Jesus Cristo em Lisboa - Tragicomédia em Sete Actos
Condenação do fariseísmo social e da cegueira política patentes num dado instante (aliás temporal) da vida portuguesa (em que Lisboa aparece tão literalmente identificada como Pôncio Pilatos no Credo), a peça Jesus Cristo em Lisboa surge também como um Auto de Fé, com todos os respectivos ingredientes da acusação, do juízo e da sanção mortal — episódio do grande teatro do mundo. Nem lhe falta a moralidade conclusiva, a mensagem, por isso que, auto, é também moralidade, como se na peça se reunissem os dados peculiares a um auto sacramental de apologia do Amor. E, todavia, talvez escandalizados com a peça, continuaremos a crucificar Jesus com os pregos dos nossos pecados…
Diremos então que, não sendo um discurso racionalista, ou dialéctico, ele aduz uma doutrina, como se a tragicomédia fosse algo que está para além do teatro, mas antes busca re-situar o querigma primeiro, a boa nova da alegria, na escuridão das trevas. Nem lhe falta a chave de ouro do maior dos mistérios: «Amai-vos uns aos outros» (Sétimo Quadro). João (15, 12) acrescentara, para haver modelo de referência: «como Eu vos amei».
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Obras de Teixeira de Pascoaes |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Raul Brandão, Teixeira de Pascoaes |
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HúmusPublicado pela primeira vez em 1917, Húmus, a obraprima de Raul Brandão, é um misto de diário, feito de visões e reflexões metafísicas, e de ficção simbólica, onde se alternam dois monólogos interiores em fragmentos datados ao longo de cerca de um ano o monólogo do autor/narrador, na primeira pessoa, e o de um filósofo lunático, alter ego do autor, apodado de Gabiru. Escrito num estilo poderosamente original e de uma modernidade impressionante, Húmus explora a contradição entre o mundo aparente e o autêntico, onde se descobrem monstruosidades não sonhadas. -
O Penitente (Camilo Castelo Branco)Pascoaes foi iniciado na leitura de Camilo Castelo Branco por sua mãe, que guardava à cabeceira da cama os livros deste autor e, quando chegava ao último volume, voltava a ler o primeiro. Assim se interessou um autor pela figura romanesca do outro, cujos passos descreverá, desde a infância até ao suicídio. Através da leitura desse percurso ficam-se a conhecer diferentes episódios, como a profanação da sepultura de Maria do Adro, a prisão de Ana Plácido e Camilo, e os últimos dias em Ceide. No epílogo deste livro, Teixeira de Pascoaes alerta para o facto de não ter escrito uma biografia, ou uma crítica literária, pois quis apenas aproveitar, da vida e obra de Camilo Castelo Branco, o que constitui o “drama camiliano”. Desta forma se explica que, como afirma António-Pedro Vasconcellos na sua introdução ao livro, Camilo, visto por Pascoaes, seja “uma personagem saída da imaginação de um Shakespeare ou de um Dostoiévski, um eterno enamorado da morte e um irredutível solitário”. -
Os Poetas LusíadasDo convite de Eugenio d’Ors, director do Instituto de Estudos Catalães, a Teixeira de Pascoaes para a realização de um conjunto de conferências em Barcelona, resulta Os Poetas Lusitanos. Neste livro, Pascoaes romanceia sobre a história da poesia portuguesa, desde a sua “idade de oiro”, com D. Dinis, passando pelo período “marítimo ou henriquino”, “sebastianista” e “político” até aos dias de hoje, em que perdura ainda o período “neo-sebastianista”. Ao efabular sobre poesia, a arte que, para Pascoaes, nasceu da dança, o escritor interpreta Camões, Agostinho da Cruz e Bernadim Ribeiro, Guerra Junqueiro, António Nobre e Antero de Quental. -
