A Fome dos Corvos e Outros Pretextos Teatrais
«Mais tarde ou mais cedo, os homens hão-de vencer os corvos! Desobedeçam, não se submetam! Só temos uma vida. E é curta para tanta tarefa!»
Reúnem-se neste volume quatro peças de teatro de Domingos Lobo: A Fome dos Corvos, A Solidão à Chuva, Filhos de Orfeu e Um Violino na Lama. Se nas primeiras o autor confronta o leitor com a guerra e os mais abjectos sentimentos humanos, quando passam 75 anos sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, nas últimas convida-o para uma viagem à literatura portuguesa do século XX, tendo por companheiros Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de SáCarneiro, José Gomes Ferreira, Alexandre Pinheiro Torres e Manuel da Fonseca.
| Editora | Página a Página |
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| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Domingos Lobo |
Andei pelos liceus de Lisboa, rebeldia mansa dos anos 1960; pelos corredores das Faculdades de Direito (meu remorso de um semestre), de Letras; pelas salas austeras do Conservatório Nacional a ouvir dos professores, sobre Teatro, o que já havia esquecido e não me interessava – queríamos os interditos: Brecht, Grotovsky, Artaud, Piscator; um mestrado em Administração e Economia Cultural, que utilizei pouco.
Fiz teatro radiofónico e jornalismo em jornais angolanos ao tempo colonial, depois, como freelancer para cumprir os dias e resgatar uns trocos para livros, filmes, viagens.
Meteram-me, à má fila, no negreiro Vera Cruz, rumo às terras angolanas do Cuando-Cubango. Era a guerra e eu, distraído, bebendo a propaganda salazarenta até à imbecilidade, acordei em sobressalto numa noite de bazucas e kalachnikovs, de costureirinhas trespassando os pássaros da noite, frémitos e perplexidade. Chana e capim a perder de vista. Escrevi um livro sobre o tema que anda por aí em estudos académicos, pelas histórias da literatura de guerra e em 2 edições catitas: Os Navios Negreiros Não Sobem o Cuando. Foi a estreia nestas coisas de escreviver. Outros 4 romances se lhe seguiram, mais 3 livros de contos; 5 de poesia; peças de teatro; ensaio, antologias.
Fundei com outros companheiros e dirigi três grupos de Teatro: GATO – Grupo de Acção Teatral de Oeiras; Grupo de Animação Teatral de Salvaterra de Magos e SOBRETÁBUAS - Grupo de Teatro de Benavente; encenei uma vintena de peças, com Tchekov, Strindberg e Santareno como referências pendulares desse labor; chefe de redação do Jornal do Vale do Tejo. Fui programador cultural na Câmara Municipal de Benavente; autarca em Salvaterra de Magos, durante 32 anos (tenho por lá uma rua com o meu nome, o que me sossega de vã eternidade); Presidente do Conselho Fiscal da APE, desde 2000.
Participei na II Bienal de Silves, onde proferi a "lição de sapiência" sobre a obra de Urbano Tavares Rodrigues, e na III Bienal, dedicada à obra de Pedro Tamen; em 3 edições dos ENCONTROS LUSÓFONOS, organizados pela CM de Odivelas; na ESCRITARIA/Penafiel, em 2008, ano em que o evento foi dedicado a Urbano Tavares Rodrigues e em 2013, ano de homenagem a Mário de Carvalho e no III Encontro Internacional de Poetas (Ponta Delgada/2019).
Tenho colaboração crítica e ensaística dispersa por várias publicações: Jornal do Brasil, Vértice, As Artes Entre as Letras, Revista Alentejo, O Escritor, Foro das Letras, Seara Nova, Revista Cultura, EntreLetras, Nova Síntese (da Associação Promotora do Museu do Neo-realismo), Avante! e Gazeta Literária. Dou aulas em Universidades de 3.ª. idade; tenho 22 livros publicados e outros em gestação; vários prémios literários e medalhas para polir o ego.
Ainda não estou cansado.
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Palavras que RespiramTrata-se de um livro de livros, um olhar atento a partir de espólios vários. É uma recolha de textos dispersos por jornais, revistas, colectâneas e prefácios e de mais de dez anos de actividade literária e de actos públicos. Um escritor a dar testemunhos de comparsas seus. -
Os Dias DesarmadosO mais recente livro de poesia de Domingos Lobo, que «não teme as palavras, nem hesita ao apresentá-las assim brutais», como diz no prefácio Francisco Duarte Mangas, quando retrata as memórias da guerra colonial. -
Cenas de um TerramotoHá em Cenas de um Terramoto, todo em exame da história do espaço público da sociedade dos princípios do século XX, numa tentativa de não deixar no vazio mesmo o mais pequeno pormenor. Os diálogos expressivos e directos, de linguagem simples, transmitem plenamente as vivências das gentes da "borda-d´água" . -
Lisboa Modos de Habitar: Topografia ÍntimaLisboa, Modos de Habitar, de Domingos Lobo, um breviário afectivo da cidade, constituído por um significativo conjunto de poemas que levam por título lugares de que a memória se mostra prisioneira. Um itinerário de sombras pessoais, com alguns flashes festivos que a revisitação da infância faz vir à superfície, como na espinha dorsal do livro, os 7 poemas com o título geral de «O eléctrico da Rua do Arco do Cego» (acrescidos de um último olhar sob o signo da cegueira), a partir da imagem do eléctrico, símbolo de um tempo lento, agente de percursos intermináveis de quem, no fundo, não saía do mesmo sítio. O poeta da recolha que agora se publica traz-nos os registos pessoais e familiares, mas também a perspectiva social e histórica de um tempo de formação, de aprendizagem da vida, da descoberta dos outros, das emoções, do peso da existência e da leveza do sonho. -
As Máscaras Sobre o FogoEm “As Máscaras Sobre o Fogo” Domingos Lobo aprofunda na sua ficção a denúncia do aproveitamento do subproletariado pelo poder fascista, e agora também por novos poderosos do capitalismo liberal, para a prossecução dos seus fins. Num enredo de peripécias e suspense onde evoluem personagens típicas dos estratos marginais da cosmopolita Lisboa, mostrados sobretudo através do vocabulário e sintaxe por eles usados, que Domingos Lobo ouviu, assimilou, e passou a recriar, chegando a distorcer literariamente palavras e frases. -
Para Guardar o Fogo – EpitáfiosPara Guardar o Fogo – Epitáfios, de Domingos Lobo, Prémio Literário Cidade de Almada/2009, é um livro sobre a memória das palavras e dos autores que, nestes poemas, são convocados para uma série de «Conversas Póstumas». Epitáfios que são, sobretudo, uma homenagem que o autor encena sobre os universos poéticos ou pictóricos dos «mortos amados». De Mário-Henrique Leiria a O'Neill, de Ary dos Santos a Ruy Belo, de Fernando Pessoa a José Gomes Ferreira. Uma extensa, ecléctica galeria de nomes, de percursos, de afectos, de difusas memórias, sobre o espaço do real transfigurado, das cidades – de uma identidade que se vivifica nesse húmus, nessa pele, nesse translúcido navio que a poesia, em seu bojo evanescente, transporta. -
Pés Nus na Água FriaNa literatura portuguesa produzida após o 25 de Abril, não abundam os textos de ficção que nos falem do fascismo e da resistência que lhe foi oposta por milhares de portugueses. Menos ainda são os que dessa resistência evocam aqueles que foram os seus mais destacados protagonistas: os militantes comunistas. Neste quadro, a publicação de um romance que tem como cenário o fascismo e a resistência antifascista, constitui um facto digno de registo – e de aplauso. Mais ainda quando – como é o caso deste Pés Nus na Água Fria de Domingos Lobo – estamos perante uma história conduzida com notável destreza narrativa, numa prosa poderosa, escorreita, amiúde luminosa – e que se lê de um fôlego e prende o leitor da primeira à última página, como é uso dizer-se nestes casos... O narrador é também ele personagem do romance, resistente assumido que intervém como tal, desmontando a brutalidade, a mesquinhez, a hipocrisia, a sordidez, a podridão reinantes. Tomando partido. A dizer-nos que o fascismo existiu... Pés Nus na Água Fria é um romance a saudar. E a ler. Do prefácio de José Casanova -
O Rosto em RuínasAs palavras para descrever um rosto, o rosto e seus desmandos, suas feridas. O rosto espelho de caminhos, ultrajes, paixões, inquietudes, desânimo. Também a força que há nos músculos, no olhar perscrutando a hulha do devir, ou percorrendo, pelas veredas das rugas, as notícias dos dias amplos, da solidão, do silêncio, dos vazios que enxameiam as estradas do mundo: consciência solidária em busca do lado justo. As marcas que percorrem o rosto, um rosto desabrigado e confuso como a palma da mão. Um percurso de ruínas, pela memória, planando as paixões, os medos, aangústia existencial. Combate absurdo contra os fantasmas que ainda teimam em desarrumar os dias e açoitar as noites. O Amor e os seus lanhos, suas perplexidades. A carga das palavras, tão urgentes como respirar, que transportamos aos ombros e crepitam no escuro, nos limitam em sua efémera transgressão. Poemas sobre o rosto, a idade, o lúcido derruir dos dias da alegria. Sem ilusões nem mágoa. -
Concerto de Miau e Piu Piu - Uma Aventura com Música, Travessuras e outras AventurasO «Concerto de Miau e Piu Piu», é uma parábola sobre a amizade, e as diversas formas de a entender, entre dois animais de espécies diferentes: um gato, com a sua felina natureza e um frágil canário. O gato, façanhudo, vê no desamparado canário apenas um bom petisco para a sua dieta. Acontece que o canário possui um piar virtuoso e arrebatador. Esse melodioso trinado irá conquistar o ser sensível que, afinal, habita o predador gatão. Este livro diz-nos, a rimar, que a Amizade e o respeito mútuo, a aceitação do Outro, é sempre possível quando dois seres, por muito diferentes que sejam, descobrem o que no Outro existe de melhor, de genuíno. O resto desta história é música e sonho. Modos de sonhar com um mundo melhor. -
Origens e Derivações do Neo-Realismo Literário PortuguêsDomingos Lobo tem sido, na crítica literária em Portugal, uma voz única, pelos critérios, pelas leituras, pelas perspectivas. Na amplidão do seu trabalho, entre jornais e revistas, conferências e encontros vários, tem dado também ao Neo-Realismo a importância que esse movimento, sem paralelo na literatura portuguesa - pela fértil produção, pela relevância política, pelo legado histórico -, justifica, tanto mais quando, em regra, vem sendo mais ou menos paulatinamente ignorado. Evidência da multiplicidade e fecundidade do neo-realismo é a lista - uma lista que qualquer leitor atento sabe não ser sequer exaustiva - de autores que Domingos Lobo aborda nesta antologia. Como nos diz Domingos Lobo, «as obras estão aí (livros, filmes, teatro, pintura) para que as possamos usar» nesse projecto transformador que esteve na raiz de toda a criação neo-realista. E este livro é, também ele, portador de sentido(s) e futuro(s).
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Os CavaleirosOs Cavaleiros foram apresentados nas Leneias de 424 por um Aristófanes ainda jovem. A peça foi aceite com entusiasmo e galardoada com o primeiro lugar. A comédia surgiu no prolongamento de uma divergência entre o autor e o político mais popular da época, Cléon, em quem Aristófanes encarna o símbolo da classe indesejável dos demagogos. Denunciar a corrupção que se instaurou na política ateniense, os seus segredos e o seu êxito, eis o que preocupava, acima de tudo, o autor. Discursos, mentiras, falsas promessas, corrupção e condenáveis ambições são apenas algumas das 'virtudes' denunciadas, numa peça vibrante de ritmo que cativou o público ateniense da época e que cativa o público do nosso tempo, talvez porque afinal não tenha havido grandes mudanças na vida da sociedade humana. -
Atriz e Ator Artistas - Vol. I - Representação e Consciência da ExpressãoNas origens do Teatro está a capacidade de inventar personagens materiais e imateriais, de arquitetar narrativas que lancem às personagens o desafio de se confrontarem com situações e dificuldades que terão de ultrapassar. As religiões roubaram ao Teatro as personagens imateriais. Reforçaram os arquétipos em que tinham de se basear para conseguirem inventariar normas de conduta partilháveis que apaziguassem as ansiedades das pessoas perante o mundo desconhecido e o medo da morte.O Teatro ficou com as personagens materiais, representantes não dos deuses na terra, mas de seres humanos pulsionais, contraditórios, vulneráveis, que, apesar de perdidos nos seus percursos existenciais, procuram dar sentido às suas escolhas.Aos artesãos pensadores do Teatro cabe o desígnio de ir compreendendo a sua função ao longo dos tempos, inventando as ferramentas, esclarecendo as noções que permitam executar a especificidade da sua Arte. Não se podem demitir da responsabilidade de serem capazes de transmitir as ideias, as experiências adquiridas, às gerações vindouras, dando continuidade à ancestralidade de uma profissão que perdura. -
