozes poéticas mais impressionantes da atualidade[…]». -
O Menino ao Colo. Momentos, Falas, Lugares do Sublime Santo António“Lisboa, cidade moçárabe, foi conquistada aos Mouros em 1147 com a ajuda dos Cruzados. Afonso Henriques consegue o título de reino para o seu condado ao Papa Júlio II. A nobreza guerreia, o clero reza e também luta, o povo paga os exércitos, vive mal, morre pior. Engrossa e alimenta as tropas com cavaleiros-vilões e besteiros. Trabalha os campos em volta do Castelo. É também mesteiral e pequeno negociante. Na cidade, entreposto marítimo, há desvairadas línguas e gentes. A língua portuguesa ainda não se havia fixado. No bairro da Mouraria há marinheiros, mesteirais, ladrões e prostitutas. E a Sé. Junto dela, a escola da catedral. Perto dela nasce Fernando de Bulhões, à volta de 1194, provavelmente da pequena nobreza, que vem a falecer, próximo de Pádua, a 13 de Junho de 1231.” É este o prólogo de O Menino ao Colo — Momentos, Falas, Lugares do Sublime Santo António, de Armando Silva Carvalho. O mistério começa de seguida. -
Elena e as Mãos dos Homens“[...] Um lastro poético, de onde se descola aquele seu particular “lirismo espesso trespassado de lâminas de ironia”, como J. M. Vasconcelos caracterizou a poesia do autor, está presente em cada um destes textos, em que se dá conta de breves ‘flashes’ de um olhar sobre o mundo. Porque é isso que está em causa na escrita de A. Silva Carvalho: o reflexo de um olhar atento, aquilino, a tempo irónico e amargurado, com a deformação a que o próprio olhar obriga. A mancha gráfica de algumas páginas aproxima-se, por vezes, da estrutura do poema, imprimindo à leitura um ritmo e cadência muito similares aos do registo poético, como se o próprio discurso exigisse um desvio relativamente ao género que o parecia suportar. [...]Se buscarmos um denominador comum que atravesse os 11 textos da colectânea, decerto que ele passará pelo clima indefinido com que se mostra frangalhos de realidade(s) espelhados nos contos, muitas vezes sem início nem fim definidos e tipificados, com o intuito de dar a ver simplesmente um momento, uma tensão de personagens reclusas no emaranhado dos pensamentos, no frágil horizonte que demarca o sonho de uma perspectiva de real. Também a sensualidade erótica é outra das marcas partilhadas pelas histórias do livro, mesmo na sua faceta grotesca, disforme [...].” -
O Que Foi Passado a LimpoOs poemas que se seguem (a poesia completa/incompleta, esperamos) de um dos mais interessantes autores portugueses contemporâneos foram escritos ao longo de mais de quarenta anos, que são afinal os que vão dos começos da guerra colonial até aos dias de hoje.De facto, Armando Silva Carvalho publicou o seu primeiro livro (Lírica Consumível) em 1965, com 27 anos. Antes disso, fizera parte daquele grupo de vinte e sete autores, cujos textos constituíram aquilo a que se chamou Antologia de Poesia Universitária, obra hoje quase desconhecida e que, a par de nomes que desapareceram por completo das constelações literárias, nos dá textos iniciais de poetas e prosadores (ou ambas as coisas) que continuariam a ser de inclusão inevitável em qualquer antologia contemporânea (Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Luiza Neto Jorge, Ruy Belo e Almeida Faria, referidos a título meramente exemplificativo). -
O Amante Japonês«Hoje os olhos são míopesE eu um assassino dentro do teu corpo.Há palavras de sangue caídasAo meu lado.Mas sorvo mesmo assim essas imagens densasEnquanto o esforço sobe o nevoeiroE tu não te arrependes de me levares contigoAtraiçoado.» -
Anthero Areia & Água«Como todos acabamos, acabaste.Mas não acabaste como quase todos acabamos.Sentaste-te num banco de jardim,Separado pelo mar,Separado de ti, separado de separaçõesQue te obrigassem a unirOs ossos redimidos, os músculos mentaisDesse palácio de ideias, no dizer de Sérgio,Que durante tanto tempo construísteE disparaste dois tiros. -
A Sombra do MarA Sombra do Mar é o novo livro de poesia de Armando Silva Carvalho, premiado com o Grande Prémio DST Literatura 2014 pelo seu livro anterior, «De Amore: de Eugénio a Pessoa», das perturbadoras imagens da atualidade vistas na televisão ao desencanto da velhice, do bosão de Higgs ao prazer da vida. Um livro admirável de um dos grandes poetas do nosso tempo.Prémio Literário Casino da Póvoa/Correntes d'Escritas 2017. -
O País das Minhas VíscerasSelecção e apresentação de José Manuel Vasconcelos. -
Obra Poética - (1965-1995)"Poderia chamar-se rebelde à criação poética de Armando Silva Carvalho, vinda da década de 60, ou religiosa no sentido de religação, porque "tudo está em tudo". Porque ela faz-se cada vez mais de uma metafísica da condição humana, mesmo na sátira desapiedada, de uma concreticidade verbal que macera o corpo do poema e de uma melancolia que tudo embebe, absorvida por um naufrágio cósmico total." Diário de Notícias
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira