Me, Myself and I - Autobiografia e Imobilidade na Poesia de Al Berto
“Que importa? Os anos passam,
encostado ao sudário dos lamentos,
sem vagar nem nome próprio.
Amaste (e muito mal) esses corpos
que de noite voltas a não ter
no pânico inútil da memória.
Desertos, outros desertos, mais,
vão poluindo o mentido eco das canções.
Ergues-te. Ensinas a Lázaro
a gramática letal das passadeiras
e a melancolia de uma cidade sem futuro.
Já não há manhã. Um sol demasiado comum
persegue passos sem porquê, sorrisos
laborais, a criança de vidro amordaçada.
Arrumas os cinzeiros, o álcool da véspera,
a lâmina que quase repousou sobre
a veia mais azul. E é tudo.
Quase tudo. O silêncio
que alguém grita na fotografia,
sob o fedor acrílico de deus. “Eras novo
ainda.” Não voltarás a sê-lo. Foges,
continuas, parado como um cancro
— enquanto um copo te esconde
provisoriamente das sílabas do rosto.
Aprendes a morrer. É isso
(que louro canivete desenhou
a tua infância na parede?).
Dizem que não apanharás o último barco
para a “jaula de néon” onde te não esperam.
Sim, é demasiado tarde, eu sei.”
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Peninsulares |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Manuel de Freitas |
-
Novidade[sic]“Mas agora é tarde. Tudo fechou para nós, para sempre. O amor, o desejo, até o onamismo da destruição. Antes de procurares a esmola do último táxi, fica esta imagem parada, a desvanecer-se no frio mais frio da memória:não dois corpos sentados a trocarem medo, cigarros e palavras póstumas, mas duas vezes nada, ninguém, o silêncio da noite destronado as cadeiras onde por razão nenhuma nos sentámos. Os anos, amiga, passaram.” -
NovidadeBüchlein für Johann Sebastian Bach“Uma mesma cosmovisão — a ameaça do tempo sobre a vida — unifica distintamente muitos dos momentos da criação deste poeta maior. Mas junto a esta permanência, intui-se na sua obra uma evolução, uma busca que aponta sobretudo ao trabalho formal, visível, sobremaneira, na clareza sintática com que em cada livro muda de registo, conservando sempre uma arguta intensidade no modo como 'investiga’ a vida e o seu cortejo de ilusões e perdas. Na sua brevidade e secura, as variações musicais que são os poemas de Büchlein für Johann Sebastian Bach, não deixando de ser um veemente protesto contra a morte, alcançam, porventura, um maior apaziguamento magoado, uma mais densa interiorização e esconjuro da violência do mundo.(…) Numa obra onde se procura escutar a influência da música no lugar da morte, podemos ler que "o horror da situação tornava a beleza da vida tanto mais desgarrada quanto mais preciosa."(…) Para Manuel de Freitas, sabiamente, o poeta é o oposto do virtuoso, do cortesão, empreendendo mesmo contra estas figuras um combate que afasta a sua escrita de quaisquer ornatos, e do estrito carácter de jogo ou de divertimento. Igualmente, distancia-se dos que vivem obcecados pelo poder da elipse e da metáfora; os que congelam o verbo e propõem uma metafísica do som puro, de um som apenas capaz de tentar dizer o indizível”, escreveu Jorge Gomes Miranda sobre Büchlein für Johann Sebastian Bach de Manuel de Freitas, no número 100 da publicação A Phala. -
NovidadeO Coração de Sábado à Noite"JERSEY GIRL[com o Visconde, no Mezcal]O amor costuma responderpor acordes simples um estertor de pássaro caído.Depois, na minha vida, ficou só uma cicatriz discreta e um ououtro pesadelo com a tua marca de electrodomésticos preferida.Coisas de que nem fica bem falar.Mas ao quarto whisky, entrerostos que não conheço,sinto-me feliz. E percebo, arduamente, que nunca precisei de ti.Quem se mataria por tão pouco?" -
NovidadeA Última PortaA Última Porta é o título escolhido para esta antologia poética deManuel de Freitas, com selecção e posfácio a cargo de José Miguel Silva, que nos diz, sobre o autor e a sua obra: «Não é uma poesia, esta, que se alimente de literatura, uma poesia nascida da circunstância de outros homens terem escrito; não é uma poesia apontada ao favor dos altos funcionários culturais ou concebida para fornecer grão à debulhadora universitária; não é uma poesia que adule o remansado mé-mé do rebanho letrado, que procure o aplauso dos amantes de engenhocas literárias.É uma poesia incómoda, desagradável, feita de tudo o que a nossa tão humana cobardia tem por hábito recusar; uma poesia em que um homem se revela, com impúdica audácia, a outros homens, muy tarde ya en la noche, como diria Biedma; uma poesia criada a partir de escórias sem prestígio, de resíduos turvos, pobres e sem graça, de esmagamentos que não nos servem e que por isso tendemos a sufocar.Mas a melhor literatura é assim: não serve senão para nos devastar, como a vida. Que Manuel de Freitas nos faça descer à terra, ou mais abaixo ainda, em cada linha que escreve, só pode sermotivo de gratidão. Espero que estemeu excesso de palavras tenha pelo menos conseguido transmitir esse sentimento.» -
NovidadeMarilyn MooreFruto da colaboração entre Manuel de Freitas e Adriana Molder surge-nos este Marilyn Moore, em tiragem exclusiva de 400 exemplares, numerados e assinados pelos autores.
