Os Rostos Que Tenho
«Sorrindo, e mantendo entre mãos um livro que segurava ao peito, a escritora brasileira oferecia ao público português a imagem da sua pessoa inteira e estava grata. Nélida sabia aceitar os sinais de gratidão porque ela sempre foi, para além de uma talentosa escritora, uma figura dada ao reconhecimento dos outros. […]
Diria, pois, que este livro não careceria de qualquer apresentação, ele próprio se vai apresentando por si mesmo, à medida que os fragmentos numerados se sucedem, desde o primeiro com o título de Eternidade em que a autora, transformando essas duas páginas numa espécie de longo incipit, anuncia de imediato ao que vem, até à crónica número 74, intitulada O Mutismo de Deus, na qual explica em síntese a génese da sua atividade como criadora, e o sentido da sua vida como pessoa da arte e da cultura em face do mundo e da humanidade. Raramente uma artista consegue ser tão explícita sobre a forma como se engendra na profundidade do ser a origem das suas multiplicidades.»
Do Prefácio de Lídia Jorge
| Editora | Temas e Debates |
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| Editora | Temas e Debates |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Nélida Piñon |
Nélida Piñon nasceu em 1937 no Rio de Janeiro, numa família originária da Galiza. Formou-se em Jornalismo em 1956 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professora catedrática da Universidade de Miami desde 1990 e doutor honoris causa das universidades de Santiago de Compostela, Rutgers e Montreal, entre outras, foi a primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras em 1996. Desde 2004 é membro da Academia das Ciências de Lisboa. A sua extensa produção literária, traduzida em diversas línguas, foi distinguida com numerosos galardões, entre os quais o Prémio Walmap (1969) pela novela Fundador; o Prémio Mário de Andrade (1972) por A Casa da Paixão; o Prémio Internacional Juan Rulfo de Literatura LatinoAmericana e do Caribe (México, 1995); o Prémio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e o Prémio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance A República dos Sonhos; o Prémio Iberoamericano de Narrativa Jorge Isaacs (Colômbia, 2001); o Prémio Rosalía de Castro (Espanha, 2002); o Prémio Internacional Menéndez Pelayo (Espanha, 2003); o Prémio Jabuti para o melhor romance (Brasil, 2005) por Vozes do Deserto; e o Prémio Literário Casa de las Americas (Cuba, 2010) por Aprendiz de Homero. Em 2005 recebeu o importante Prémio Príncipe de Astúrias das Letras pelo conjunto da sua obra, o primeiro escritor de língua portuguesa a consegui-lo. Em 2015, recebeu o Prémio El Ojo Crítico Iberoamericano, concedido pela Rádio Nacional de Espanha.
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Aprendiz de HomeroNélida Piñón, uma grande senhora da língua portuguesa, oferece-nos a sua visão da literatura ou, nas suas palavras, da sua alma. Esta obra reúne vinte e quatro ensaios sobre as influências literárias, os temas e os personagens que lhe são caros: Dom Quixote e Espanha, Capitu e o Rio de Janeiro, Ulisses e a sua odisseia. Humilde, fala do fazer literário sempre na perspectiva da aprendiz; de Homero, o poeta cego, mas também de Machado de Assis, Monteiro Lobato, Cervantes. E assim leva-nos numa viagem que é também homérica: os seus pensamentos sobre a leitura, a sua paixão pela escrita, a sua relação vital com a literatura, a sua visão não apenas da mulher brasileira, mas de todas as mulheres desde os tempos remotos, e sobretudo a importância que a memória assume numa viagem que simboliza todas as viagens do mundo. -
Coração AndarilhoUma trajetória íntima que nos leva da primeira infância no bairro carioca de Vila Isabel aos passeios com o avô Daniel, figura muito importante na sua vida, ou à primeira viagem à Galiza, terra natal dos pais, quando escala um muro e percebe que o mundo é muito maior do que pensava e pode abarcar até um oceano. A menina, que se transformaria numa das maiores escritoras do mundo, já estava tomada pelo desejo de uma vida sem fronteiras: «Viajo pelo mundo e ele é uma faixa de terra cercada de água e memórias.» Naveguemos, pois, com Nélida por este mar de memórias e emocionemo-nos com as histórias que esta extraordinária escritora tem para nos contar. -
Livro das HorasUm livro magistral da mais importante escritora contemporânea brasileira. Numa narrativa comovente e sensível, Nélida Piñon revive memórias afetivas que emergem a partir de um vertiginoso turbilhão de lembranças e emoções. E a cada página lida fica claro para o leitor que, independentemente da sua vivência ou da riqueza das suas lembranças, a sua história de amor sempre foi uma só: com a palavra. -
A República dos Sonhos«Chegara afinal o momento de o Brasil realizar-se como nação. Quem sabe não estaria surgindo, a partir daquele novembro de 1930, a República dos Sonhos, sonhada por brasileiros novos e antigos?»Filha de imigrantes galegos, Nélida Piñon inspira-se nas suas memórias da infância para reconstituir a história de uma família que se confunde com a história do Brasil. Um romance de técnica magistral, onde as vidas de dezasseis personagens se entretecem numa teia que, mais do que criar um mundo ficcional, incorpora o legado da herança rica e pluricultural da autora. Uma metáfora do Brasil que é também uma das obras mais transparentes desta grande escritora da língua portuguesa.Romance vencedor do Prémio da Associação de Críticos de Arte de São Paulo e do Prémio Ficção Pen Club. -
Filhos da América«Em Filhos da América, Nélida Piñon escreve sobre Machado de Assis e José de Alencar, escritores que considera dois dos principais intérpretes do Brasil na literatura; perfila a atriz Marília Pêra, exalta a escrita de Rachel de Queiroz, saúda a chegada de Antônio Torres à Academia Brasileira de Letras e, entre outros temas, homenageia a amiga Carmen Balcells, que morreu em 2015 e foi agente literária dos maiores escritores da América Latina.Neste que também é um livro sobre memória, Nélida rende tributos à literatura ibero-americana, passeia pela Galiza da sua infância e a que restou na vida dos parentes que com ela vieram para o Brasil, recorda os caminhos que a levaram a escrever livros como A República dos Sonhos, sobre imigração, e Vozes do Deserto, sobre as narrativas árabes, que tem Scherezade como protagonista.Grande contadora de histórias e exímia ouvinte, a autora circula por todos os ambientes, desde as esquinas de seu bairro até os salões mais nobres, recolhendo, da vida e da relação com as pessoas, memórias que transbordam em seguida para a sua escrita. Este livro é, portanto, um registo das suas experiências, da cultura e das pessoas.»Jornal de Letras, Rio de Janeiro -
Uma Furtiva Lágrima«Nélida é uma escritora que não faz concessões. Contudo, conquistou leitores no seu país, na sua língua, em outras línguas, e desde há muitos anos é objeto de reconhecimento, de honras e de prémios. Isto não fala só do talento de Nélida, mas também da sua literatura, pura, autêntica, íntegra, feita de amor à palavra, à vocação, à arte, à beleza e à criação.»Mario Vargas Llosa A língua portuguesa numa escrita luminosa, num livro de memórias na linha de Livro das Horas. Uma narrativa de impressões sobre a vida e a morte, sobre as relações humanas, o amor, a paixão, a pertença, num exercício literário de rara beleza.Uma Furtiva Lágrima reúne pensamentos, reflexões, memórias, aforismos e confissões. «Com a força da sua imaginação, tem a capacidade de expressar literariamente os sonhos de todo o Brasil ou mesmo de toda a grande família latino-americana.»New York Times Book Review «Nélida Piñon não é apenas uma das mais importantes escritoras da língua portuguesa, é uma das vozes mais relevantes do panorama internacional. O leitor vive em cada um dos seus livros a viagem incessante da palavra.»Mercedes Monmany, ABC «Ao contrário do que se espera de uma escritora que sempre prezou as narrativas densas, ela constrói uma obra porosa, entrelaçando vários géneros textuais: a autobiografia, o ensaio, a prosa de ficção e a poesia. Disso resultando um texto leve mas consistente.»Folha de São Paulo «A dimensão amazónica da imaginação de Nélida Piñon situa-a na categoria de génio.»Publishers Weekly -
Um Dia Chegarei a SagresO esperado regresso de Nélida Piñon ao romance numa obra parcialmente escrita em Portugal, vencedora do Prémio Pen Clube Brasil de Literatura 2020A história de Mateus, um camponês do Portugal profundo do século XIX que cresce sob a dedicada tutela do avô, mas sufocado pelo obscuro segredo que envolve os seus progenitores. Quando o avô morre, Mateus resolve abandonar o arado e marchar para Sagres. Trata-se de uma obsessão antiga: fascinado pelas sagas dos heróis descobridores marítimos, Mateus está decidido a encontrar o túmulo do infante D. Henrique naquela cidade. Mas será que algum dia chegará a Sagres? Narrada com a mestria característica de Nélida Piñon, a odisseia de Mateus é uma análise poderosa do esplendor e decadência de Portugal e uma homenagem belíssima à tradição literária e cultural portuguesa.«A vencedora do Prémio Príncipe de Astúrias narra neste romance a sua relação com Portugal e a história dos homens portugueses, que, animados pelo espírito desbravador, se lançam às conquistas. […] Em cada passo desse camponês por sua terra, Nélida faz ecoar toda a tradição da literatura portuguesa: a grandeza de Portugal cantada por Camões em Os Lusíadas; a convocação de Fernando Pessoa em Mensagem para que o país readquira tal grandeza; a história dos anónimos, frequentemente esquecidos pelos livros de história, mas que são responsáveis pela manutenção de uma pátria, na esteira de José Saramago, em Memorial do Convento.»Guilherme Stumpf, revista Amálgama «Nélida cuida como ninguém da eterna busca de um homem miserável por seu lugar no mundo. Os pensamentos de Mateus e suas interações com o mundo têm uma profundidade singular. Não é nada fácil escrever assim. Nélida Piñon dá aula.» Rafael Medeiros, Jornal da Orla
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O Príncipe da Democracia - Uma Biografia de Francisco Lucas PiresNenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.Em O Príncipe da Democracia, Nuno Gonçalo Poças reconstitui o percurso e as ideias deste homem invulgar, cujo legado permanece em grande parte por cumprir, e passa em revista os seus sucessos e fracassos. O resultado é um livro que, graças à absoluta contemporaneidade do pensamento do biografado, nos ajuda a compreender as grandes questões que o país e a Europa continuam a enfrentar, mostrando-nos, ao mesmo tempo, uma elegância política difícil de conceber quando olhamos hoje à nossa volta.Mais do que um retrato elucidativo de Lucas Pires, que partiu precocemente aos 53 anos, este é um documento fundamental para responder aos desafios do futuro, numa altura em que o 25 de Abril completa meio século. -
A DesobedienteA dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem. -
Emílio Rui VilarMemórias do país da ditadura e do alvor da democracia em Portugal. A vida de Emílio Rui Vilar atravessou as principais mudanças da segunda metade do século XX. Contado na primeira pessoa, um percurso fascinante pelo fim do regime de Salazar e Caetano e pela revolução de Abril.Transcrevendo entrevistas realizadas ao longo de vários meses, este livro recolhe o relato na primeira pessoa de uma trajetória que percorreu o início da contestação ao Estado Novo no meio universitário, a Guerra Colonial, a criação da SEDES, o fracasso da “primavera marcelista” e os primeiros anos do novo regime democrático saído do 25 de Abril, onde Emílio Rui Vilar desempenhou funções governativas nos primeiros três Governos Provisórios e no Primeiro Governo Constitucional. No ano em que se celebram cinco décadas de democracia em Portugal, este livro é um importante testemunho sobre dois regimes, sobre o fim de um e o nascimento de outro. -
Oriente PróximoCom a atual guerra em Gaza, este livro, Oriente Próximo ganhou uma premente atualidade. A autora, a maior especialista portuguesa sobre o assunto, aborda o problema não do ponto de vista geral, mas a partir da vida concreta das pessoas judeus, árabes e outras nacionalidades que habitam o território da Palestina. Daí decorre que o livro se torna de leitura fascinante, como quem lê um romance.Nunca se publicou nada em Portugal com tão grande qualidade. -
