O Livro dos Testamentos - Picote 1780 - 1803
Mal começou o século XX, José Leite de Vasconcelos, que tinha acabado de travarconhecimento com o mirandês e de dar a conhecer algumas palavras do mesmo, manifestou a sua intenção de visitar um dia os cartórios públicos e particulares da região de Miranda em busca de outros mirandesismos: “Numa busca que algum dia farei em cartórios públicos e particulares da Terra-de-Miranda é provável que maior número de palavras mirandesas colha...” (Vasconcelos, 1901: 25). O propósito do filólogo foi prontamente concretizado em 1902, embora nos tenha dado conta disso apenas em 1929, nos Opúsculos IV. A certo passo, Leite de Vasconcelos dá notícia de algumas palavras locais com que se deparou precisamente em documentos notariais dos séculos XVI a XVIII existentes no arquivo da Câmara Municipal. Não se tratava dos mesmos testamentos que fomos descobrir no Arquivo Municipal, mas de outros, de Aldeia Nova, do mesmo século, cujo rasto seguimos graças às suas indicações, de forma a dar continuidade ao labor de edição dos testamentos inéditos da região de Miranda, capazes de encerrar interferências e características do mirandês e da língua de Trás-os-Montes de outro modo inacessíveis ao estudo
.António Maria Mourinho, grande entusiasta e conhecedor da língua e cultura da Terra de Miranda — bem como, certamente, dessas palavras de Vasconcelos —, veiodepois a mencionar a existência de um leque muito heterogéneo de documentosnotariais ou tabeliónicos dos séculos XII a XIV, que não chegou, porém, a publicar, oraredigidos localmente ora de proveniência régia, mas relativos a propriedades e assuntos locais, quer portugueses quer leoneses, nos quais afl oram, por entre a língua formal, termos e expressões do mirandês (Mourinho, 1987: 75).Este livro apresenta a primeira edição integral de um desses códices, no âmbito deum projecto de edição e estudo de documentação jurídica em português da região deMiranda do Douro anterior ao século XIX, pelo seu valor enquanto fonte para o conhecimento do mirandês e para a descrição e aprofundamento dos traços do português europeu, e em particular de Trás-os-Montes.
| Editora | Frauga |
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| Editora | Frauga |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | António Bárbolo Alves, Anabela Leal de Barros |
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Das Palavras que os Dicionários Não Rezam: um dicionário inédito da língua portuguesaEm 1769, um autor não identificado dirigiu-se no início do seu volume manuscrito a um futuro leitor que não desejava ter, que não pretendia tratar por amigo nem queria conhecer, garantindo haver composto o seu dicionário unicamente para si. Servem, contudo, essas convidativas palavras proemiais, intituladas "Motivo desta obra. A quem ler", como advertência ao leitor indesejado a cujas mãos "a inconstância e incerteza da vida" poderiam um dia ir fazer parar o seu livro. Não concebendo o autor outro tipo de leitor senão o desdenhoso, o implacavelmente crítico, deixa de imediato o aviso: "e por isso te advirto que das tuas sátiras não tirarás já mais que ficares avaliado por homem maldizente e desbocado, que serás aborrecido e detestado, e todos fugirão de ti como de homem apestado".Tendo essa obra — o bem encadernado e bem conservado códice 2126 da Livraria, Arquivos Nacionais-Torre do Tombo — sido cuidadosamente passada a limpo, achando-se praticamente livre de rasuras e partindo do princípio de que o copista anónimo vestia a mesma pele do lexicógrafo não identificado (já que nenhum indício o contraria), será intencional, e suficientemente reflectido, tudo quanto se deixou escrito. Apresenta-se neste livro a edição desse dicionário anónimo, manuscrito, de 1769, que o autor, provavelmente um eclesiástico, compôs sem demasiadas cedências aos imperativos do género, deixando informalmente plasmada a sua visão do mundo e da língua, da sua época e anterior a ela (do galego-português ao português setecentista), incluindo material linguístico que outros evitaram e curiosas notas sobre aspectos da sua recepção, da sua produção, da evolução semântica e do seu exacto entendimento. Além dos leques diacrónico e diafásico, o dicionário abre um variegado e exótico leque de variação diatópica.Entre esse material, ora colhido da oralidade ora proveniente de fontes escritas, acha-se vocabulário das províncias do reino, do Brasil, a "América Portuguesa", da Galiza, de terras africanas (sobretudo Angola), da China e de outras paragens do mundo que, desde os séculos anteriores, vinham os Portugueses dando a conhecer, como o Japão, a Índia, ou ainda o Calaminhão e a Cochinchina; isto para além dos familiares castelhanismos. A obra dá por este generoso e informativo título: "Dicionário ou Vocabulário da Língua Portuguesa de Nomes, Verbos e Vozes que nas Declamações sagradas se devem evitar, com os seus significados, alegorias, metáforas, aluzões, atribuições, ênfases e sinónimos. Como também de palavras antiquadas e vulgares; de termos, nomes e palavras erradas na pronúncia e na escrita. Das palavras e termos usados nas Províncias do Reino, algumas da América Portuguesa, e das palavras marujas e de gíria".A encerrar o dicionário propriamente dito encontram-se o Dicionário dos sobrenomes e apelidos mais usados e comuns em Portugal; o Dicionário dos nomes próprios de homens mais comuns e usados em Portugal e o Dicionário dos nomes mais comuns de mulheres. A edição, reorganizando os verbetes do códice alfabeticamente e relacionando-os por meio de remissões, inclui um amplo estudo introdutório, Critérios de Edição, centenas de anotações ao texto e vários Índices Remissivos: de Idiomatismos; Colocações, locuções e bordões linguísticos; Frases ou sintagmas livres; Palavras que figuram em segundo lugar num lema duplo, variantes do lema para as quais se remete ou sinónimos que se referem mas não constam no dicionário; Palavras que se empregam, definem ou exemplificam na definição de um outro lema, em vez deste ou conjuntamente com ele. -
O Galo do Oriente: contos e lendas de Timor-LesteNeste conjunto de contos e lendas facilmente se surpreende a mudança e a passagem do tempo, desde logo de um ponto de vista externo, ao atentarmos na distância que medeia, por exemplo, entre o mito da cozedura de um único grão de arroz para alimentar toda uma família (O grão de arroz) e a narrativa anedótica O velho e a televisão; ou ainda nos quase cinco séculos que separam este último conto de O primeiro religioso em Timor - «há muito, muito tempo», no palácio da rainha de Lifau, em Oecusse —, tal como de Uma lenda de Timor, que narra as desventuradas aventuras de uma família “antes da vinda dos primeiros missionários para a ilha”, algures junto à fronteira com Atambua. -
A Rainha da Lua: contos e lendas de Oecusse, Timor-LesteDe entre as revoadas de pássaros de arribação que são as histórias de tradição oral, vieram habitar este livro sessenta e quatro contos e lendas timorenses. Foram recolhidos em Oecusse nos meses de Junho e Julho de 2017, das bocas e vozes de numerosos timorenses de várias idades e profissões. As histórias tradicionais que circulam no enclave, isolado do resto de Timor-Leste pelo mar e pela terra indonésia, deixam imediatamente antever como tem sido lugar de convergência de gentes e de povos, de línguas e culturas, essa tigela de terra timorense. Afinal, os contos viajam e não conhecem fronteiras, atravessam línguas, integram-nas. É assim que a história do lendário arqueiro chinês Hou-Yi e da mulher, a deusa lunar Cheng’e, refundida em A Rainha da Lua timorense, dá o seu nome a este livro de contos e lendas de Oecusse. -
