Discurso Directo
“Licínia foi o nome que minha Mãe me deu. Se eu tivesse nascido rapaz, o nome teria sido a gosto de meu Pai. Foi fácil entre eles o comércio de nomes. O escolhido é um nome quase esdrúxulo, com uma quase vogal que se repete. Quase fácil, quase audível, o meu nome. É um nome antigo, já serviu a uma imperatriz, quase mandante, pois reza a história que foi filha e consorte de senhores. Também se diz que é nome de oliveira ou do seu fruto de casta cordovesa. O nome preso a mim, eu presa a ele, caminhamos, quase certos de nunca nos deixarmos, quase.”
Licínia Quitério (do texto de apresentação)
__________
“Falámos de amigos, de amigos de amigos, com quem não voltámos a estar. Passaram a viver longe, os amigos, num lugar que dantes era perto. Alguns morreram. Hoje em dia morre-se muito, porque se é velho, porque se é frágil, porque não se teve cuidado, porque sim. A morte e a vida parecem entender-se bem, nada como dantes, ou nós não tínhamos pensado nisso. Houve livros entre as nossas mãos, não recusámos o tráfico. Era o que faltava que aqueles livros nos contaminassem, mas daí, quem sabe, há lá agentes mais contaminadores do que os livros. Os tiranos costumam queimá-los em tempos de outras pandemias e sabem porquê.”
(Excerto)
| Editora | Poética Edições |
|---|---|
| Categorias | |
| Editora | Poética Edições |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Licínia Quitério |
Licínia Quitério (n. 1940, Mafra), foi professora, tradutora, correspondente comercial. Tem editados sete livros de poesia: Da Memória dos Sentidos, De Pé sobre o Silêncio, Poemas do Tempo Breve, Os Sítios, O Livro dos Cansaços e, já com a chancela da Poética, Memória, Silêncio e Água e Travessia. Em prosa publicou quatro livros antes da presente obra: Disco Rígido, Disco Rígido-Volume II, Os Olhos de Aura e A Metade de um Homem (os dois últimos publicados pela Poética). Conta com participações em antologias diversas e revistas literárias e colabora no Jornal de Mafra online com uma crónica quinzenal.
-
A Metade de Um HomemDedico esta narrativa aos homens do meu tempo que viram as suas vidas interrompidas pela guerra nas colónias portuguesas em África, para onde uma execrável ditadura os mandou combater.Uns voltaram, outros não. Dos sobrevivos houve os que trouxeram o corpo diminuído, outros a mente em farrapos.A guerra durou 14 anos. As ex-colónias são hoje países independentes. Nenhuma guerra vale a pena. Dela ninguém regressa incólume. Esta foi a guerra que tocou em amigos meus. Foi por eles que escrevi esta história. -
Os Olhos de Aura“Está frio e faz vento, lembrou-se de pôr aquele gorro vermelho, gostou de se ver no espelho, puxou uns fios de cabelo para a testa, um assomo de franja, a meia-idade a fazer-se sentir, uns quilos mais, os vincos aos cantos da boca, mas de resto ainda é uma mulher atraente, os grandes olhos tristes dão-lhe um não sei quê de artista de cinema, disse-lhe o Américo, e logo a desculpar-se pelo atrevimento, não me interprete mal, com todo o respeito, delicado o chefe, um pouco fora de moda, seria por isso que o marido lhe chamava larilas, ninguém sabe o que um homem é por dentro, lembrou-se da mãe, mas já está na rua, o ar frio na cara, os olhos a encherem-se de lágrimas, desta vez é do frio, sorri ao pensar que também há lágrimas boas, de mulher viva, a abrir o dia.” -
TravessiaTravessia é o sétimo livro de poesia de Licínia Quitério.Com as palavras danço e toco e amo. Com elas chegarei ao palácio do esquecimento."Esta poesia é logocêntrica - a palavra é o centro de onde se parte e onde se volta, sobre o qual se medita, cuja luz esclarece tudo o mais e que ainda nos convida a uma espécie de curiosidade científica sobre a linguagem, quase experimentação: (Há um conhecimento do ofício, uma competência técnica quanto baste)." HÉLIA CORREIA sobre o livro "Os Sítios";“Se, como afirma Amos Oz, só a imaginação pode salvar o mundo, um livro de poemas como este ajuda um pouco a essa salvação.” HÉLIA CORREIA sobre o livro “De Pé sobre o Silêncio”. -
A Tribo«Romance de uma autora que coloca a oralidade de cada qual a soar a uma só voz, que capta tanto os jeitos de falar, como os de calar, e demonstra a rara capacidade de um olhar demorado, olhar de reparar e ver. De ouvir e escutar. Não só as vozes, não só os sons. Também os preconceitos de quem não entende que nós seremos sempre os estrangeiros dos outros, enquanto os outros forem os estrangeiros de nós. e os cheiros. Os da podridão dos despejos ilegais da fábrica ou os dos esgotos do bidonville. Se a aldeia não sai do emigrante, também o passado da vassalagem em terra alheia não se diluirá. Carregam dois passados, afinal, as personagens deste livro, e hão-de entranhar-se nestas encruzilhadas, atravessadas como um cheiro.» Ana Margarida de Carvalho (do prefácio) -
Mala de PorãoEra uma vez uma mala de porão muito bonita e muito resistente. Teve uma vida longa, conheceu muita gente e muitos lugares. Podia ser assim o começo da história. Podia, mas antes de falarmos da mala vamos conhecer a avó Adelaide, a mãe Sara, o pai Lúcio e a miúda Laurinda. Contaremos então histórias destes personagens e de outros que antes deles vieram para lhes darem vida e sentido, nomeadamente João Maria, o bisavô de Laurinda, e seus irmãos Manuel Maria e António Maria. E quando estivermos prestes a terminar o relato do que nos foi dado saber sobre a saga da Família Silveira perceberemos que um século passou e o mundo se modificou e os homens e as mulheres continuaram iguais em seus temores e paixões. De vez em quando, falaremos da mala e do seu percurso, já que foi ela que serviu de mote e de título para a história aqui contada. Era uma vez... -
A Decadência das FalésiasAqui, pois, o poema é um fulgor de bicho intrinsecamente preso ao real, parido do chão e dele pronto a erguer-se. É um poema-detonador simples que respira a, e da palavra em sua mais pura e depurada essência. Um poema que, como o gato, não dilacera, mas percorre, sem quase o tocar, o tapete do dia, o sólido e o concreto, fazendo da ausência de ruído a sua plena presença. Por outro lado, é uma poesia percorrida pelo tempo, uma poesia sabedora de que cada verso tem sua hora, e de que o próprio poema existe dentro de um tempo próprio e preciso, e de que não pretende durar mais do que esse lapso.José Pedro Leite, do prefácio *Vencedor do Prémio Literário Natália Correia (2021)
-
Inglaterra - Uma ElegiaNeste tributo pungente e pessoal, o filósofo Roger Scruton tece uma elegia à sua pátria, a Inglaterra, que é, ao mesmo tempo, uma esclarecedora e exaltante análise das suas instituições e cultura e uma celebração das suas virtudes.Abrangendo todos os aspectos da herança inglesa e informado por uma visão filosófica única, Inglaterra – Uma Elegia mostra como o seu país possui uma personalidade distinta e como dota os seus nacionais de um ideário moral também ele distinto.Inglaterra – Uma Elegia é uma defesa apaixonada, mas é também um lamento profundamente pessoal pelo perda e desvanecimento dessa Inglaterra da sua infância, da sua complexa relação com o seu pai e uma ampla meditação histórica e filosófica sobre o carácter, a comunidade, a religião, a lei, a sociedade, o governo, a cultura e o campo ingleses. -
Ética no Mundo RealPeter Singer é frequentemente descrito como o filósofo mais influente do mundo. É também um dos mais controversos. Neste livro de ensaios breves, Singer aplica as suas controversas formas de pensar a questões como as alterações climáticas, a pobreza extrema, os animais, o aborto, a eutanásia, a seleção genética humana, o doping no desporto, a venda de rins, a ética da arte de elevado preço e formas de aumentar a felicidade. Provocantes e originais, estes ensaios irão desafiar — e possivelmente mudar — as suas crenças sobre uma variedade de questões éticas do mundo real. -