Regresso ao ParaísoRegresso ao Paraíso, livro escrito por Teixeira de Pascoaes em 1912, inicia-se com a descrição do Inferno, onde “Satã consome o fogo dos seus dias cuidando, com amor, do martírio das almas” que ali lhe chegam. Da fronte do Diabo sobressai o símbolo do seu Império, a serpente que seduziu Eva ao enroscar-se na árvore do Paraíso, transformando-a, e a Adão, nos dirigentes das nocturnas legiões de Satã. Quando Satã, ouvindo a serpente que prevê o fim da humanidade, envia Adão e Eva para o mundo “à frente dos demónios aguerridos”, não esperava que, através das recordações do Paraíso, estes revivessem o amor original, sentindo piedade dos seus filhos. Trava-se, assim, uma batalha entre Anjos e Demónios em que, se Adão vencer o demónio que nele se entranhou, poderá regressar ao Paraíso. O homem vive, em Regresso ao Paraíso, uma tragédia onde os personagens principais são Deus e Satã. -
A Saudade e o Saudosismo (dispersos e opúsculos)Em A Saudade e o Saudosismo apresenta-se um conjunto de artigos dispersos, escritos por Teixeira de Pascoaes de 1910 a 1952, mas que o autor não pensou publicar em vida. Organizado cronologicamente por Pinharanda Gomes, este livro inclui os artigos iniciais de A Águia e os que aludem ao estatuto doutrinal da Renascença Portuguesa, bem como o núcleo da polémica com António Sérgio, as conferências sobre a “Saudade”, e os estudos de alguns poetas, como António de Magalhães e João Lúcio. -
Santo AgostinhoSanto Agostinho, livro publicado em 1945 e que Pinharanda Gomes apresenta, é a última biografia de Teixeira de Pascoaes, onde este caracteriza o escritor das Confissões como um ser complexo, simultaneamente poeta e filósofo, místico e racionalista. Assim, “Santo Agostinho místico é um suicida, um foragido do mundo, como esses internados nas solidões da Tebaida, famintos de Deus e de silêncio, metidos numa caverna tumular, tendo, à entrada, em certas noites, um anjo resplandecente de brancura. (…) E é ainda filósofo e poeta, que a filosofia sem poesia é osso sem carne, um roer sem gosto.”Esta descrição do Santo poder-se-ia aplicar a qualquer um dos biografados por Pascoaes, esses espíritos de “qualidade transcendente”, que o escritor, como explica no prefácio deste livro, persegue, por adoração, como se fosse um “carrasco-poeta”. A leitura de Santo Agostinho constitui, pois, o último capítulo da autobiografia de Pascoaes. -
As Sombras. À Ventura. Jesus e PãAs Sombras, 1900, o poema À Ventura, 1907, e Jesus e Pã, 1903, são as obras incluídas neste livro, apresentado por Gil de Carvalho.No primeiro livro, Pascoaes representa diferentes sombras, do passado, do vento, da vida, do amor, e também de figuras como Eurídice, Jesus, Pã, Deus e o Homem. Após a leitura de As Sombras, Miguel de Unamuno caracterizou Pascoaes como um ser eleito, “que dizia adeus ao sol, falava ao vento, saudava a aurora e lia no infinito”. -
NapoleãoEscreve Teixeira de Pascoaes que a história napoleónica nos seduz porque é “o maior dos romances: o romance da humanidade”. Considerando a História como “a descrição interpretativa do sonho humano”, Pascoaes descreve o Napoleão mais autêntico, o de Goethe e Walter Scott, Stendhal e Dumas. Publicada em 1940, esta biografia romanceada de Napoleão, esse homem que “realiza o que sonha”, é uma das obras maiores de Pascoaes. Nela se trata com maestria a infância e adolescência de Napoleão, as suas aventuras no cerco de Toulon, em Itália, sob o sol do Egipto e as suas desventuras em Waterloo, durante a retirada da Rússia, e em Santa Helena, local do seu calvário. -