Antologia da Literatura Timorense de Tradição Oral I - OecusseOecusse - enclave pertencente a Timor-Leste situado na parte ocidental da ilha é um dos treze municípios do país e o único que se encontra isolado, rodeado de território indonésio. Oecusse significa "bilha de água" (oe, "água" e Kusi, "bilha", pote. Semelhante a uma pequena tigela de terra, cozida pelo sol, terracota - do particípio passado latino cocta, que veio a ser cotta/coita, como em biscoito, "duas vezes cozido", para se conservar durante as longas viagens marítimas. Nesta antologia encontram-se reunidos contos, lendas e fábulas pertencentes à riquíssima literatura de tradição oral timorense. O trabalho de pesquisa e compilação é da responsabilidade de Anabela Leal de Barros, que também assina a introdução do livro. "Amanhã talvez seja tarde para reunir o valioso tesouro de lendas timorenses, filhas da imaginação de homens de outros tempos, anteriores àqueles em que a estas remotas praias aproaram as naus que traziam o fermento de profundas transformações..." Ezequiel Enes Pascoal in "A alma de Timor vista na sua fantasia"
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NovidadeA Revolução e o PRECO discurso oficial sobre o 25 de Abril de 1974 tem apresentado esta data como o momento fundador da democracia em Portugal. No entanto, a democracia apenas se pode considerar verdadeiramente instituída em 25 de Abril de 1976, com a entrada em vigor da actual Constituição. Até lá o país viveu sob tutela militar, que se caracterizou pela violação constante dos direitos fundamentais dos cidadãos, com prisões sem culpa formada, ausência de «habeas corpus», saneamento de funcionários, sequestro de empresários, e contestação de decisões judiciais. Em 1975, Portugal esteve à beira da guerra civil, o que só viria a ser travado em 25 de Novembro desse ano, uma data que hoje muitos se recusam a comemorar. Nesta obra pretendemos dar a conhecer o que efectivamente se passou nos dois anos que durou o processo revolucionário no nosso país, no intuito de contribuir para um verdadeiro debate sobre um período histórico muito próximo, mas que não é detalhadamente conhecido pelas gerações mais novas. -
As Causas do Atraso Português«Porque é Portugal hoje um país rico a nível mundial, mas pobre no contexto europeu? Quais são as causas e o contexto histórico do nosso atraso? Como chegámos aqui, e o que pode ser feito para melhorarmos a nossa situação? São estas as perguntas a que procuro responder neste livro. Quase todas as análises ao estado do país feitas na praça pública pecam por miopia: como desconhecem a profundidade histórica do atraso, fazem erros sistemáticos e anunciam diagnósticos inúteis, quando não prejudiciais. Quem discursa tem também frequentemente um marcado enviesamento político e não declara os seus conflitos de interesse. […] Na verdade, para refletirmos bem sobre presente e os futuros possíveis, temos de começar por compreender o nosso passado. Para que um futuro melhor seja possível, temos de considerar de forma ponderada os fatores que explicam – e os que não explicam – o atraso do país. Este livro tem esse objetivo.» -
NovidadeHistória dos GatosNuma série de cartas dirigidas à incógnita marquesa de B**, F.-A. Paradis e Moncrif (o espirituoso favorito da sociedade parisiense) faz uma defesa apaixonada dos amáveis felinos, munindo-se para isso de uma extrema erudição.Este divertido compêndio de anedotas, retratos, fábulas e mitos em torno dos gatos mostra que o nosso fascínio por estes animais tão dóceis quanto esquivos é uma constante ao longo da história da civilização e que não há, por isso, razão para a desconfiança que sobre eles recaía desde a Idade Média. Ou haverá? -
NovidadeA Indústria do HolocaustoNesta obra iconoclasta e polémica, Norman G. Finkelstein analisa a exploração da memória do holocausto nazi como arma ideológica, ao serviço de interesses políticos e económicos, pelas elites judaicas norte-americanas. A INDÚSTRIA DO HOLOCAUSTO (2000) traça a génese de uma imunidade que exime o Estado de Israel – um trunfo estratégico dos EUA depois da Guerra dos Seis Dias – de qualquer censura e lhe permite justificar expedientes ofensivos como legítima defesa. Este ensaio essencial sobre a instrumentalização e monopolização de uma tragédia – eclipsando outras vítimas do genocídio nazi – denuncia ainda a perturbadora questão do aproveitamento das compensações financeiras devidas aos sobreviventes. -
