Êxodo
Neste mundo conturbado, cada um de nós pode passar a ser, a qualquer momento, um exilado, refugiado, fugitivo ou prisioneiro.
A linha comum do segundo livro de Susana Martins é a noção de saída, mudança, procura de refúgio, peregrinação interior, tudo o que implique movimento e capacidade de decisão. Aqui se aborda de maneira livre a via-sacra de um carpinteiro em catorze capítulos e de como a história se repete em pequenos acontecimentos do dia-a-dia.
E se este livro fosse também uma celebração do amor?
Assim se coloca o desafio de o mundo se questionar sempre, por mais absurdas que se tornem as situações, as personagens, verdadeiras ou ficcionadas.
Como sublinha António Marujo, no Prefácio, os «Êxodos a que hoje assistimos, sentados na nossa impotência e desinteresse, são, ao contrário, quase sempre os de tragédias esquecidas desta humanidade que tarda em ser solidária. São os Êxodos de mais miséria em cima da miséria, mais guerra em cima da guerra, mais opressão em cima da opressão».
| Editora | Rui Costa Pinto Edições |
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| Editora | Rui Costa Pinto Edições |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Susana Martins |
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As Boas ObrasEra uma vez catorze boas obras ou obras de misericórdia de que aqui se dão conta, absolutamente ficcionadas. Era uma outra vez as dez pragas do Egipto, também em ficção absoluta. Era uma terceira vez em que se dá conta dos quatro evangelistas e dos animais que os simbolizam. De novo, poesia ficcionada. Era uma última vez, que todos desejamos sempre que seja mesmo a última, em que se dá conta desse estado permanente de guerra em que vivemos, por dentro e por fora de nós próprios. -
A Sede(...) “A Sede” está cheia destas parábolas que humanizam a natureza ou que naturalizam o homem. O homem-peixe que se algema todas as noites dentro do aquário num espectáculo de ilusionismo que procura molhar a sede eterna, uma sede de Tântalo. O homem-ulmeiro que colocou um sofá dentro do tronco do ulmeiro amigo. O homem-sol que, depois de abraçar a árvore, sente que o arbóreo abraço é demasiado sufocante, abraço constritor de jibóia; assusta-se, mas logo descobre que a árvore só “tinha adormecido agarrada a ele”. É impossível não ficar rendido à ternura desta passagem, até porque é uma ternura depurada e oferecida na dose certa: mais uma linha e a autora ter-se-ia atolado no melaço lamechas como um animal na areia movediça. Estas metáforas têm uma linguagem concreta, estão encostadas à precisão cirúrgica dos sonhos. Por vezes, até dá a impressão de que Susana Martins passou a papel químico alguns dos seus próprios sonhos. Talvez o mais notável destes (hipotéticos) palimpsestos é o poema “Litoral”: “Deus construiu-me um cadeirão no meio das ondas (...) Do meu cadeirão no meio das ondas, / construído por Deus, / vejo tudo / E estou lá sempre. / De lá dou sugestões a quem me construiu o cadeirão. / Que nunca me ouve, /nem quando digo que / O mar é do melhor que já inventaste”. É preciso grandeza para imaginar alguém falando com Deus a partir de um trono que flutua como uma jangada perdida nas ondas. Não é esta uma metáfora perfeita do temor do crente perante o mistério de Deus? Tal como “Êxodo”, o livro anterior da autora, “A Sede” tem o seu coração numa preocupação cívica da autora. Se “Êxodo” está marcado pelo drama actual dos refugiados, “A Sede” está marcada pelo fantasma da falta de água do nosso futuro próximo. Mas repare-se que nada aqui é panfletário ou chato. Susana Martins usa a preocupação humanitária como a fogueira que aquece o essencial: a poesia que há-de sobreviver à sua chama inicial. No futuro, quando os nossos filhos viverem num mundo normal e não num deserto apocalíptico, a nossa preocupação com a água será incompreensível ou uma preciosidade arqueológica. No entanto, os melhores poemas de “A Sede” continuarão a fazer sentido, continuarão a ser parábolas sobre a condição humana. (...) (Excerto do Prefácio de Henrique Raposo) -
Posso Ajudar? - Livro de ReceitasEste livro foi desenvolvido a pensar em todas as crianças que gostam de ajudar na cozinha. As receitas foram escolhidas a dedo para serem práticas, fáceis e saborosas. Tem a particularidade de ter muitas ilustrações. Assim, mesmo quem ainda não aprendeu a ler consegue perceber quais são os ingredientes necessários e todos os passos a dar. Agora, já podem ajudar. Bom apetite! -
Carta de Amor a um CiclistaSilvestre Chaul é um ciclista imaginário, que vive num mundo e num tempo imaginários, que podem ser já hoje, amanhã ou daqui a um século. Ele tem uma versão dos factos. Malamar é a mulher do ciclista que acaba presa e conta a sua própria versão. E, pelo meio, conhecemos Barão Domingo, o "mágico-Deus-santo-diabrete", que há-de levar a carta a Silvestre. -
Exilados Portugueses em Argel - A FPLN das Origens à Ruptura com Humberto DelgadoNo final de 1962, criava-se a Frente Patriótica de Libertação Nacional na Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas realizada em Roma. Pela mesma altura, começava a formar-se um novo núcleo do exílio português na recém independente Argélia, onde acabou por se instalar a delegação da FPLN no exterior. Uma opção de inegável significado político, consentânea com dois dos temas quentes que animavam o debate travado na oposição portuguesa: a prioridade a atribuir à questão colonial e a adoção de novos métodos de luta contra a ditadura salazarista, como a luta armada. Nos últimos dias de Junho de 1964, Humberto Delgado chegava a Argel para assumir a presidência da FPLN, quando o ambiente entre os portugueses estava já muito crispado, com graves diferendos pessoais a misturarem-se com a radicalização das posições políticas. Um conflito em que rapidamente se envolveu, acabando por romper com a Frente. Terminava aqui a primeira fase da história da FPLN.
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira