Teatro Improviso de Intervenção - Nove Dramaturgias para Consumo Sustentável
Este livro é muito mais do que um conjunto de nove dramaturgias. Com a chancela do Plano Nacional das Artes, do qual a Direção Regional de Cultura do Algarve é parceira, traz um registo precioso da memória coletiva do Teatro Improviso de Intervenção (1999-2016, Grupo de Teatro Improviso). É também um convite irrecusável para a intervenção pedagógica, criativa e transformadora do teatro nas escolas e nas comunidades. “Através do teatro aprendemos a dialogar com o corpo, o grupo e a comunidade”, escrevem as autoras na Introdução. As nove dramaturgias – seis originais e três adaptações livres – foram selecionadas dentre muitas outras que as docentes criaram e apresentaram com jovens “Improvisos/as”, no Algarve, entre os anos 2000 e 2021. As temáticas abordam questões fundamentais: as discriminações em função da identidade de género, orientação sexual, raça e classe social; a violência nas redes sociais; as desigualdades entre o Norte e o Sul global; as memórias de jovens mulheres pretas, no Portugal neocolonialista. Além de documentar a memória do grupo, o livro nos convida ao seu “consumo sustentável”, isto é, à reciclagem das dramaturgias. Que sejam lidas, discutidas, reconstruí- das ou transformadas em outras dramaturgias e encenações!
[CECÍLIA MACDOWELL SANTOS, socióloga, professora da Universidade de São Francisco (EUA)]
Teresa Henriques é encenadora, dramaturga e fundadora do Grupo de Teatro Improviso (1999-2016) da ES Tomás Cabreira, onde exerceu a sua atividade de professora de filosofia. Participou em vários projetos de Educação pela Arte e Direitos Humanos em Portugal, São Francisco (EUA) e São Paulo (Brasil). É Mestre em Educação Artística, especialização em Teatro e Educação, pela Universidade do Algarve e Doutora em Ciências da Educação, especialização em Educação, Sociedade e Desenvolvimento, pela Universidade Nova de Lisboa em associação com o ISPA. É formadora creditada no âmbito da formação contínua de professoras/es nas áreas de Filosofia, Teatro, Conceção e Organização de Projetos Educativos e Educação para a Cidadania. A sua metodologia de referência, quer na criação teatral, quer na investigação académica, tem como base a técnica do Teatro- Imagem, do Teatro do Oprimido, criada por Augusto Boal. Esta técnica permite identificar e desconstruir preconceitos e estereótipos em função da “raça”, “género”, “identidade e orientação sexual” e “classe”, entre outros. Atualmente, é diretora artística do Teatro Improviso de Intervenção-Associação Cultural, com sede em Faro, e exerce o cargo de coordenadora do Projeto Cultural de Escola, inserido no Plano Nacional das Artes, no AE José Belchior Viegas.
Teresa Coutinho é encenadora, presidente e diretora artística do Teatro Improviso de Intervenção. É pós-graduada em Educação Artística, especialização em Teatro e Educação, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. Foi coordena- dora do Teatro Improviso da ES Tomás Cabreira, onde exerce o cargo de professora de Filosofia e onde organizou e planificou o currículo de abertura do Curso Profissional de Artes do Espetáculo-Interpretação. Ao nível do ensino básico, desenvolveu o projeto “Filosofia para Crianças através das Expressões Artísticas”. Coordenou o Curso Livre de Teatro no Conservatório Maria Campina em Faro. Atualmente é formadora certificada de professoras/es em “Desenvolvimento Curricular em Artes”, na área do Teatro, no Pro- grama de Educação Estética e Artística do âmbito do Ministério de Educação, coordenando várias oficinas de formação para professoras/es do ensino básico na área do Sota-vento Algarvio e do Baixo-Alentejo. Desde 2020 que integra a Comissão Consultiva do Plano Cultural de Escola do AE José Belchior Viegas, inserido no Plano Nacional das Artes.