Arte de Ser PortuguêsO Arte de Ser Português tem um propósito pedagógico, pretendendo descrever, de forma verdadeira, o conjunto de características que definem Portugal e os seus habitantes. Para que melhor se modelem as juvenis almas portuguesas, Teixeira de Pascoaes propõe o ensino de noções gerais sobre o País, caracteriza as qualidades e os defeitos da “alma pátria”, sugere a forma mais adequada de cultivar o sentimento de sacrifício e explica o idealismo português. Julgando ter dado à estampa um manual, Teixeira de Pascoaes ambicionou que nascessem “bons portugueses” da leitura deste livro, quando, na verdade, tinha imaginado uma história em que Portugal era a personagem principal e ser português constituía uma nova forma de arte. -
O BailadoDesejando falar de si neste livro, Teixeira de Pascoaes acabará, como explica no prólogo a O Bailado, por falar dos outros, esses seres que vivem de si, roubando-lhe a existência. Assim se explica que, na superfície da sua alma, “superfície de lágrima, as cousas projectam a sua imagem; (…) como um grande espelho numa sala de baile, reproduzindo os dançarinos”. O escritor, possuído pelo Acaso, “é um personagem nas mãos de Molière ou Shakespeare”, sendo obrigado a dançar na “corda bamba”, para espectáculo dos deuses. O Bailado, 1921, assemelha-se a uma “velha sala de visitas”, repleta de pessoas desaparecidas que o escritor reuniu, como se a criação fosse, como escreve Pascoaes em Verbo Escuro, um baile de máscaras.
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Os CavaleirosOs Cavaleiros foram apresentados nas Leneias de 424 por um Aristófanes ainda jovem. A peça foi aceite com entusiasmo e galardoada com o primeiro lugar. A comédia surgiu no prolongamento de uma divergência entre o autor e o político mais popular da época, Cléon, em quem Aristófanes encarna o símbolo da classe indesejável dos demagogos. Denunciar a corrupção que se instaurou na política ateniense, os seus segredos e o seu êxito, eis o que preocupava, acima de tudo, o autor. Discursos, mentiras, falsas promessas, corrupção e condenáveis ambições são apenas algumas das 'virtudes' denunciadas, numa peça vibrante de ritmo que cativou o público ateniense da época e que cativa o público do nosso tempo, talvez porque afinal não tenha havido grandes mudanças na vida da sociedade humana. -
Atriz e Ator Artistas - Vol. I - Representação e Consciência da ExpressãoNas origens do Teatro está a capacidade de inventar personagens materiais e imateriais, de arquitetar narrativas que lancem às personagens o desafio de se confrontarem com situações e dificuldades que terão de ultrapassar. As religiões roubaram ao Teatro as personagens imateriais. Reforçaram os arquétipos em que tinham de se basear para conseguirem inventariar normas de conduta partilháveis que apaziguassem as ansiedades das pessoas perante o mundo desconhecido e o medo da morte.O Teatro ficou com as personagens materiais, representantes não dos deuses na terra, mas de seres humanos pulsionais, contraditórios, vulneráveis, que, apesar de perdidos nos seus percursos existenciais, procuram dar sentido às suas escolhas.Aos artesãos pensadores do Teatro cabe o desígnio de ir compreendendo a sua função ao longo dos tempos, inventando as ferramentas, esclarecendo as noções que permitam executar a especificidade da sua Arte. Não se podem demitir da responsabilidade de serem capazes de transmitir as ideias, as experiências adquiridas, às gerações vindouras, dando continuidade à ancestralidade de uma profissão que perdura. -
As Mulheres que Celebram as TesmofóriasEsta comédia foi apresentada por Aristófanes em 411 a. C., no festival das Grandes Dionísias, em Atenas. É, antes de mais, de Eurípides e da sua tragédia que se trata em As Mulheres que celebram as Tesmofórias. Aristófanes, ao construir uma comédia em tudo semelhante ao estilo de Eurípides, procura caricaturá-lo. Aristófanes dedica, pela primeira vez, toda uma peça ao tema da crítica literária. Dois aspectos sobressaem na presente caricatura: o gosto obsessivo de Eurípides pela criação de personagens femininas, e a produção de intrigas complexas, guiadas por percalços imprevisíveis da sorte. A somar-se ao tema literário, um outro se perfila como igualmente relevante, e responsável por uma diversidade de tons cómicos que poderão constituir um dos argumentos em favor do muito provável sucesso desta produção. Trata-se do confronto de sexos e da própria ambiguidade nesta matéria. -
A Comédia da MarmitaO pobre Euclião encontra uma marmita cheia de ouro, esconde-a e aferra-se a ela; passa a desconfiar de tudo e de todos. Entretanto, não se apercebe que Fedra, a sua filha, está grávida de Licónides. Megadoro, vizinho rico, apaixonado, pede a mão de Fedra em casamento, e prontifica-se a pagar a boda, já que a moça não tem dote. Euclião aceita e prepara-se o casamento. Ora acontece que Megadouro é tio de Licónides. É assim que começa esta popular peça de Plauto, cheia de peripécias e de mal-entendidos, onde se destaca a personagem de Euclião com a sua desconfiança, e que prende o leitor até ao fim. «O dinheiro não dá felicidade mas uma marmita de ouro, ao canto da lareira, ajuda muito à festa» - poderá ser a espécie de moralidade desta comédia a Aulularia cujo modelo influenciou escritores famosos (Shakespeare e Molière, por exemplo) e que, a seguir ao Anfitrião, se situa entre as peças mais divulgadas de Plauto. -
O Teatro e o Seu Duplo«O Teatro e o Seu Duplo, publicado em 1938 e reunindo textos escritos entre 1931 e 1936, é um ataque indignado em relação ao teatro. Paisagem de combate, como a obra toda, e reafirmação, na esteira de Novalis, de que o homem existe poeticamente na terra.Uma noção angular é aí desenvolvida: a noção de atletismo afectivo.Quer dizer: a extensão da noção de atletismo físico e muscular à força e ao poder da alma. Poderá falar-se doravante de uma ginástica moral, de uma musculatura do inconsciente, repousando sobre o conhecimento das respirações e uma estrita aplicação dos princípios da acupunctura chinesa ao teatro.»Vasco Santos, Posfácio -
Menina JúliaJúlia é uma jovem aristocrata que, por detrás de uma inocência aparente esconde um lado provocador. Numa noite de S. João, Júlia seduz e é seduzida por João, criado do senhor Conde e noivo de Cristina, a cozinheira da casa. Desejo, conflitos de poder, o choque violento das classes sociais e dos sexos que povoam aquela que será uma noite trágica. -
Os HeraclidasHéracles é o nome do deus grego que passou para a mitologia romana com o nome de Hércules; e Heraclidas é o nome que designa todos os seus descendentes.Este drama relata uma parte da história dos Heraclidas, que é também um episódio da Mitologia Clássica: com a morte de Héracles, perseguido pelo ódio de Euristeu, os Heraclidas refugiam-se junto de Teseu, rei de Atenas, o que representa para eles uma ajuda eficaz. Teseu aceita entrar em guerra contra Euristeu, que perece na guerra, junto com os seus filhos. -
A Comédia dos BurrosA “Asinaria” é, no conjunto, uma comédia de enganos equilibrada e com cenas particularmente divertidas, bem ao estilo de Plauto. A intriga - na qual encontramos alguns dos tipos e situações características do teatro plautino (o jovem apaixonado desprovido de dinheiro; o pai rival do filho nos seus amores; a esposa colérica odiada pelo marido; a cínica, esperta e calculadora alcoviteira; e os escravos astutos, hábeis e mentirosos) - desenrola-se em dois tons - emoção e farsa - que, ao combinarem-se, comandam a intriga através de uma paródia crescente até ao triunfo decisivo do tom cómico.