As Mulheres que Celebram as TesmofóriasEsta comédia foi apresentada por Aristófanes em 411 a. C., no festival das Grandes Dionísias, em Atenas. É, antes de mais, de Eurípides e da sua tragédia que se trata em As Mulheres que celebram as Tesmofórias. Aristófanes, ao construir uma comédia em tudo semelhante ao estilo de Eurípides, procura caricaturá-lo. Aristófanes dedica, pela primeira vez, toda uma peça ao tema da crítica literária. Dois aspectos sobressaem na presente caricatura: o gosto obsessivo de Eurípides pela criação de personagens femininas, e a produção de intrigas complexas, guiadas por percalços imprevisíveis da sorte. A somar-se ao tema literário, um outro se perfila como igualmente relevante, e responsável por uma diversidade de tons cómicos que poderão constituir um dos argumentos em favor do muito provável sucesso desta produção. Trata-se do confronto de sexos e da própria ambiguidade nesta matéria. -
A Comédia da MarmitaO pobre Euclião encontra uma marmita cheia de ouro, esconde-a e aferra-se a ela; passa a desconfiar de tudo e de todos. Entretanto, não se apercebe que Fedra, a sua filha, está grávida de Licónides. Megadoro, vizinho rico, apaixonado, pede a mão de Fedra em casamento, e prontifica-se a pagar a boda, já que a moça não tem dote. Euclião aceita e prepara-se o casamento. Ora acontece que Megadouro é tio de Licónides. É assim que começa esta popular peça de Plauto, cheia de peripécias e de mal-entendidos, onde se destaca a personagem de Euclião com a sua desconfiança, e que prende o leitor até ao fim. «O dinheiro não dá felicidade mas uma marmita de ouro, ao canto da lareira, ajuda muito à festa» - poderá ser a espécie de moralidade desta comédia a Aulularia cujo modelo influenciou escritores famosos (Shakespeare e Molière, por exemplo) e que, a seguir ao Anfitrião, se situa entre as peças mais divulgadas de Plauto. -
O Teatro e o Seu Duplo«O Teatro e o Seu Duplo, publicado em 1938 e reunindo textos escritos entre 1931 e 1936, é um ataque indignado em relação ao teatro. Paisagem de combate, como a obra toda, e reafirmação, na esteira de Novalis, de que o homem existe poeticamente na terra.Uma noção angular é aí desenvolvida: a noção de atletismo afectivo.Quer dizer: a extensão da noção de atletismo físico e muscular à força e ao poder da alma. Poderá falar-se doravante de uma ginástica moral, de uma musculatura do inconsciente, repousando sobre o conhecimento das respirações e uma estrita aplicação dos princípios da acupunctura chinesa ao teatro.»Vasco Santos, Posfácio -
Menina JúliaJúlia é uma jovem aristocrata que, por detrás de uma inocência aparente esconde um lado provocador. Numa noite de S. João, Júlia seduz e é seduzida por João, criado do senhor Conde e noivo de Cristina, a cozinheira da casa. Desejo, conflitos de poder, o choque violento das classes sociais e dos sexos que povoam aquela que será uma noite trágica. -
Os HeraclidasHéracles é o nome do deus grego que passou para a mitologia romana com o nome de Hércules; e Heraclidas é o nome que designa todos os seus descendentes.Este drama relata uma parte da história dos Heraclidas, que é também um episódio da Mitologia Clássica: com a morte de Héracles, perseguido pelo ódio de Euristeu, os Heraclidas refugiam-se junto de Teseu, rei de Atenas, o que representa para eles uma ajuda eficaz. Teseu aceita entrar em guerra contra Euristeu, que perece na guerra, junto com os seus filhos. -
A Comédia dos BurrosA “Asinaria” é, no conjunto, uma comédia de enganos equilibrada e com cenas particularmente divertidas, bem ao estilo de Plauto. A intriga - na qual encontramos alguns dos tipos e situações características do teatro plautino (o jovem apaixonado desprovido de dinheiro; o pai rival do filho nos seus amores; a esposa colérica odiada pelo marido; a cínica, esperta e calculadora alcoviteira; e os escravos astutos, hábeis e mentirosos) - desenrola-se em dois tons - emoção e farsa - que, ao combinarem-se, comandam a intriga através de uma paródia crescente até ao triunfo decisivo do tom cómico.