Savimbi - Um homem no Seu MartírioSavimbi foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e acções encobertas de segurança com o objectivo de o desacreditar e isolar. Se não aceitasse o exílio ou a sujeição, como foi o objectivo falhado dessa campanha, o fim último era matá-lo, como aconteceu: premeditadamente! Para que a sua «morte em combate» não suscitasse empatia, foi como um chefe terrorista da laia de Bin Laden que a sua morte foi apresentada – artifício da propaganda que tirou partido da memória emocional recente dos atentados da Al Qaeda, na América. Julgado com honestidade, Savimbi nunca foi o «bandido» por que o fizeram passar. O manifesto apreço que personalidades de indiscutível clareza moral, como Mandela, tiveram por ele prova-o. O MPLA elegeu-o como adversário temido e quis apagá-lo do seu caminho! Não pelos crimes a que o associaram. O que o MPLA e o seu regime temiam eram as suas qualidades e carisma, a sua representatividade política e o prestígio externo que granjeara. Como outros grandes da História, Savimbi também tinha defeitos e cometia erros. Mas no deve e haver as suas qualidades eram preponderantes." -
Na Cabeça de MontenegroLuís Montenegro, o persistente.O cargo de líder parlamentar, no período da troika, deu-lhe o estatuto de herdeiro do passismo. Mas as relações com Passos Coelho arrefeceram e o legado que agora persegue é outro e mais antigo. Quem o conhece bem diz que Montenegro é um fiel intérprete da velha tradição do PPD, o partido dos baronatos do Norte. Recusou por três vezes ser governante e por duas vezes foi derrotado em autárquicas. Já fez e desfez alianças, esteve politicamente morto e ressuscitou. Depois de algumas falsas partidas chegou à liderança. Mas tudo tem um preço e é o próprio a admitir que se questiona com frequência: será que vale a pena? -
Na Cabeça de VenturaAndré Ventura, o fura-vidas.Esta é a história de uma espécie de Fausto português, que foi trocando aquilo em que acreditava por tudo o que satisfizesse a sua ambição. André Ventura foi um fura-vidas. A persona mediática que criou nasceu na CMTV como comentador de futebol. Na adolescência convertera-se ao catolicismo, a ponto de se tornar um fundamentalista religioso. Depois de ganhar visibilidade televisiva soube pô-la ao serviço da sua ambição de notoriedade. Passou pelo PSD e foi como candidato do PSD que descobriu que havia um mercado eleitoral populista e xenófobo à espera de alguém que viesse representá-lo em voz alta. Assim nasceu o Chega. -
Contra toda a Esperança - MemóriasO livro de memórias de Nadejda Mandelstam começa, ao jeito das narrativas épicas, in media res, com a frase: «Depois de dar uma bofetada a Aleksei Tolstói, O. M. regressou imediatamente a Moscovo.» Os 84 capítulos que se seguem são uma tentativa de responder a uma das perguntas mais pertinentes da história da literatura russa do século XX: por que razão foi preso Ossip Mandelstam na fatídica noite de 1 de Maio de 1934, pouco depois do seu regresso de Moscovo? O presente volume de memórias de Nadejda Mandelstam cobre, assim, um arco temporal que medeia entre a primeira detenção do marido e a sua morte, ou os rumores sobre ela, num campo de trânsito próximo de Vladivostok, algures no Inverno de 1938. Contra toda a Esperançaoferece um roteiro literário e biográfico dos últimos quatro anos de vida de um dos maiores poetas do século XX. Contudo, é mais do que uma narrativa memorialística ou biográfica, e a sua autora é mais do que a viúva mítica, que memorizou a obra proibida do poeta perseguido, conseguindo dessa forma preservar toda uma tradição literária. Na sua acusação devastadora ao sistema político soviético, a obra de Nadejda Mandelstam é apenas igualada por O Arquipélago Gulag. O seu método de composição singular, e a prosa desapaixonada com que a autora sonda o absurdo da existência humana, na esteira de Dostoievski ou de Platónov, fazem de Contra toda a Esperança uma das obras maiores da literatura russa do século XX.