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Os CavaleirosOs Cavaleiros foram apresentados nas Leneias de 424 por um Aristófanes ainda jovem. A peça foi aceite com entusiasmo e galardoada com o primeiro lugar. A comédia surgiu no prolongamento de uma divergência entre o autor e o político mais popular da época, Cléon, em quem Aristófanes encarna o símbolo da classe indesejável dos demagogos. Denunciar a corrupção que se instaurou na política ateniense, os seus segredos e o seu êxito, eis o que preocupava, acima de tudo, o autor. Discursos, mentiras, falsas promessas, corrupção e condenáveis ambições são apenas algumas das 'virtudes' denunciadas, numa peça vibrante de ritmo que cativou o público ateniense da época e que cativa o público do nosso tempo, talvez porque afinal não tenha havido grandes mudanças na vida da sociedade humana. -
Atriz e Ator Artistas - Vol. I - Representação e Consciência da ExpressãoNas origens do Teatro está a capacidade de inventar personagens materiais e imateriais, de arquitetar narrativas que lancem às personagens o desafio de se confrontarem com situações e dificuldades que terão de ultrapassar. As religiões roubaram ao Teatro as personagens imateriais. Reforçaram os arquétipos em que tinham de se basear para conseguirem inventariar normas de conduta partilháveis que apaziguassem as ansiedades das pessoas perante o mundo desconhecido e o medo da morte.O Teatro ficou com as personagens materiais, representantes não dos deuses na terra, mas de seres humanos pulsionais, contraditórios, vulneráveis, que, apesar de perdidos nos seus percursos existenciais, procuram dar sentido às suas escolhas.Aos artesãos pensadores do Teatro cabe o desígnio de ir compreendendo a sua função ao longo dos tempos, inventando as ferramentas, esclarecendo as noções que permitam executar a especificidade da sua Arte. Não se podem demitir da responsabilidade de serem capazes de transmitir as ideias, as experiências adquiridas, às gerações vindouras, dando continuidade à ancestralidade de uma profissão que perdura. -
As Mulheres que Celebram as TesmofóriasEsta comédia foi apresentada por Aristófanes em 411 a. C., no festival das Grandes Dionísias, em Atenas. É, antes de mais, de Eurípides e da sua tragédia que se trata em As Mulheres que celebram as Tesmofórias. Aristófanes, ao construir uma comédia em tudo semelhante ao estilo de Eurípides, procura caricaturá-lo. Aristófanes dedica, pela primeira vez, toda uma peça ao tema da crítica literária. Dois aspectos sobressaem na presente caricatura: o gosto obsessivo de Eurípides pela criação de personagens femininas, e a produção de intrigas complexas, guiadas por percalços imprevisíveis da sorte. A somar-se ao tema literário, um outro se perfila como igualmente relevante, e responsável por uma diversidade de tons cómicos que poderão constituir um dos argumentos em favor do muito provável sucesso desta produção. Trata-se do confronto de sexos e da própria ambiguidade nesta matéria. -
A Comédia da MarmitaO pobre Euclião encontra uma marmita cheia de ouro, esconde-a e aferra-se a ela; passa a desconfiar de tudo e de todos. Entretanto, não se apercebe que Fedra, a sua filha, está grávida de Licónides. Megadoro, vizinho rico, apaixonado, pede a mão de Fedra em casamento, e prontifica-se a pagar a boda, já que a moça não tem dote. Euclião aceita e prepara-se o casamento. Ora acontece que Megadouro é tio de Licónides. É assim que começa esta popular peça de Plauto, cheia de peripécias e de mal-entendidos, onde se destaca a personagem de Euclião com a sua desconfiança, e que prende o leitor até ao fim. «O dinheiro não dá felicidade mas uma marmita de ouro, ao canto da lareira, ajuda muito à festa» - poderá ser a espécie de moralidade desta comédia a Aulularia cujo modelo influenciou escritores famosos (Shakespeare e Molière, por exemplo) e que, a seguir ao Anfitrião, se situa entre as peças mais divulgadas de Plauto. -
O Teatro e o Seu Duplo«O Teatro e o Seu Duplo, publicado em 1938 e reunindo textos escritos entre 1931 e 1936, é um ataque indignado em relação ao teatro. Paisagem de combate, como a obra toda, e reafirmação, na esteira de Novalis, de que o homem existe poeticamente na terra.Uma noção angular é aí desenvolvida: a noção de atletismo afectivo.Quer dizer: a extensão da noção de atletismo físico e muscular à força e ao poder da alma. Poderá falar-se doravante de uma ginástica moral, de uma musculatura do inconsciente, repousando sobre o conhecimento das respirações e uma estrita aplicação dos princípios da acupunctura chinesa ao teatro.»Vasco Santos, Posfácio -
Menina JúliaJúlia é uma jovem aristocrata que, por detrás de uma inocência aparente esconde um lado provocador. Numa noite de S. João, Júlia seduz e é seduzida por João, criado do senhor Conde e noivo de Cristina, a cozinheira da casa. Desejo, conflitos de poder, o choque violento das classes sociais e dos sexos que povoam aquela que será uma noite trágica. -
Os HeraclidasHéracles é o nome do deus grego que passou para a mitologia romana com o nome de Hércules; e Heraclidas é o nome que designa todos os seus descendentes.Este drama relata uma parte da história dos Heraclidas, que é também um episódio da Mitologia Clássica: com a morte de Héracles, perseguido pelo ódio de Euristeu, os Heraclidas refugiam-se junto de Teseu, rei de Atenas, o que representa para eles uma ajuda eficaz. Teseu aceita entrar em guerra contra Euristeu, que perece na guerra, junto com os seus filhos. -
A Comédia dos BurrosA “Asinaria” é, no conjunto, uma comédia de enganos equilibrada e com cenas particularmente divertidas, bem ao estilo de Plauto. A intriga - na qual encontramos alguns dos tipos e situações características do teatro plautino (o jovem apaixonado desprovido de dinheiro; o pai rival do filho nos seus amores; a esposa colérica odiada pelo marido; a cínica, esperta e calculadora alcoviteira; e os escravos astutos, hábeis e mentirosos) - desenrola-se em dois tons - emoção e farsa - que, ao combinarem-se, comandam a intriga através de uma paródia crescente até ao triunfo decisivo do tom cómico.