NovidadeRevolução Inacabada - O que Não Mudou com o 25 de AbrilO que não mudou com o 25 de Abril? Apesar de todas as conquistas de cinco décadas de democracia, há características na sociedade portuguesa que se mantêm quase inalteradas. Este livro investiga duas delas: o elitismo na política e o machismo na justiça. O recrutamento para a classe política dirigente praticamente não abrange pessoas não licenciadas e com contacto com a pobreza, e quase não há mobilidade do poder local para o poder nacional. No sistema judicial, a entrada das mulheres na magistratura e a mudança para leis mais progressistas não alteraram um padrão de baixas condenações por crimes sexuais, cometidos sobretudo contra mulheres. Cruzando factos e testemunhos, este é o retrato de um Portugal onde a revolução pela igualdade está ainda inacabada. -
NovidadePaxNo seu auge, o Império Romano era o Estado mais rico e formidável que o mundo já tinha visto. Estendendo-se da Escócia à Arábia, geria os destinos de cerca de um quarto da humanidade.Começando no ano em que quatro Césares governaram sucessivamente o Império, e terminando cerca de sete décadas depois, com a morte de Adriano, Pax: Guerra e Paz na Idade de Ouro de Roma revela-nos a história deslumbrante de Roma no apogeu do seu poder.Tom Holland, reconhecido historiador e autor, apresenta um retrato vivo e entusiasmante dessa era de desenvolvimento: a Pax Romana - da destruição de Jerusalém e Pompeia, passando pela construção do Coliseu e da Muralha de Adriano e pelas conquistas de Trajano. E demonstra, ao mesmo tempo, como a paz romana foi fruto de uma violência militar sem precedentes. -
NovidadeAntes do 25 de Abril: Era ProibidoJá imaginou viver num país onde:tem de possuir uma licença do Estado para usar um isqueiro?uma mulher, para viajar, precisa de autorização escrita do marido?as enfermeiras estão proibidas de casar?as saias das raparigas são medidas à entrada da escola, pois não se podem ver os joelhos?não pode ler o que lhe apetece, ouvir a música que quer, ou até dormitar num banco de jardim?Já nos esquecemos, mas, há 50 anos, feitos agora em Abril de 2024, tudo isto era proibido em Portugal. Tudo isto e muito mais, como dar um beijo na boca em público, um acto exibicionista atentatório da moral, punido com coima e cabeça rapada. E para os namorados que, num banco de jardim, não tivessem as mãozinhas onde deviam, havia as seguintes multas:1.º – Mão na mão: 2$502.º – Mão naquilo: 15$003.º – Aquilo na mão: 30$004.º – Aquilo naquilo: 50$005.º – Aquilo atrás daquilo: 100$006.º – Parágrafo único – Com a língua naquilo: 150$00 de multa, preso e fotografado. -
NovidadeBaviera TropicalCom o final da Segunda Guerra Mundial, o médico nazi Josef Mengele, conhecido mundialmente pelas suas cruéis experiências e por enviar milhares de pessoas para câmaras de gás nos campos de concentração em Auschwitz, foi fugitivo durante 34 anos, metade dos quais foram passados no Brasil. Mengele escapou à justiça, aos serviços secretos israelitas e aos caçadores de nazis até à sua morte, em 1979 na Bertioga. Foi no Brasil que Mengele criou a sua Baviera Tropical, um lugar onde podia falar alemão, manter as suas crenças, os seus amigos e uma conexão com a sua terra natal. Tudo isto foi apenas possível com a ajuda de um pequeno círculo de europeus expatriados, dispostos a ajudá-lo até ao fim. Baviera Tropical assenta numa investigação jornalística sobre o período de 18 anos em que o médico nazi se escondeu no Brasil. A partir de documentos com informação inédita do arquivo dos serviços secretos israelitas – a Mossad – e de diversas entrevistas com protagonistas da história, nomeadamente ao comandante da caça a Mengele no Brasil e à sua professora, Bettina Anton reconstitui o percurso de Mengele no Brasil, onde foi capaz de criar uma nova vida no país sob uma nova identidade, até à sua morte, sem ser descoberto. E a grande questão do livro: de que forma um criminoso de tamanha dimensão e os seus colaboradores conseguiram passar impunes?