-
NovidadeO Príncipe da Democracia - Uma Biografia de Francisco Lucas PiresNenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.Em O Príncipe da Democracia, Nuno Gonçalo Poças reconstitui o percurso e as ideias deste homem invulgar, cujo legado permanece em grande parte por cumprir, e passa em revista os seus sucessos e fracassos. O resultado é um livro que, graças à absoluta contemporaneidade do pensamento do biografado, nos ajuda a compreender as grandes questões que o país e a Europa continuam a enfrentar, mostrando-nos, ao mesmo tempo, uma elegância política difícil de conceber quando olhamos hoje à nossa volta.Mais do que um retrato elucidativo de Lucas Pires, que partiu precocemente aos 53 anos, este é um documento fundamental para responder aos desafios do futuro, numa altura em que o 25 de Abril completa meio século. -
NovidadeA DesobedienteA dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem. -
NovidadeEmílio Rui VilarMemórias do país da ditadura e do alvor da democracia em Portugal. A vida de Emílio Rui Vilar atravessou as principais mudanças da segunda metade do século XX. Contado na primeira pessoa, um percurso fascinante pelo fim do regime de Salazar e Caetano e pela revolução de Abril.Transcrevendo entrevistas realizadas ao longo de vários meses, este livro recolhe o relato na primeira pessoa de uma trajetória que percorreu o início da contestação ao Estado Novo no meio universitário, a Guerra Colonial, a criação da SEDES, o fracasso da “primavera marcelista” e os primeiros anos do novo regime democrático saído do 25 de Abril, onde Emílio Rui Vilar desempenhou funções governativas nos primeiros três Governos Provisórios e no Primeiro Governo Constitucional. No ano em que se celebram cinco décadas de democracia em Portugal, este livro é um importante testemunho sobre dois regimes, sobre o fim de um e o nascimento de outro. -
NovidadeOriente PróximoCom a atual guerra em Gaza, este livro, Oriente Próximo ganhou uma premente atualidade. A autora, a maior especialista portuguesa sobre o assunto, aborda o problema não do ponto de vista geral, mas a partir da vida concreta das pessoas judeus, árabes e outras nacionalidades que habitam o território da Palestina. Daí decorre que o livro se torna de leitura fascinante, como quem lê um romance.Nunca se publicou nada em Portugal com tão grande qualidade. -
NovidadeTal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
NovidadeSavimbi - Um homem no Seu MartírioSavimbi foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e acções encobertas de segurança com o objectivo de o desacreditar e isolar. Se não aceitasse o exílio ou a sujeição, como foi o objectivo falhado dessa campanha, o fim último era matá-lo, como aconteceu: premeditadamente! Para que a sua «morte em combate» não suscitasse empatia, foi como um chefe terrorista da laia de Bin Laden que a sua morte foi apresentada – artifício da propaganda que tirou partido da memória emocional recente dos atentados da Al Qaeda, na América. Julgado com honestidade, Savimbi nunca foi o «bandido» por que o fizeram passar. O manifesto apreço que personalidades de indiscutível clareza moral, como Mandela, tiveram por ele prova-o. O MPLA elegeu-o como adversário temido e quis apagá-lo do seu caminho! Não pelos crimes a que o associaram. O que o MPLA e o seu regime temiam eram as suas qualidades e carisma, a sua representatividade política e o prestígio externo que granjeara. Como outros grandes da História, Savimbi também tinha defeitos e cometia erros. Mas no deve e haver as suas qualidades eram preponderantes." -
NovidadeNa Cabeça de MontenegroLuís Montenegro, o persistente.O cargo de líder parlamentar, no período da troika, deu-lhe o estatuto de herdeiro do passismo. Mas as relações com Passos Coelho arrefeceram e o legado que agora persegue é outro e mais antigo. Quem o conhece bem diz que Montenegro é um fiel intérprete da velha tradição do PPD, o partido dos baronatos do Norte. Recusou por três vezes ser governante e por duas vezes foi derrotado em autárquicas. Já fez e desfez alianças, esteve politicamente morto e ressuscitou. Depois de algumas falsas partidas chegou à liderança. Mas tudo tem um preço e é o próprio a admitir que se questiona com frequência: será que vale a pena?