Inteligência ArtificialEste ensaio descreve, de forma acessível, o que é a inteligência artificial e a sua relação com a inteligência humana, assim como possíveis aplicações e implicações societais e económicas. Inclui uma perspectiva histórica e uma análise da situação actual da tecnologia. Reflecte sobre as possíveis consequências do desenvolvimento da inteligência artificial e convida-nos a projectarmos a nossa inteligência no futuro. -
Vertigem - A Tentação da IdentidadeVertigem, o terror das alturas, que na verdade é o medo de ceder à tentação de se deixar cair. Antes de Freud, as chamadas «ciências da alma», incluindo a emergente psiquiatria, reservavam às tonturas um lugar de destaque no quadro das patologias mentais, considerando-as o elemento desestabilizador e intoxicante — simultaneamente repulsivo e atraente — sem o qual a própria consciência não era concebível. Na filosofia, se para Montaigne e Pascal a vertigem podia parecer ainda um distúrbio da razão causado pela imaginação, mais tarde o pensamento deixa de a assimilar como uma instabilidade imaginativa ocasional a ser superada, para a reconhecer como parte do seu próprio processo: a identidade manifesta-se insegura, cinética, opaca, vertiginosa, precisamente. Andrea Cavalletti aproxima as suas análises teóricas da representação cinematográfica da queda no vazio de um famoso filme de Hitchcock, «Vertigo». A combinação genial, nunca antes tentada, de dolly e zoom, para criar o efeito de queda, descreve o movimento duplo de «empurrar e reter», que é a condição habitual do sujeito e da intersubjectividade. Para me encontrar, devo olhar para mim do fundo do abismo, com os olhos dos outros.Tradução de Miguel Serras Pereira -
Guardas de Passagem de NívelEste livro é um retrato de uma profissão em vias de extinção - a de guarda de passagem de nível. Fala sobre mulheres que trabalham à beira da via férrea, por vezes em sítios remotos e inóspitos, e que têm por missão assegurar que os comboios passem em segurança pelos atravessamentos rodoviários. O autor faz também uma incursão na vida dos ferroviários e num caminho-de-ferro que está a desaparecer: o cantonamento telefónico, as linhas onde a modernização ainda não chegou, ou que estarão um dia para fechar, e onde a segurança da circulação depende essencialmente de meios humanos. -
Portugal e o Comércio InternacionalO comércio internacional tem sofrido importantes transformações nas últimas décadas e é algo de omnipresente no mundo atual, afetando de forma direta e indireta os países e os indivíduos, quer enquanto consumidores, quer enquanto trabalhadores. Portugal tem testemunhado estas transformações e o bom desempenho das suas exportações é hoje essencial para um crescimento económico equilibrado. Neste contexto, é importante promover a compreensão dos fundamentos, vantagens e desafios do comércio internacional. Esse é o propósito deste livro. -
As Pescas em PortugalO debate sobre as pescas está viciado por mitos e meias-verdades sobre o condicionamento da Comunidade Europeia, a época áurea do Estado Novo ou o peso que perdeu na economia e na demografia. Com contributos de pescadores, armadores, cientistas e decisores políticos, esta é uma história das pescas portuguesas e um retrato do actual estado do sector, num ensaio que lança as bases para um debate urgente e sério sobre as pescas em Portugal. -
Textos sem Açaime - Crítica do Falso Mundo Liberal Progressista e WokeA visão manicomial do presente baseada na economia como pilar fundamental da sociedade e nos simulacros do progressismo (…) transformou a já degradante sociedade consumista e do espectáculo do homem atomizado numa sociedade do controlo, da vigilância e do pensamento único. Voltamos, passadas décadas sobre o terror dos fenómenos totalitários modernos, a assistir a perseguições, a uma cultura do cancelamento, com pensamentos e opiniões proibidas, julgamentos do passado com as lentes do presente, mortos desenterrados e julgados com o viés activista, assassinatos de carácter, culto da delação, proibição do uso de determinadas palavras, alteração dos significados dos conceitos, controlo total da linguagem e dos comportamentos.