A Tribo
«Romance de uma autora que coloca a oralidade de cada qual a soar a uma só voz, que capta tanto os jeitos de falar, como os de calar, e demonstra a rara capacidade de um olhar demorado, olhar de reparar e ver. De ouvir e escutar. Não só as vozes, não só os sons. Também os preconceitos de quem não entende que nós seremos sempre os estrangeiros dos outros, enquanto os outros forem os estrangeiros de nós. e os cheiros. Os da podridão dos despejos ilegais da fábrica ou os dos esgotos do bidonville. Se a aldeia não sai do emigrante, também o passado da vassalagem em terra alheia não se diluirá. Carregam dois passados, afinal, as personagens deste livro, e hão-de entranhar-se nestas encruzilhadas, atravessadas como um cheiro.»
Ana Margarida de Carvalho (do prefácio)
| Editora | Poética Edições |
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| Editora | Poética Edições |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Licínia Quitério |
Licínia Quitério (n. 1940, Mafra), foi professora, tradutora, correspondente comercial. Tem editados sete livros de poesia: Da Memória dos Sentidos, De Pé sobre o Silêncio, Poemas do Tempo Breve, Os Sítios, O Livro dos Cansaços e, já com a chancela da Poética, Memória, Silêncio e Água e Travessia. Em prosa publicou quatro livros antes da presente obra: Disco Rígido, Disco Rígido-Volume II, Os Olhos de Aura e A Metade de um Homem (os dois últimos publicados pela Poética). Conta com participações em antologias diversas e revistas literárias e colabora no Jornal de Mafra online com uma crónica quinzenal.
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A Metade de Um HomemDedico esta narrativa aos homens do meu tempo que viram as suas vidas interrompidas pela guerra nas colónias portuguesas em África, para onde uma execrável ditadura os mandou combater.Uns voltaram, outros não. Dos sobrevivos houve os que trouxeram o corpo diminuído, outros a mente em farrapos.A guerra durou 14 anos. As ex-colónias são hoje países independentes. Nenhuma guerra vale a pena. Dela ninguém regressa incólume. Esta foi a guerra que tocou em amigos meus. Foi por eles que escrevi esta história. -
Os Olhos de Aura“Está frio e faz vento, lembrou-se de pôr aquele gorro vermelho, gostou de se ver no espelho, puxou uns fios de cabelo para a testa, um assomo de franja, a meia-idade a fazer-se sentir, uns quilos mais, os vincos aos cantos da boca, mas de resto ainda é uma mulher atraente, os grandes olhos tristes dão-lhe um não sei quê de artista de cinema, disse-lhe o Américo, e logo a desculpar-se pelo atrevimento, não me interprete mal, com todo o respeito, delicado o chefe, um pouco fora de moda, seria por isso que o marido lhe chamava larilas, ninguém sabe o que um homem é por dentro, lembrou-se da mãe, mas já está na rua, o ar frio na cara, os olhos a encherem-se de lágrimas, desta vez é do frio, sorri ao pensar que também há lágrimas boas, de mulher viva, a abrir o dia.” -
TravessiaTravessia é o sétimo livro de poesia de Licínia Quitério.Com as palavras danço e toco e amo. Com elas chegarei ao palácio do esquecimento."Esta poesia é logocêntrica - a palavra é o centro de onde se parte e onde se volta, sobre o qual se medita, cuja luz esclarece tudo o mais e que ainda nos convida a uma espécie de curiosidade científica sobre a linguagem, quase experimentação: (Há um conhecimento do ofício, uma competência técnica quanto baste)." HÉLIA CORREIA sobre o livro "Os Sítios";“Se, como afirma Amos Oz, só a imaginação pode salvar o mundo, um livro de poemas como este ajuda um pouco a essa salvação.” HÉLIA CORREIA sobre o livro “De Pé sobre o Silêncio”. -
Mala de PorãoEra uma vez uma mala de porão muito bonita e muito resistente. Teve uma vida longa, conheceu muita gente e muitos lugares. Podia ser assim o começo da história. Podia, mas antes de falarmos da mala vamos conhecer a avó Adelaide, a mãe Sara, o pai Lúcio e a miúda Laurinda. Contaremos então histórias destes personagens e de outros que antes deles vieram para lhes darem vida e sentido, nomeadamente João Maria, o bisavô de Laurinda, e seus irmãos Manuel Maria e António Maria. E quando estivermos prestes a terminar o relato do que nos foi dado saber sobre a saga da Família Silveira perceberemos que um século passou e o mundo se modificou e os homens e as mulheres continuaram iguais em seus temores e paixões. De vez em quando, falaremos da mala e do seu percurso, já que foi ela que serviu de mote e de título para a história aqui contada. Era uma vez... -
A Decadência das FalésiasAqui, pois, o poema é um fulgor de bicho intrinsecamente preso ao real, parido do chão e dele pronto a erguer-se. É um poema-detonador simples que respira a, e da palavra em sua mais pura e depurada essência. Um poema que, como o gato, não dilacera, mas percorre, sem quase o tocar, o tapete do dia, o sólido e o concreto, fazendo da ausência de ruído a sua plena presença. Por outro lado, é uma poesia percorrida pelo tempo, uma poesia sabedora de que cada verso tem sua hora, e de que o próprio poema existe dentro de um tempo próprio e preciso, e de que não pretende durar mais do que esse lapso.José Pedro Leite, do prefácio *Vencedor do Prémio Literário Natália Correia (2021) -
Discurso Directo“Licínia foi o nome que minha Mãe me deu. Se eu tivesse nascido rapaz, o nome teria sido a gosto de meu Pai. Foi fácil entre eles o comércio de nomes. O escolhido é um nome quase esdrúxulo, com uma quase vogal que se repete. Quase fácil, quase audível, o meu nome. É um nome antigo, já serviu a uma imperatriz, quase mandante, pois reza a história que foi filha e consorte de senhores. Também se diz que é nome de oliveira ou do seu fruto de casta cordovesa. O nome preso a mim, eu presa a ele, caminhamos, quase certos de nunca nos deixarmos, quase.”Licínia Quitério (do texto de apresentação) __________ “Falámos de amigos, de amigos de amigos, com quem não voltámos a estar. Passaram a viver longe, os amigos, num lugar que dantes era perto. Alguns morreram. Hoje em dia morre-se muito, porque se é velho, porque se é frágil, porque não se teve cuidado, porque sim. A morte e a vida parecem entender-se bem, nada como dantes, ou nós não tínhamos pensado nisso. Houve livros entre as nossas mãos, não recusámos o tráfico. Era o que faltava que aqueles livros nos contaminassem, mas daí, quem sabe, há lá agentes mais contaminadores do que os livros. Os tiranos costumam queimá-los em tempos de outras pandemias e sabem porquê.” (Excerto)
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira